A noite sibilava encanto. Um canto. Melodia. Era um mundo que exalava. Damas da noite em sintonia. Expelia pelo ar notas musicais. Ecoava amor. Sob a luz do luar a vida regia uma beleza jamais vista. Era mistério e nada menos. Era demais, puro enigma. Outro plano, outro universo. Outro mundo. Estava no paralelo aos reinos da doçura e da alegria; mas cruzava os do amor e da brandura. Um mundo residente na galáxia da alma, com um satélite de coração. Lugar distante, num inócuo existir. Um reino de sentir, de intenso e sorrir. Não havia nome, apenas existia. Um mundo sem fim. Infinito no ir.
Um habitante apenas. O maior de todos os segredos. Uma moça. A pura e estrita essência daquele mundo personificada numa mulher. E a essência era divina. O que a tornava a representação literal da beleza, o retrato de todas as belezas em uma. A beleza das belezas. A musa absoluta. A Eurídice de Orfeu; a Dulcinéia de Dom Quixote; a Roxane de Cyrano; a Isolda de Tristão; a Capitu de Bentinho; a Monalisa de Da Vinci; a Julieta de Romeu... Ela era o apogeu das aspirações, a imagem única de todas as musas. O homem que amava uma mulher, irremediavelmente a amava. Era inevitável.
Mas seu mundo era tão poeticamente infinito, que colidia no fim dos fins. Chegar a entrar nele requer muita destreza e obstinação. Acima de tudo sensibilidade, leveza e uma serenidade singela, infante. A chave para este adentrar era simples, mas intrincado; um detalhe, mas imensamente complexo: a permissão dela. Muitos padecem apenas ao se aproximar da órbita. Respirar o oxigênio do seu mundo requer um coração intenso, forte, porém simples, afável e manso, perfeitamente em sintonia com um amar pujante, doce e terno. E talvez um pouco de suavidade... Nem muito, nem tão pouco. Apenas o verdadeiro.
Porém, mesmo diante de tantos obstáculos, foi naquela noite. Noite em que o encanto sibilava em canto. Um cometa. Do nada. Rompeu a atmosfera. Adentrou de repente naquele mundo. Invasão ou permissão? Permissão. Atmosfera enfraquecida, chave encontrada, permissão concedida. Mesmo que inconsciente. A moça sabia. Um moço ali surgia. Sem eira nem beira, um transeunte do espaço sideral, um náufrago em seus próprios sentimentos. Mas um verdadeiro simplista no sentir. E por isso mesmo com grandeza. Levava no peito a leveza de um querer soberano, a inocência de um sorriso que ansiava e atraía. Na ponta dos dedos carregava a mais pura poesia. No coração circulava mel de amor, fabricado pelas melhores abelhas. Era um moço de singela apresentação, mas inteiramente autêntico.
Acordou diante uma noite de lua cheia. De beleza em sintonia, de melodia a ecoar. Um risco ou oportunidade? Quem vai imaginar? Ele percorreu o mundo, praticamente encantado. A moça o via, mas escondia seu maior segredo. Seus segredos. Um mundo aberto, mas mistérios espalhados. Tesouros trancafiados. Seus olhos? O maior de todos... Porque ela guardava o infinito neles. A formosura de todas as musas estava pintada nos seus olhos. Olhar ali era desaguar a alma numa constante sensação, numa infinita constatação; num amar eternamente... Por isso ela guardava seus olhos. Porque temia. A luz era magnífica. Imensa. Olhar de candura incomensurável.
O moço a encontrou várias vezes. Mas ela se escondia. Eles conversavam algumas vezes, mas ela não se revelava por completo. Muito menos mostrava os olhos. O moço não entendia. Ela consentia. O mistério rondava aquele mundo. Ela. O moço era certo disso. A moça de encanto mágico o instigava. Ela seduzia sem querer. Singelo e natural. O coração do moço se estimulava. O mundo dela, ele esmiuçava. E assim descobriu alguns segredos. Isso significou conhece-la mais a fundo. Significou respeitar e compreender o que se estende ao longo daquele universo que reluzia em enigmas. E isto o cativou.
Eles se viam e riam. Ele roubava risos dela. Ela furtava magia dele. Havia um desenlaçar naqueles encontros. Medo esvaia. Insegurança que exauria pelas veredas da dor. Num desses embates sublimes, ela cometeu um deslize. Seus cabelos escaparam seus olhos. Seu olhar. Ele a fitou. Apaixonou. Emudeceu. Coração encantou. Encanto nasceu. Firmou, no horizonte do âmago, a paisagem de um amor. Reluziram no espaço cometas de indelével sabor. Ela percebeu. Lágrima surgiu. Um símbolo do temor. Fugiu para se preservar.
O moço paralisou de emoção. Quis persegui-la, mas não conseguia. Após um tempo começou a procura-la. A gritá-la. Mas ela esvaneceu. Ele amava. Viu nos olhos dela o infinito de um amor. Um oceano castanho que colidia com um céu esplendoroso. Um céu infinito. Ele não sabia dizer o que sentia e percebia. O olhar dela guardava o infinito. Eram olhos de infinito. Cabiam neles sentimentos infindos. Tão intermináveis que foram morar nos olhos do moço. A imagem dela se tornou pintura nos seus olhos. Inapagável existir.
Ela surgiu após um tempo. Não escondia mais os olhos. Fitava o moço com um carinho especial. Mas ainda era mistério. Falava pouco. Mas ria docemente, às vezes. Brilhava. Os olhos dele respondiam. Encanto surgira. Ela temia. Ou queria? Ela se perdia... A beleza estava instável, à deriva. Foi consumida. Ela não sabia. Desconhecia. O moço era emoção. Mas sentia o medo nas mãos. Foi consumido, impregnado pela essência da moça. Não se falavam, mas diziam tudo. Um ao outro. Ele se perdia. Queria. Amava. Sorria. Encantava. Mas não dizia.
