A madrugada

26 de novembro de 2011




A madrugada limpa o meu semblante
Refaz o roteiro dos meus sentimentos
E alinha os meus pensamentos
Que voam distante

A madrugada me consola e conforta
Colorindo em tons de esperança
Os sonhos que permeiam a alma
Que ecoa amor, em melodia mansa

A madrugada renova meu coração
E costura novas peles em mim
Trazendo completude e serenidade
Que estribilha, num contentamento sem fim

A madrugada surrupia meus encantos
E traz de volta, em retalhos singelos de paz
O brilho do meu recanto
Que reluz em amor, puro acalanto

A madrugada refaz meus passos
E clareia os caminhos novamente
Nos momentos em que estou perdido
Põe-me no rumo, na linha do presente

A madrugada me atenta ao que é real
Mostra sem segredos, o que no peito declamo
Para acalmar, basta então que eu apenas sinta,
Sem temores e sem mistérios, o que e quem eu amo.

-
Porque é irrefutável. Eu a amo.





Aspas do Autor: Adoro o silêncio da madrugada, porque ela traz uma magia aconchegante à minha alma. É nessas horas que converso comigo e me sei melhor. O íntimo e os sentimentos se colocam nos seus lugares, porque me acalmo e foco as batidas do coração no que realmente importa. Alinho os pensamentos desregulados, amenizo qualquer ansiedade tola, as dores desnecessárias e então fico leve, me exijo menos. A poesia revigora nos dedos. As letras fluem em amor puro. O autêntico se acentua e me traz mais confiança, mais fé. Permito-me então, seguir o curso, de maneira mais natural e espontânea. Porque amo. E o amor conduz as coisas com sabedoria. 

Enlace de prazer

19 de novembro de 2011



Foi num passo curto que ela se aproximou. Na sutileza, ecoava uma aguda sensibilidade e sensualidade. Meus olhos miraram os seus. Houve um tremor oco de magia, em que pude sentir a ferocidade por trás dos seus olhos. Sua alma urgia em ânsia. Senti seu cheiro impregnar os poros mais profundos da minha pele. Sem querer, me vi envolvido naquela sedução infante, onde sua fragrância laçava meus impulsos, meus desejos mais lascivos e impetuosos. Os dedos dela começaram a dançar lentamente em mim. Uma dança que latejava a força penetrante de um enlace que nascia por meio de diálogos mudos.

Meu corpo soluçava a ardência do desejo de apossar o corpo dele. Eu segurei meus ímpetos como fui capaz, enquanto minha pele suava o latejar febril do meu querer. O calor interno era latente. O êxtase e o calor dominavam meu âmago, revolvia as entranhas com uma sede secular. Eu percebia a surpresa em seus olhos. Mas tinha uma respiração quente. O coração parecia hesitar diante da minha sutil aproximação. Ele queria. Eu o queria muito mais. Minha alma explodia como um vulcão em erupção. Deslizei meus dedos suaves pela sua pele ardente. E lá dentro de mim ardeu a pura fartura do prazer.

Ela arfava como uma fêmea no cio. Sua pele parecia arder em chamas. Eu percebia uma implosão de cobiça abraçando cada pedacinho do seu corpo. Era bela, mas por dentro uma fera. Deslizava pelo meu corpo como se o fosse familiar. Ressoava com seus dedos uma melodia silenciosa, que escondia na mudez os ritmos ensandecidos de um amor que lhe apetecia há séculos. Tingia seu encanto desnudo em pedaços inteiros de uma vontade que incidia em fagulhas libidinosas e explícitas de um coração que inflamava em paixão. Eu fiquei perdido em seus toques. Permaneci entorpecido pela sua aspiração majestosa. Em algum momento ela atracou seu manto feminino em mim. Com força. Ardi embriagado pelo seu cheiro de mulher...

Perdi-me nas carícias. Quando já nem suportava mais, meu corpo desfaleceu num gozo que culminou o despertar pleno dos meus sentidos mais insanos. Num súbito vociferei meus instintos íntimos sob aquela pela cheirosa de homem. Meu corpo chovia em deleite. O pulsar era rápido e intermitente. A ardência falava por mim. Eu parecia uma loba devorando seu alimento. Eu o absorvia por todos os lados; a minha fome lhe abocanhava com total despudor. Intumescia sua pele com o líquido sedutor da minha língua. Suas mãos corriam soltas e firmes pelo meu território vulgar, como que delineando em pingos de suor a soberania de um querer intenso. Era o encontro da chave com a fechadura. Ele me abriu toda. Desfaleci na sua mansidão sensual, que soube destrancar o mel que jazia escondido no meu jardim secreto.

