Na corda bamba

18 de outubro de 2014

Ilustração: Roberto Weigand


Um deslize e escorregamos, tombamos da tênue corda onde nossa diminuta alma caminha. A cada choque com o chão, estilhaços [de nós] saem como fugitivos amedrontados. Diante de tantas testemunhas, o impacto no solo não é só doloroso, mas vergonhoso. Não há meios de voltar sem sequelas, sem afetação, sem que sintamos desconforto. O retorno se dá com treino adequado e intenso. Apenas com muita disciplina encontramos o ritmo e a sintonia do equilíbrio.

Não nos é permitido vantagem, sequer uma moleza que nos encaminhe ligeiro ao organismo das lições, menos ainda algum suporte diante das fraquezas, de nossas falhas repentinas. O espetáculo segue ininterrupto e a plateia não suporta pausas, a programação não se altera e nada se adequa às nossas limitações, tampouco há reestruturação na estrutura do palco. Quando na corda bamba, estamos apenas sobre nossas próprias forças.

Andamos sobre corda bamba o tempo todo e o processo de aprendizado é longo, as quedas são inúmeras, principalmente as lesões. Algumas dores ecoam profundo, atingem tecidos internos da alma, a engenharia íntima dos nossos sonhos sofrem fissuras, em efeito à realidade da superfície tão dura. O caminho para a tranquila passagem sobre os fios poéticos da vida é antecedido por muita reflexão, por embates que põe nossa consciência diante dela mesma, quando os limites espelham-se em si e percebemos as rotas para melhor ser. 

Cair traz o choro cristalino do discernimento. Aprender é olhar para dentro, é extrair dos olhos o alcance que cada espetáculo nos exige. Crescer é saber adentrar o pequeno confinamento onde ficam nossas esperanças desenhadas e residem as capacidades a serem aprimoradas, as pedras brutas a serem lapidadas. Por mais que certas condições frustrem, nos coloque solitários diante dos desafios e do mundo, apenas nos tornamos humanos ao persistir no equilíbrio, nessa tensão que é estar sobre a corda bamba em que a vida nos põe. 

Escorregar da corda é condição inseparável ao aprendizado, e por mais que, como fuga, estar no chão seja cômodo às vezes, subir de novo na corda em busca de equilíbrio, a despeito de qualquer balanço assustador ou baque doído que possamos sofrer, é imensamente gratificante.



Aspas do Autor: Essas palavras nasceram após eu despencar bruscamente da corda... Mas, sigamos em frente.

13 comentários:

Wendel Valadares disse...

Amigo, dá a mão aqui que eu te ajudo a levantar.

A gente segue assim, um levantando o outro.

Um abraço.

Nina disse...

Estou muito alheia a tudo, mas ainda encontro tempo de me dedicar aos amigos. Tenho percebido que você não anda muito legal nos últimos tempos. E preciso saber se vai bem ou não. A vida é uma corda-bamba e estamos sempre no meio dela. Venha conversar comigo, quando achar possível.
Beijos.

Blog Love In Red disse...

Estamos em profunda guerra, seja interior, ou com a nossa vida. Devemos acreditar sempre... olhar pra frente, sorrir, e seguir...

Saudade Lê, fique com Deus.
♥ http://pamellaferracini.blogspot.com.br ♥

Renato Almeida disse...

Muito lindo o texto.
Definiu muito bem as fases da vida, o ato de cair e ter ajuda, força, enfim para se reerguer.
Até mais. http://realidadecaotica.blogspot.com.br/

Olyvier disse...

É realmente isso Alexandre, podemos perder o equilíbrio da corda e nos machucarmos, mas tudo isso faz parte da vida, os erros nos tornam uma pessoa melhor e mais prevenida, e saber levantar de cabeça erguida e poder recomeçar tudo de novo é uma sensação bem melhor hahah.

Abraços, Guilherme
http://omeu-diva.blogspot.com

Nanda Torres disse...

Alexandre, eu estou buscando esse equilíbrio, diríamos que estou num enorme conflito interno haha, mas devagarinho tudo se ajeita!
Obrigada pela visita de sempre :)

Tenha um lindo dia :)
Nanda.

http://lladodedentro.blogspot.com.br/

B. disse...

A vida é realmente um equilíbrio. É preciso ter jogo de cintura para lidar com toda essa ambivalência. Mas a frustração é necessária, mesmo que dolorida, pois temos que crescer progressivamente.
Eu sempre gostei dessa metáfora da corda bamba e você abordou-a de uma forma singular, com palavras fortes que nos provoca reflexões profundas.
Estava com saudades de te ler.

Carol Russo S disse...

A vida é assim, Alexandre! Precisamos sempre mediar o equilíbrio para conseguirmos controlar o que fazemos de certo ou errado. E os tombos se transformam em lições.

Bird disse...

por mais que acredite que os baques nos deixem mais fortes e resistentes, sou covarde e prefiro não subir na corda bamba de novo. ou mesmo, demoro para tomar coragem e tentar novamente. {Emilie Escreve}

Mari Mari disse...

Despencar da corda é quase uma rotina pra mim. rs
Adorei o texto, como sempre.
Me lembrou aquele livro infanto-juvenil, "A corda Bamba", conhece? Não lembro direito da história do livro, mas lembro de ter achado muito bom.

Bandys disse...

Oi Ale,
Eu penso que o primeiro tombo agente nunca esquece.
è igual ao primeiro beijo, ao primeiro namorado... Sempre estará na lembrança.
Agora conforme a vida vai ensinando os tombos passam a ser "normais".
E cada um com um aprendizado diferente. O equilibrio ou amadurecimento vem aos poucos. Assim é a vida. E se não fosse assim não teria a menor graça.
Fique atento, quando cair jogue um travesseiro antes a dor com certeza é amortecida.
beijos

Ariana Coimbra disse...

Quando conseguimos o equilíbrio não fica tão difícil conseguir as outras coisas na vida.
Belo texto!

Beijo

A.C. disse...

Sair da zona de conforto é sempre a melhor coisa a se fazer, por mais que às vezes a gente se depare com situações onde amaldiçoamos nossa coragem por ter subido na corda bamba, isso torna-se sempre uma experiência, uma forma de saber se equilibrar sem cair de novo pela mesma situação.
Muito bom o texto!
Abraços!

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