Compreendendo o ser humano

10 de novembro de 2012




Às vezes é difícil entender uma pessoa. E ficamos a nos indagar, a buscar incessantemente meios para compreender um pouco os contornos alheios. Mas o escuro corredor humano se torna intransponível quanto mais tentamos adentrá-lo à força. Quanto mais ansiamos entender, mais denso se torna o caminho, mais distante ficamos do pouco a ser desvelado. A gente começa a entender no momento em que aceitamos não perceber; ao insinuarmos os olhos para outra direção, a do coração.

Não é preciso esforço pra entender ninguém. Entender, nada tem a ver com esforço, mas com sensibilidade. É um desbravar sutil permitido pelos olhos da alma. É algo que exige mansidão, uma exímia doçura e leveza nos gestos. Entender é uma ação que se sobressai na pura espontaneidade de corações que se simpatizam, ou no encontro natural de dois olhos cúmplices. Talvez seja necessário apuro e paciência, um escutar aguçado, uma atenção cheia de lisura, mas jamais uma vontade estrita.

Não é preciso empenho, como se entender residisse no ato bruto de abater um muro, de o quebrá-lo com as mãos nuas e famintas pela humanidade íntima que se encontra do outro lado. Entender alguém está mais relacionado ao adormecer, ao recostar da mente no seio macio do travesseiro que seduz nosso sono. É na renuncia externa, no simples descanso, na esmera forma de entranhar a alma que o sonho acontece e o entendimento cintila, perpetuando-se solene e sutil dentro de nós. A compreensão é um sonho que se vislumbra na mente quando menos esperamos. É algo que acontece e não se força a nascer.

Para entender é preciso primeiramente não querer, mas sentir, se enlaçar no rastro que a pessoa deixa pelo ar, no segredo que ela deixa implícito no semblante, nos gestos que se acentuam, pela legítima maneira de se expressar, de se mostrar humano. Não é preciso afinco desesperado, mas um zelo dócil possível de se exprimir num sorriso que abraça em plena ternura. Compreender o ser humano é permitir-se esquecer de que anseia entender e se deixar incendiar pelo amor e respeito. E isso nos permite encontrar, espontaneamente, o prumo certo do íntimo de cada um.

Respeitar as condições alheias, as diferenças que a alma da pessoa denota é o primeiro passo para descobri-la, para inteirá-la; é olhá-la como se olhássemos para nós mesmos, como se a vida dela fosse a nossa. A compreensão escapole quando tentamos analisar. A alma humana é arredia, e se torna arisca quando tentamos amarrá-la e delineá-la. Só se aproxima dela se afastando ou ficando à margem. O entendimento chega abraçando e nunca é abraçado. É a alma da pessoa que dá boas vindas e convida-nos a adentrar no seu salão.

Entender o ser humano é um pouco igual ao que faz um psicólogo, alguém que não deseja cruamente analisar, mas se propõe somente a sentir, a ouvir, a adormecer no colo da pessoa e a sonhar junto com ela. Ele se interage dentro da outra alma sem invadi-la, sem concretamente se aproximar, apenas se extrai e se preenche em si para que o outro lhe encontre naturalmente, permitindo, nesta sutileza, uma afetuosa cumplicidade surgir, um laço se formar com fluência, sem uma mínima coação.

Não é difícil entender ninguém, quando nos conformamos que isso não é algo que se impetra na busca, mas na espera despretensiosa, na delicadeza em sentir, em se compenetrar na personalidade rica do outro; na livre condição em que a deixamos; na confortável companhia que oferecemos e na sintonia que se cria nesta troca cúmplice, que nasce por si só, como uma intervenção furtiva do destino...


Aspas do Autor: Entender as pessoas parece uma coisa realmente complexa, mas repetindo o que falo no texto, a harmonia com a alma alheia simplesmente se faz sem que se force isso, sem o desejo de entender... Ela brota, nasce do respeito, primeiramente... Enfim, este texto é apenas uma maneira particular de pensar. Não me utilizo de fontes científicas, estudos sobre as relações humanas, muito menos tenho pretensão de torná-la uma coisa totalmente certa ou absoluta, por isso. Até porque não é minha intenção. Foge do intuito do meu blog, que é apenas delinear sentimentos. É apenas uma percepção que meu coração nutre. Um ângulo visto com os olhos internos. São letras escritas  pela alma... A fonte dos meus argumentos é a sensibilidade e a humanidade que tenho adquirido ao longo dos anos no meu modo de olhar as pessoas e nas relações que cultivo...  Por isso, é um texto pra ser lido com mente aberta. Abraços!

8 comentários:

Luzia Medeiros disse...

Penso que só entendemos o outro, o que se passa principalmente no coração, quando abrimos a nossa mente, ficando assim, livres de qualquer preconceito.

Todos nós pensamos de maneira diferente, por isso, temos que aceita o outro do jeito que ele é e não do jeito que queríamos que fosse.

Mas, confesso que as vezes não consigo compreender a mim mesma. Rs.

Gostei muito do texto.

Beijos na serenidade do teu coração.

Maíra Cunha disse...

Por isso admiro tanto os psicólogos, imagina que delicioso embarcar na mente humana, escutar e sentir as coisas deste ser tão complexo, somos tão iguais e ao mesmo tempo tão diferentes, eu disse que somos seres complexos!

http://fazdecontatxt.blogspot.com.br

Flor de Lótus disse...

Oi,Alê!Desculpa o sumiço.As coisas andam bem corridas por aqui.Entender e aceitar o ser humano não é uma tarefa fácil, requer tempo e paciência.
Uma ótima semana!
Beijosss

Moça disse...

Acho que nem sempre vamos entender o outro. Pois na maioria das vezes nem sequer nos entendemos.
Deveriamos apenas nos permitir mais e permitir ao outro!
Otima reflexao!
bj
opinandoemtudo.blogspot.com

Anónimo disse...

Oi querido Alexandre,

Você escreve de forma muito firme, muito adulta e muito sensata.
Em minha opinião, é muito melhor na prosa, do que na poesia, já lhe disse, anteriormente. Na poesia, não desenvolve tanto seu pensamento e de forma tão perfeita e entendível para o leitor.

Entender alguém, não é "negócio" só de Psicólogo ou de Psicoterapeuta, é, também dever do ser humano.
Bem sabemos que há pessoas de abordagem mais fácil e outras menos fácil, mas, mansamente, e com maestria, experiência, entramos "no jogo delas" e assim. chegamos lá.

Fiz dois anos de Psicologia Didática, que muito me têm servido na minha vida escolar.

Entender é sobretudo ouvir e não ajuizar, apenas, aceitar.

Beijos da Luz, com carinho.

Anônimo disse...

Terminei uma obra do Augusto Cury que trata da personalidade de Hitler. O livro inteiro tenta fazer com que o leitor compreenda o interior das perversidades que esse ser humano cometeu.
É difícil fazer-se entender - e compreender o próximo. Mas podemos nos colocar no lugar do outro, em determinadas situações.
Pessoas não são traduzíveis.
Abraços.

Luzia Medeiros disse...

Vim trazer um abraço sincero a milhões de quilômetros, mas com a certeza que te guardo no coração. E que o vento te leve meu abraço.

Que Deus espalhe luz em todos os teus dias.

Esperando um texto novo. Rs.

Quando tiver um tempinho passa lá no Blog, tem um texto reflexivo, sobre Cristo.

Bandys disse...

Entender o outro basta ter Serenidade, coragem e sabedoria. Se depois disso não der....o melhor é aceitar e pronto.

beijos