Reboot

10 de maio de 2014




“Pane no sistema alguém me desconfigurou 
Aonde estão meus olhos de robô? ” 
(Admirável Chip Novo – Pitty)


Ando anestesiado. Minha atual condição assemelha a um sistema reinicializando. A verdade é que dei reboot. Reiniciei meu sistema, porque ele travara após uma alta carga de processamento. Não soube suportar a pressão. Talvez... Certo é que a corda rompeu e explodi. Briguei com os meus sentimentos, com o coração. Lágrimas escapuliram do meu peito cansado e ferido. Não há mais subterfúgio que me faça realinhar.

Meus cabelos desgrenhados zombam da minha careta de resmungo. Balançam com mínima coreografia, denunciando meu molestado momento. Sinto-me ofendido com as configurações obsoletas de certas áreas dentro de mim. Há perigo nítido em intercalar tantas vivências. Há poeira acumulada, e meu cooler pifou. Hoje sofro de aquecimento. A qualquer momento posso desativar. Preciso viver de ponderações, sob um tapete de serenidade pouco habitual para mim.

Há ainda espaços sobrecarregados. Principalmente com o lixo empilhado nas minhas pastas internas. Tanto arquivo morto que não quer morrer, espalhado pelos cantos mais obscuros do meu espaço interno só ocupando espaço. Quero me desvencilhar do transbordamento de tantas informações. Mas há áreas restritas, impenetráveis, lugares onde meus sonhos não atravessam com facilidade. Há bugs gerando caos e pane em todos os meus programas internos. O sistema está corrompido pelo cinza deste mundo cão.

Dei reboot porque precisava reanimar as partes extinguidas pelo longo tempo ligado. Sobrecarreguei a esperança tão absorvida pelos cabos antigos da fé. Faltou apuro e cuidado com meu íntimo, com os hardwares que compõem a engenharia da minha alma. As conexões estão desgastadas por minha culpa, pelo meu parco zelo nas quase nulas manutenções. Sempre negligenciei a necessidade de limpeza dos meus componentes. Sofri por intermédio da minha arrogância.

Sofri também com o mau uso alheio. Terceiros que não souberam tratar o meu sistema com respeito e dedicação pelas quais eu merecia. Caí em vagas promessas, em falsas confissões e barbaridades pouco louváveis, outros absurdos que não merecem ser contados aqui. A pane no sistema deflagrou a falha das minhas proteções – todas desatualizadas e antiquadas. O crash me mostrou a deficiência nas minhas estruturas. 

Reiniciei para que eu possa desfragmentar meu corpo estilhaçado pelas garras do tempo ­–­­­ e da vida ­­–, para rejuntar as partes internas tão desunidas por mãos de outrem. Preciso de novos drivers e reinstalar tudo novamente. Consertar peças e comprar outras novas, conectar meu coração a fios mais resistentes. Depois da ação vil de um vírus terrível, meu intento é formatar e logo após, atualizar as minhas configurações. Eu preciso.



Aspas do Autor: Por pouco o meu processador não queima... Preciso ter cuidado comigo mesmo. Que o reinício seja de fato, bom.

10 comentários:

Gustavo disse...

Asi es. El interior del cuerpo de cada uno es una maquina. Sitios como los oidos o los ojos, que son una especie de ventana y por ella ingresa todo lo que percibimos del mundo exterior. Luego eso va directo al corazon. Y el le da pasion, sentimientos. Si son cosas buenas sera para bien, si son de las otras para mal. Aunque a veces tambien tiene que lidiar con el cerebro. Que puede actuar como una especie de barrera. Un sitio donde los sentimientos y las pasiones provocadas por el corazon se van enfriando. Para darle espacio a la razon, los limites, las cosas que segun el podemos hacer y las que no. Y todo eso va bajando a los huesos, a la sangre, a los diferentes organos y que no van diciendo cada dia como estamos. Si con energia, agotados, alegres, estresados, deprimidos, etc. No se, es lo que se me ocurre. Un abrazo

TOM MORAIS disse...

Seus textos... nem sei mais o que falar.

Cristiano disse...

Tem toda razao pq se vc só formatar... Os problemas voltam sempre voltam.

Ana Carolina disse...

Suas palavras, a forma como limita e solta elas no texto. CARA, É INCRÍVEL! Parabéns, me identifiquei super com o texto. Me senti nas entrelinhas.

beijo

Mafê Probst disse...

Primeiramente digo que achei genial a metáfora. Segundo... que texto fo$@! Se você conseguiu ao menos se reiniciar, então é porque o sistema não tava todo bugado. Antivirus n'ocê moço. Arruma o sistema de dentro pra pulsar lindeza pra fora.

:*

Camila disse...

Aiin Alê.. escreveu sobre mim foi??!
A parte que mais ficou gravada aqui foi: 'tanto arquivo morto que não quer morrer..."
Por que ne?
Texto mais que profundo.. me pegou em cheio hoje!!

Déborah Arruda. disse...

Alexandre, a troca a que você se refere que nos ajuda a conhecer e aprender melhor, é a mesma que faz latejar igualmente o sentimento do outro no peito da gente. Genial esse texto e inexplicável como me encontro dentro dele.

Mari Mari disse...

Gosto de pensar nos seres humanos bem como máquinas mesmo. porque é o que somos. Sim, tenho uma queda para o behaviorismo. kk

Bandys disse...

Quando acontece isso, é hora se se tocar, olhar no espelho, dentro de seus olhos, se beliscar e acreditar que a vida esta aí para usarmos a maquina e não viver como uma.
Gostei do texto, mas não gosto de sqaber que isso é uma realidade.
Beijos
passa la, kkkk

B. disse...

Fantástico seu texto! A capacidade que você teve de ligar uma coisa com a outra e encaixa-las tão bem. Foi um belo casamento, haha.
Um dos seus melhores textos, pra mim ^^