Senti o seu ritmo. O íntimo palpitava em prazeres explícitos. Seu apetite era voraz. Contorci-me na sua pele que se derretia despudoradamente no meu recanto. Eu nutria sua fome enlouquecida. Fui degustado em tons agudos. E abocanhei-a em movimentos absurdos. Fui encharcado com seu mel puro de amor. Então a lacei com meus dedos que estavam incinerados com o seu sabor inebriante. Encaixei-me, conectei-me àquela mulher de uma forma profunda. Mapeei seu mundo e atravessei as fronteiras que me separavam do seu tesouro, dos seus segredos mais voluptuosos. Abri sua caixinha tão bem protegida e me entorpeci na sua selvageria amorosa.

Doei-me então por inteiro, a ele que contorcia sua pele masculina na minha brasa feminina. O enlouqueci, despertei-lhe o delírio em holofotes de pura sedução. Derreti seu mundo com o meu ácido tórrido de amor. Ali mesmo, nos enlaçamos totalmente, nos contraímos em um insaciável amor alucinado.

Nossos corpos se roçavam em uma sintonia fulgurante. O prazer ficava em alto relevo, expurgando seus pingos de encanto pelos pedaços mais mundanos do nosso encaixe. Percorremos em absoluta demasia, os caminhos mais bonitos de um autêntico enlace de prazer. Numa sincronia absurda...

Até o ápice.
Até o ápice.

Aspas do Autor:  Vou confessar que é raro eu escrever assim. Aliás, é raro eu publicar textos desta ousadia. Muito porque sou criterioso e muito seletivo nas temáticas abordadas aqui no blog. Em termos práticos posso dizer que sigo uma linha editorial, por assim dizer. O doce, o romântico, o singelo, são bonitos, claro, mas uma vez ou outra, delinear sentimentos de maneira diferente, provocante e ousada é sempre bom. Quanto ao texto, é importante observar que o enlace aconteceu numa sexta. Pode parecer um detalhe irrelevante, mas não é. Sextas foram feitas para "pecar"...(risos)  E por enquanto é só um conto... (risos)

Aos quatro cantos da alma

12 de novembro de 2011




O que se acentua na alma por vezes pode arder tanto quanto qualquer chama. Porque essa ardência é a pior, acua o coração, golpeia agonia aos quatro cantos da alma. É uma ferida que pode maltratar mais do que qualquer corte de faca. As dores se fragmentam pelo nosso íntimo e nos laça a ponto de ater o ser num duelo de lágrimas e sangue. Ficamos à margem de nós mesmos, como espectadores da latência que perpetra pelos milímetros do âmago.

Há um enlace de tortura, que incita sentimentos doloridos ou expurgados a persistirem ainda, corrompendo as plumas de esperança que estreitam pelas arestas da gente a fim de trazer luz e encanto novamente ao nosso salão interior. O embate é algo que nos enfraquece, que traz tristeza, por conta do peso que isso nos causa. É um aniquilamento que nos deixa no chão. Principalmente quando estamos próximos de um novo dia. Sentimos o sol já despontar, mas o obscuro da sombra ainda nos abraça.

Existem sentimentos que ainda vivem no profundo, como um vírus que não foi curado pelos anticorpos. Há muito que não queremos sentir, mas ainda mora. Muita dor que precisa curar, mas ainda insiste. Entretanto, isto tudo faz parte. A construção se faz por aí. Toda essa cruzada interior é uma reação natural. Não há um ser humano que não sinta esta luta interna; não viva estas colisões que deixam a alma refém. O combate é necessário. Porque são nestes duelos que pintamos o caminho, que colhemos os aprendizados capazes de edificar a nossa alma e fortificar nossas defesas.

