Cortina de letras

27 de agosto de 2011




É difícil talvez esconder-se na sombra das palavras. Por mais reticente que somos. Pelo menos o segredo está ali enclausurado nas entrelinhas, como um elemento que instiga. Algo singelo que fica subliminar por trás de uma doce cortina. No mais, existem palavras que destoam bem essa nossa cumplicidade com os sentimentos que permeiam deliciosamente pelo suor do nosso corpo e pelo aroma afetuoso da alma. Elucidações evidenciadas no âmago dos traços. 

Louvamos porque somos brindados com a nossa melhor face. Exposta saborosamente com o teor externo com a qual as palavras são capazes de exprimir. Descrições palpáveis de sentimentos não táteis, essências invisíveis, que são peles que envolvem os nossos mais profundos anseios. Muito do nosso calor fica vívido nas letras, como que embrulhando nossos desejos, nossas aspirações e nossos impulsos mais ardorosos, ou nossas vontades mais sublimes. A verdade fica exposta nos mínimos detalhes, fazendo com que a cortina transpareça o palco. 

A escrita faz nos sentir assim, meio que despidos por esse véu que aniquila o medo. Um elo que destoa do cinza e contrasta com a cor pulsante da alma imensamente bela e verdadeira que revela segredos. As palavras demonstram bem a matiz que somos; fragmentos coloridos da essência mais plena da alma, que mescladas formam nossa parte mais inteira e real. São várias cores entrelaçando-se, para formar a pintura exata da alma. Ou estrelas brilhantes escondidas pela cortina das nuvens. O encanto fica ali, subentendido, mas nunca totalmente à mostra. 

O dedilhar oculta o encanto que encena por trás das cortinas. Letras são apenas ensaios de uma cena maior, de um ato mais explícito. São pontos de cruz que costuram bem os tesouros mais íntimos e preciosos da nossa vida. E tudo o que sobrevive nas sombras, canta solenemente e se faz presente de alguma forma impossível de explicar. A alma estribilha em sonhos, em formas não palpáveis, em mensagens não visíveis; e tudo o que torna a alma mais condizente com sua forma de instigar, de não se fazer óbvia. O bonito é esta revelação sem revelar; este degustar sem comer. 

Por trás da cortina de letras é que preparamos o verdadeiro espetáculo. Há poucos convites. E poucos podem entrar. O tesouro mais oculto em nós não é encontrado de forma fácil. Por mais que as palavras sejam transparentes, elas apenas convidam. Só que no silêncio. Tornamo-nos habilidosos em nos ocultar, mas também em atrair. Torcemos para que colham no mais distante deste horizonte de letras o sentimento que plantamos. Este é o passaporte de entrada. Para se achar basta ter sensibilidade. É isto que aguça o olhar do coração. 

É quando já estamos inteirados de boa parte do mundo de alguém, que as cortinas se abrem, e o show fica à mostra. Estando lá, apenas uma certeza concreta: é impossível não aplaudir.





Aspas do Autor: O que as palavras conseguem esconder? Talvez não muito. Ou tudo. Quem sabe? Só lembrando que hoje, 27 de agosto, é dia do psicólogo. Um dos poucos que atravessa a cortina para ajudar no ensaio do espetáculo. Parabéns à todos os "Freuds" que ajudam as almas a se encontrarem e se curarem, e assim obterem novamente força e impulsão necessária para continuarem atores de um espetáculo muito importante: suas próprias vidas.

Coração intenso...

20 de agosto de 2011




...e sentimentos em alto relevo.

Eu não consigo moderar sentimentos. Minha sensibilidade é apurada demais, e isso me faz sentir exageradamente. Meu coração só abraça o que é maior que ele. Quando amo, eu amo demais. Quando feliz, a felicidade transborda no peito tão imensamente quanto eu próprio. O percalço é que esta condição me leva a sentir o outro extremo com muito mais força, quando é o caso. Por muitas vezes fico refém das artimanhas que o coração causa no meu íntimo. Esta minha atitude de deixar o coração liberto, sem amarras, me traz encantos indescritíveis, que poucos conseguem enxergar. Contudo, às vezes também me traz consequências danosas ao peito. Porque é inevitável o sofrer, haja vista que em determinados momentos, o sentimento é maior do que posso suportar e isto me leva a nadar em sensações e estímulos que estão além de mim, e acabam criando um muro intransponível. Tem horas que fugir é preciso para eu não enlouquecer. 

