Foto: Dan Meyers |
Existe algum segredo na cadência dos meus passos, do meu gingado tenro e resoluto; no meu olhar cristalino, sempre admirado, que transparece candura e algo de densa compreensão. Parece haver um diminuto fio invisível que me locomove e me impulsiona espontaneamente, esnobando a engenharia complexa na qual o mundo externo se desenha diante de mim. É uma presença quase inconsciente e intimamente discreta, pois me abrange e me abriga, e de algum modo, sutilmente, sinto-a.
É um empuxo que me põe a investigar e abraçar as nuances da vida, da natureza, das pessoas que me cercam, feito um processo de microscopia em que me atiça enxergar as substâncias belas – e invisíveis – ao meu olho nu. É um olhar de dentro, um olhar da alma, uma completa inteiração dos traços, das diferenças e características que tornam cada coisinha tão única. Eu capturo segundos e eternizo momentos, alimentando um relicário com ricas experiências, praticamente imperceptíveis para uns.
Eu não entendo muito bem como vou tateando pelos caminhos, tampouco compreendo esta força que me ampara e me põe diante de encontros especiais, como um novelo que se desdobra e vai se revelando – para mim –, ocasionando-me em tons de assombro. Sou refém de escolhas que ainda não captei bem e me custa conceber o propósito pelo qual me dispus ao encarnar nesta vida. Sinto-me um explorador, um viajante que se propôs a colher aprendizados, ingerindo desde o mais belo ao mais desprezível.
Eu persigo desejos e sonhos muito profundos, e não tenho mais muita convicção se um dia os realizarei. Mas são eles que me impõem a caminhar descalço para sentir a vibração do mundo, a apreciar o entardecer de um dia ensolarado, maravilhar-me com simplicidades, como um abraço acalentado ou com o sabor de um café feito com amor. Eu perscruto o amor, mas no fundo, ele que me espreita de longe, enfeitando e colorindo os meus caminhos, para que eu seja preenchido com um sentimento tão singular quanto inexplicável.
Aspas do Autor: A cada dia percebo mais a importância em viver, aproveitar a vida e todas as suas singulares e ricas experiências. Viver é sempre se surpreender.
5 comentários:
"Eu persigo desejos e sonhos muito profundos, e não tenho mais muita convicção se um dia os realizarei. Mas são eles que me impõem a caminhar descalço para sentir a vibração do mundo..."
Definiu demais o meu momento. Que a gente nunca deixe de caminhar.
"Eu não entendo muito bem como vou tateando pelos caminhos.."
É isso, Alê! Eu também não entendo muito bem, mas vou. E que bom que nessa ida, nossos caminhos se cruzaram e continuam se cruzado, bem ali, naquele poema que é também abraço e é também afeto e é também acolhimento.
Eu sempre amo quando você escreve!
Te abraço todos os dias!
Oieee,
Aqui sempre encontro sentimentos lindos e suaves. A leitura trás recordações de tantos anos... Você esta a cada dia melhor e eu fico feliz com isso.
Não vamos nos perder!
Feliz domingo, beijos
saudades também.
♥
Perfeito!
O importante é apreciar a jornada.
Amigo, nunca mais tinha lido nada seu, mas nunca mais tinha lido nada seu que fosse TÃO VOCÊ. Que bonito jeito de enxergar, caminhar. Que maravilhoso jeito de escrever o sentir. O último parágrafo me pegou muito. Essa vontade de trocar sentimentos singulares e inexplicáveis às vezes é muito urgente, sinto saudades de me encantar a esse ponto. Mas pelo lado bom, matei as saudades de me encantar por você. Continua, tá? Sempre.
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