A questão central é sempre a nossa atitude em frente a estas consequências em viver e sentir. Não dá para simplesmente fugir ou mesmo fingir que não há algo ali cutucando com ponta afiada a gente. É ilusão pensar que há um caminho fácil. Pois não há. Além do mais, isto é muito relativo, porque cada um reage de uma maneira diferente, mesmo as dificuldades sendo semelhantes a todos. É imprescindível que aceitemos o que nos envolve. O primeiro passo é saber nossos limites e detectar estes excessos ou desequilíbrios que nos causam dor. Depois é procurar saná-los.

É preciso acima de tudo sentir na plenitude. Guardar dor é como encher gradativamente um balão até estourar. Antes uma noite inteira de choro a um ano de lágrimas contidas. Remoer a dor no íntimo é como afiar o fio de uma faca no coração. A alma lateja lentamente a dor lancinante da nossa inoperância. Deixar a dor escoar é importante. Libertar o que nos aflige. É imperativo que sintamos a dor, para ela aos poucos esvair de vez. É como desatar o que prende a alma em nós. Contudo, é bom destacar que este ato pode ser uma via de duas mãos. Se neste ato de sentir a dor formos fracos, a dor não esvai e ainda cresce. Adoecemos então.

No momento em que temos o controle da situação, as dores se vão, mais dia ou menos dia. Porém, se nos tornamos reféns delas, não somente desenvolvem-se como perduram pelo tempo que for. E isso nos mata a ponto de nem notarmos a vida passar. Portanto, que sintamos as dores que se acentuam pelos quatro cantos, para que elas dissipem, mas sem que as mesmas nos comandem ou nos coloque no colo. Porque renovar é isso, nos despedirmos do que nos aflige e nos cobre com um manto de sombra, para darmos boas vindas às belezas que se espreitam adiante. Como talvez a felicidade embrulhada nos braços de um amor...





Aspas do Autor: O ser humano e suas batalhas. O que causa dor é justamente esta incompreensão a cerca destas lutas e tudo que nos preenche sem ter definição plausível. Porque é maior que nós. A vida nos deposita às vezes sensações que transbordam, e estão além. Permanecem e nos afoga. E consequentemente nos traz um aniquilamente doloroso. A questão é buscar saná-las. E é aí que mora a grande aventura em aprender. Em amadurecer. Aí consequentemente, o momento de transição das estações chega. É inverno dando lugar à primavera. Por isso que vou ali me despedir de umas dores. Quero poder dar boas vindas à beleza que me busca.

Reflexo

5 de novembro de 2011



 
Porque eu te vejo...

 
O que me aponta? O que indica este rumo do qual sou capaz de enxergar? O que me orienta e me permite captar os mínimos detalhes que se espalham pelo teu mundo, escondidos e codificados? O que me faz transpor este mistério que abrange o teu coração com retalhos concretos e com baús trancados de desejos, de sonhos e necessidades? Há algo? Alguns? Muitos motivos. Há inúmeras razões que transparecem o meu olhar, e me dão a permissão de vislumbrar os tons da tua alma, as cores exatas que formam a tua linda pintura. É difícil definir de forma plausível esta habilidade que tenho em trespassar os muros que te protegem. Mas quando olho no espelho e vejo o teu reflexo, encontro a resposta.

Sabe o que mais me fascina em tu? Percebo-te multifacetada. Tu não és óbvia. És tanto em pouco; muitas em uma; menina em mulher; mistério em revelações. Porém, és singular por ter esta característica. Tu pareces mutável, consegues ser sempre autêntica, mas sempre de maneiras distintas. Você sempre expõe ângulos diferentes, e todos encantam por te definirem intrinsecamente. É difícil dizer bem o que percebo, mas é como se um mistério te envolvesse. É muito também do que encontro nas tuas letras. És enigmática. Mas não indecifrável. Você instiga. Não pelo que és, mas pelo o que posso conhecer de ti. Saber teu coração não parece ser uma arte para muitos. É para raros e sensíveis.

És peculiar e tem algo que destoa e te faz única, no jeito de ser, agir e pensar. Eu não sei bem dizer. É simplesmente isto que sinto ao pensar em ti e ao te ver. Não é apenas diferente, mas destacada por um elemento primordial que não tem definição plausível. Você não tem lógica, e ao mesmo tempo faz muito sentido no modo em que sentes e torna tua alma colorida e intensa. Você instiga mesmo o meu profundo humano. Você é emblemática. E por algum motivo inexplicável, isto me atrai, fascina, me encanta e seduz. A curiosidade é impulsionada por uma vontade sublime que se ancora no peito, uma atração mágica que me faz te perseguir, para te saber.