O sonhar me encanta, mas dói saber que certos sonhos são distantes demais da realidade em qual vivo. Às vezes longínquos em quilômetros, às vezes em tempo, às vezes os dois. O sofrer provém de um desaguar de expectativas que se frustram com a não possibilidade do agora. Mas por que isto acontece? Em parte porque o meu âmago me incita e o não poder me transborda, causando certa impaciência. Também acontece porque eu me entrego totalmente em tudo o que sinto e faço. E fica difícil aguentar o peso de querer ultrapassar o tempo, atropelar a realidade e desejar o que ainda não posso ter ou talvez não seja mútuo... 

Eu definitivamente ainda não aprendi a dosar o meu sentir, nem a força do coração. Contudo, não sei realmente se iria querer isso. Não sou de metades, de pouco, ou de pequenas gotas. Sou enxurrada de sensações. Sou um vendaval de autenticidades, sou eu por completo em tudo que faço e digo. As pessoas irão sempre me encontrar na totalidade. Eu sou eu 100% em tudo que sinto e vivo; no pequeno e no imenso, na dor e na alegria, na tempestade e na calmaria, na ausência e na presença. Mesmo que eu não demonstre tanto, por conta de ser reservado, introspectivo, o que há por dentro existe plenamente. 

Não nego que esta condição me deixa aberto para poder sentir as dores da forma mais intensa que existe, mas em contrapartida, também me regozijo dos momentos mais belos, felizes e marcantes ao coração com muito mais plenitude e veemência. É uma faca de dois gumes. Um belo voo pode terminar numa horrenda queda, como já aconteceram várias vezes. Não creio que há forma de querer o melhor sem correr o risco de sentir o pior. Não há como admirar e sentir a gostosa fragrância de uma flor, sem nunca um dia se machucar com o seu espinho. As melhores coisas estão disponíveis apenas para quem se arrisca. Os melhores tesouros só são descobertos com muita persistência e muitas armadilhas vencidas. O melhor da montanha é o cume. O supremo é o que instiga. Mesmo que o sorriso de hoje vire a lágrima de amanhã, terá valido a pena. Só por ter sorrido. 

Meu coração é intenso demais. E ora me afunila em sorrisos, ora em um medo terrível, ora em uma solidão dolorida. Oscilo de humor da mesma forma como minutos passam. Vivo em busca de um ponto de equilíbrio, uma maneira em que eu aprenda a ter mais paciência e acalmar mais as tempestades que o meu coração transpõe pra dentro de mim. Talvez isto ajudasse. Mas de nenhuma forma mudaria meu jeito intenso. Meu coração não sabe o que é moderação. Ele só sabe o que é entrega total. Ele é quem comanda o timão da minha embarcação. Ele é que dita as letras que meus dedos compõem; a fala que a boca teima em pronunciar. Sou porta voz de um ser que me sussurra verdades, emoções, sentimentos. É difícil não me render a ele. 

Meu coração intensifica tudo. É um elemento em mim que aumenta as impressões, que amplifica o querer, o amar, o sonhar. Sem ele eu teria características vazias, desprovidas de recheio, de um alicerce que os tornassem críveis. É difícil nadar contra a sua maré. Mesmo que me doa às vezes tê-lo, eu tenho certeza que doeria muito mais não tê-lo. Nunca experimentaria dor, mas também nunca sentiria a felicidade plena. Que graça teria? Por mais que eu escreva tudo isso, amo ter coração. Ele é que torna meu ser completo, minha alma única. Ele me concede uma essência peculiar e singular. É que me torna autêntico, verdadeiro. É o meu selo de qualidade. Qualidade original. 

Eu estou nele, e ele está em mim. Eu sou ele, e ele sou eu. Ele é acima de tudo, um amigo...





Aspas do Autor: O sol raiou. A razão se cala diante da emoção que traz o doce mel do sentir. Foi assim inesperado. Imprevisível. Transformador. Ele grita, ele quer, ele ama. Mas ainda há aflição? Falta? Coragem. Será? Só sei que ando meio perdido, sem rumo. O coração está intenso, mas em desalinho. Eu preciso renovar o meu melhor ato de sensibilidade. E quem sabe assim, poder expor sentimentos com mais clareza. Arriscar. Quero acreditar que fugir não é a escolha mais sensata. Hoje meu sentir está nas entrelinhas... Lá onde o sol se põe...