Ela despediu. Ele chorou. Pingos de chuva caíram do céu. Salgadas. No oceano ela se jogou. Foi-se. Encontrar-se? Quem sabe? Ele a seguiu. Ao olhar no mar, ele a viu. Os olhos da moça ali, refletidos. Maestria doce e solene. Ele a amava. E ela? O amava? O amaria? Ele nunca iria saber. Afundou-se naqueles olhos, naquele mar de castanho abundante... Morreu nas águas dela. No olhar infindo... Nos seus olhos infinitos.
Aspas do Autor: Eu procuro estes olhos... Este olhar...
19 comentários:
Olhares são tão.. incríveis. Que texto maravilhoso, Alexandre. Sempre que vejo algo falando de olhares lembro de Modigliani. Não sei se você já viu o filme que fala sobre a vida dele.. Ele sempre pintava a amada sem os olhos.. Um dia ela perguntou porque, e ele respondeu: Quando conhecer sua alma, pintarei seus olhos. Achei isso brilhante! É muito mais que dizer que os olhos são a janela da alma.. É clichê, mas eles realmente são!
Beijos
post incrível! olhos que expressam tanto...
beijo,
=*
Oi Alexandre,
Um lindo e cativante texto.
A poesia dos teus olhos
é a poesia mais linda
... e mais colorida.
Tem métrica, tem rima,
tem a sonoridade da música
mais suave da vida.
Teus olhos encantam
e vibram como início de sonho.
Teus olhos dizem doçura,
um mel mais do que doce,
... e mais perfumado.
A poesia que brilha em teus olhos
tem luzes intensas,
é alegria espargindo sorrisos,
... coloridamente felizes.
Teus olhos encantam,
teus olhos seduzem,
teus olhos fascinam.
São dádivas do Amor!
Um beijo com carinho
Oi Alexandre
Estou voltando, saudades
Beijo meu
lindo texto.
Alexandre ,gostei muito das palavras deixadas por lá..
Obrigada.
Aí Alexandre assim você deixa qualquer um sem palavras, pois você escreveu um texto rico de emoções, quem não queria se perder em um olhar infinito e ver toda sua vida mergulhar num oceano de amor eterno.
Parabéns desta vez você se superou realmente, pois escrevestes com um toque de doçura e mistério. Beijos, sim não lembro se já te mandei o link do meu novo blog, mais de qualquer forma aí vai o link, Assuntos sérios: http://luzia2012.blogspot.com/
Ahh...os olhares!
Coisa linda de texto viu? =)
Alexandre,Querido amigo...eu não pude deixar de vir agradecer tuas belas e doces palavras no meu cantinho,me confortou tanto ler tuas palavras,todos os dias tenho entrado no blog por pelo menos uns 5 minutinhos,e é sempre muito bom saber que recebemos carinhos assim nesse espaço virtual.
Queria saber se você já criou algum texto de luto(ou com relação a isso) se sim,quero saber se pode me autorizar a usar dele,tal como criei aquele vídeo com teu outro texto,se não tiver... seria pedir muito para criar quando não disponível estiver?(pouco folgada?)rs
Ficaria super grata de qualquer modo!
Um beijo,e obrigada mais uma vez!
Fique com Deus.
"quando disponível estiver?"rs
Olhares são tudo né? Eu sempre escrevo meus textos e imagino olhos e olhos e olhos! KKKKKKK AMO *-*
Awn, que saudades daqui viu?
Eu mais uma vez tentando voltar pro blog com meus textos pobrinhos, mas estou dando graças que eu ainda consigo criar alguma coisa O.O KKK
Senti sua falta Ale! Falta de tudo aqui. Beijinhos s2
Olá ALF!Os olhos são o espelho da alma diante de um ohlar sicero nada mias precisa ser dito,as palavras se tornam inúteis.
Beijosss
Na imensidão de um olhar.. nem são necessárias palavras.. são olhos de luz, são incríveis.. são simplesmente olhares.
Alê, sumi não foi? rsrs...
Mas não esqueci de ti não.. precisa falar que continua surpreendendo?
Abraço amigo! Tudo de bom...
Não tenho o que falar diante das suteis palavras impregnadas em cada linha do seu texto. O que posso dizer, é parabéns! Que a cada dia o seu amor contido nas palavras seja repleto de grandes inspirações.
Abraço!
Boa semana!
Moço, não deixei você não.
Acontece que ando ocupadíssima (acabei de arranjar emprego) e não sei como exatamente vou fazer para atualizar o blog. Mas sempre estarei aqui, presente, te visitando.
Sim: aguarde que, em breve, mandarei carta e publicarei seu lindo poema lá no Sobre Fatalismos.
Estás feliz? Qual o motivo? Quero saber, ah, se quero!
Te adoro muito mesmo, viu?
Beijão.
Ainda não tinha visto ninguém descrever um olhar tão intensamente como você o fez nesse texto.
O interessane é gosto de mistério que fica no ar infinitamente.
Um abraço.
Sabe?, olhos 'grandes' assim eu costumo chamar de olhos de abismos.
Intimidantes, apaixonantes.
:**
Quanto tempo que não passo por aqui, perder-me nessas palavras doces e intensas... incrível, volto para ler mais...
Sou apaixonada pelo OLHAR
Ele tudo vê, tudo revela!
Belo meu querido!
Bjos e bom fds
=D
Sou apaixonada pelo OLHAR
Ele tudo vê, tudo revela!
Belo meu querido!
Bjos e bom fds
=D
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