Você é a própria completude. Leva no peito a sutileza, porém intensa, vontade de agradar o coração. Extravasa pelos pés, deixando marcas da tua imensidão amorosa pelos chãos. És menina sobre brasas de mulher, exalando na plenitude o aroma da sinceridade, da tua total transparência em ser; lasciva e impulsiva; sutil e doce; apaixonante e iminentemente cruel. Você sopra com os olhos a ternura calorosa do teu coração. Evidencia a força da paixão num modo felina de ser. Enxerga com a boca a intensa volúpia com que a alma se deleita e se faz amada e sentida. Você expira da pele um aroma hipnótico, presente apenas em poucas pessoas: o aroma da autenticidade. Sonha e tem expectativas desenhadas em plumas. És complexa, mas simples; fera e gata manhosa; és “deusa com ar de menina”. Tens medo e força; tem garra e tem um jeitinho faceiro.

És uma pessoa que embute sorrisos, dispersa olhares em recantos de mistérios. Tu tens o dom de ecoar das mãos a sensualidade que te preenche com singeleza. Expele prazeres e silêncios ao colo da lua cheia em ímpetos de pureza; e se encontra no inteiro, no gravitacional que suga e dispersa tua alma em retalhos de sonhos a serem realizados. Convive com milhões de almas dentro de si, travessas e alegres; amantes e inocentes. De olhar intenso, caminha nua por rotas luminosas, envolvida por completo pela vida, lançando o teu encanto secular dos poros. Não é alguém presa a definições, mas reside em todas.

Você é tão você. E isto é que importa. Tua distinção é que te faz ser especial. Embora essa diferença não seja sua maior característica, mas sim as tuas faces advindas desta nobreza que te envolve. São os teus múltiplos feitios que te fazem única. Essa tua capacidade de ser uma mulher com trejeitos infantes. Só você conhece teus limites e os sonhos que pode alcançar ou ansiar. Só você pode manter esta fé na realização das alegrias; em voar e poder sentir; na paz em amar. Sabes bem o significado de ser verdadeira, de poder expressar a vida na melhor forma, de sentir tudo com a abundância natural de quem se entrega plenamente nos seus sonhos e busca ininterruptamente encontrar meios para provar a razão. De ser. De ter. De viver. De amar. De ser o que és. Sem um grão de mentira. E com uma liberdade abundante.

Vislumbro teu reflexo em mim e consigo te perceber a fundo. Fito meus olhos constantemente em ti, com a sincera vontade de entender sempre mais, dia após dia, o teu interior, o salão escarlate do teu coração, àquele em que a sua canção toca a solene poesia da tua formosura. Quero ancorar os olhos no versar da tua imensidão. Há o sincero e profundo desejo em desembaraçar as vestes que cobrem teus segredos; em destrancar as portas dos sentimentos cativos, dos tesouros escondidos e que definem tua essência; dos teus atrativos não palpáveis. É “por debaixo da cabana da tua alma” que irei enfim encontra-la de verdade, e te perceber plena com mais tato e cuidado. Para quem sabe assim poder te dar o que tanto você procura e sonha com o requinte do qual tens merecimento.

Não sei muito ainda, mas o pouco que te sei é suficiente para delinear teu íntimo com detalhes até então pouco explorados. Porém é impossível esboçar tua verdadeira pintura nas palavras. Tudo o que escrevo é apenas uma aproximação do pouco que tua presença reflete em mim. O que é abundante do teu mundo não tem definição. Só dá pra alcançar se sentir. E eu sinto. Eu a pressinto, perfeitamente. Numa harmonia branda a bradar pelo peito. E palavra nenhuma chega a uma fração de um grão da verdade da tua alma... Só o coração se aproxima. E é no momento em que o meu encontra o seu em que tudo se define, inteiramente. Sem que seja preciso palavras, mas apenas um enlace mudo de sentimentos que proporcionam um entendimento soberano... O reflexo de um no outro. A sintonia perfeita de dois corações que se espelham.


Aspas do Autor: Porque espelhos dizem muito... de nós!