Teu tesouro

13 de agosto de 2011




Tens um muro intransponível
Uma fortaleza que a oculta
No mais recôndito de um mundo
Toda a sua beleza culta.

Tens encantos que refletem em ti
Que cegas não vê
No mais íntimo do teu peito
O ser humano bonito que é você

Tens um sonho pelo amor
E uma cor vivaz no coração
Partículas de autenticidade
Mescladas com a emoção

Tens plena ciência de menina
E um firme passo de mulher
No âmago, desmedida em ser
Mas uma personagem tu não és

Tens um alento nas letras
Um modo de esculpir o ouro
Os fascínios mais doces da tua alma:
Teu lindo tesouro


Para a minha amada amiga Daniele, uma das mais especiais para mim. Com imenso carinho.


Aspas do Autor: Um poema que eu precisava escrever, porque meu coração gosta demais dessa moça. Uma amiga de longa data, que conheço desde o tempo em que comecei a escrever em blogs. É uma pessoa intensa, verdadeira, e apesar de ser fatalista, não sabes o tesouro que guardas em si mesma. Evitei falar dos seus fatalismos e me concentrei na sua beleza, no interior peculiar e tão destoante em encantos que ela tem. Daniele, pra ti com o meu afeto mais especial. Te adoro "Bella"! Ass.: "Jake"! (risos.)

A beleza distante

6 de agosto de 2011




Pai, é tão lindo!
O pai envolveu o filho num cálido abraço e apontou para o firmamento.
 – Eu te falei que era. Lá onde a paisagem acaba e se une ao céu mora o encanto mais especial do mundo.
Mas é tão longe pai!
O menino apertou os olhos e fixou-os no horizonte. O que se via era muitos jardins cercados por lindos e cristalinos rios, e um céu alaranjado de fim de tarde decorado com a beleza imponente do astro rei. Era lindíssimo e de difícil descrição. A vista dali era prazerosa e encantadora. O garoto sentiu um arrepio e uma paz muito grande no coração.

Porque ela não está mais perto? Ele sorria enquanto abraçava mais forte o pai.
O pai então segurando a mão dele, disse:
Esta beleza só pode ser vista de longe filho.
O garoto parecia não se contentar em estar longe. Queria ver de perto. Queria poder abraçar a beleza.
Ah! Que chato! Por que existe a distância hein?
Filho, algumas belezas são tão imensas que só são vistas de bem longe. São tão grandiosas que só cabem naquele lugar em que céu e terra se colidem. É para isso que existe a distância, para você vislumbrar a beleza que você não enxergaria de perto e não caberia nos olhos. ­Enquanto ele dizia aquilo, ele acariciava os cabelos do filho, e sorria amavelmente para o horizonte, adornado com uma beleza magistral.

E completou, apontando o coração dele:
Filho, aprenda a amar a distância. Ela sempre te mostrará encantos que não são visíveis de perto. Isso vale para pessoas também. Por mais que a ausência doa e a saudade aperte, às vezes distante é que tu descobres valores e qualidades essenciais em alguém.
O garoto sorriu e entendeu. Pareceu contente com as palavras do pai e então pronunciou com doçura:

Te amo pai! Mas não quero que fique longe de mim nunca tá?
O pai deu um riso alto e acariciou o filho com muito afeto.
Está bem campeão. De longe eu sou feio mesmo.
Os dois deram uma gargalhada bem humorada e gostosa de ouvir. Abraçaram-se e continuaram ali vislumbrando a paisagem ao horizonte.




Aspas do Autor: Finalmente a inspiração me visitou um pouco para que eu compusesse este conto bonito. E confesso que amei. Escrevê-la me comoveu bastante. Bem, no mais é outro mês começando e o selinho e recomendação do mês vai para uma amiga muito amada por mim, uma pessoa que está comigo desde que me conheço blogueiro. Uma das minhas amigas mais antigas deste mundo virtual. Uma das que mais admiro, e mais reservo o meu afeto. É a Carol, do Expresso para dois. Vale a pena conhecer ela. E como. Carol, te adoro!