Amor mudo

4 de setembro de 2010




Não existem obstáculos que impeçam o amor de surgir.


Eles se viam todo dia. Seus olhares eram a ponte que os unia. Seus sorrisos eram pinturas de um amor espontâneo. Seus olhos permitiam, a cada um, preencher-se no mais íntimo um do outro. Sempre nos mesmos horários. Após acordarem; antes do almoço; antes e após assistirem a série preferida deles; no fim do lanche da tarde; após a janta e antes de dormir, já com as estrelas no céu e a lua clareando a noite (por sinal, o horário preferido de ambos).

Nesses momentos sempre conseguiam ficar frente a frente. Mesmo a uma pouca distância, eles encontravam uma felicidade jamais sentida em toda a vida deles; uma sensação de alegria transcendental, nunca vivida na amplitude das sensações anteriores, aos quais eles, naturalmente, estavam à mercê. Encontram nessa nova maneira de viver, uma fonte prazerosa de amor. Amavam-se plenamente.

Viviam separados, mas na essência juntos. Fitavam-se e, apenas nesse ato simplório, sentiam-se capazes de compartilhar as mais tenras e doces declarações. Era fantástico o tamanho entendimento que tinham sobre cada um. Simplesmente encantador aquela ternura que se findava em seus encontros distantes. Os momentos em que uniam seus olhos eram os que mais davam razão à suas vidas.

Tudo que aparentemente os impedia de viver já não importava. Viver era uma realidade visível. Tudo parecia valer a pena. Essa paz grandiosa que se firmava entre suas almas bordava um amor imensurável, de rara beleza. Como se a doçura envolta compusesse melodias únicas, embalando as horas em que se amavam com o olhar. Tudo era minimamente encantador. O resvalo no ar só escondia um amor puro, difícil de ser visto hoje em dia.

Ele num prédio. Ela, noutro. Ambos tetraplégicos. Ambos mudos. Ambos se viam apenas pelas janelas, a uma distância de alguns metros. E nos raros momentos em que suas mães os colocavam de frente para a janela, para admirarem o mundo lá fora e respirar ar puro, eram os minutos mais felizes de suas vidas. E assim amavam-se, pela distância curta que suas residências tinham uma da outra; pela janela, que abria as portas de um amor que jamais alguém imaginou, mas surgiu.

Muito mais do que qualquer coisa, eram pelos olhos, as janelas das suas almas, que ambos verdadeiramente se presenteavam e adentravam no mais íntimo da cada um. E assim descobriram-se, numa das mais ternas e emocionantes intervenções do amor de Deus. E assim encontravam-se todo dia, com a intenção singela de se amarem e serem felizes. Para os dois, nem todos os obstáculos que a nova vida lhes oferecia era capaz de impedir essa magia que encontraram um no outro. Tudo parecia possível e pequeno quando seus olhos se encontravam.

Jamais deixaram de ser ver, desde que descobriram o amor um no outro. Porém, houve um dia em que, curiosamente, ele não a viu do outro lado da janela. Isso o atormentou muito. E para alguém que não podia esboçar ou fazer qualquer gesto, nem falar, era imensamente frustrante (e doloroso). Mas antes que seus olhos derramassem lágrimas, sua mãe entrou no quarto. “Filho, adivinha quem veio te visitar?” E com um leve aceno no rosto, sua mãe confirmou. “Ela!” Seus olhos brilharam e, com uma das poucas coisas que ele sabia fazer de melhor, ele sorriu o sorriso mais bonito da sua vida. E não era preciso traduzir mais nada do que ele sentia. Mais nada...





Aspas do Autor: Creio que seja uma das histórias mais bonitas e tocantes que eu eu já escrevi até hoje. Eu fui escrevendo e me emocionando. Pelo visto, ultimamente o amor tem sido a minha melhor pauta. Um grande afeto à todos (Obs: estarei, no período de 23 a 26 em SP capital. Não sei se postarei no blog, vou ver. Quem for de lá e quiser me conhecer me dá um aviso).

23 comentários:

Sibele disse...

Nossa, ALF!Vc anda super romântico mesmo, acho que o cupido acertou seu coração em cheio...
Um olhar vale mais que mil palavras, quando tudo o mais é inútil um olhar terno e um sorriso verdadeiro são mais do que suficientes, como diria Carpinejar não há a arrogância das palavras...
Um ótimo domingo!
Beijosss

Hugo de Oliveira disse...

brilhante demais esse texto...show.

abraços
de luz e paz

Ataniel Santos disse...

Pow,você é demais!Meus parabéns!
Realmente um dos seus melhores textos!
Abraço e um bom final de semana!

Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ NARA CABRAL Ƹ̵̡Ӝ̵̨̄Ʒ disse...

maravilhoso texto
parabens!
amei,amei!
o amor nao tem limites
boa semana

Essência e Palavras disse...

Me encanta essa essa sua forma de expressar...
O amor é sempre a melhor pauta.

boa semana, também.

beejo, meu!

Poemas e Cotidiano disse...

Alf, meu querido!
Terminei de ler essa historia com lagrimas nos olhos.
Mas nao pela historia em si. Mas pelo modo que voce enxerga atraves dessa historia, como deveria ser o amor... que lindo! que lindo!
Eh assim que voce espera o amor, meu querido! Um amor "tetraplegico", que fale com os olhos e com a alma. Um amor que transcenda a parte carnal, e que lhe de muito, muito mais do que um simples fazer amor...ou mesmo um beijo apaixonado.
Tudo isso claro, estaria no contexto. Mas acho simplesmente MAGNIFICO o modo que voce ve as coisas...o modo que voce espera esse amor...com a sua ALMA!!!!!!!!!!!!
Um dia ele vira... eu sei que vira.

Beijos carinhosos dessa que te amadora.
Mary

Clara disse...

Ahm que bonito! Não imaginei que fosem paraplégicos até o meio do texto... Acho tão bonito seu jeito de contar história, com poesia em forma de prosa.

Achava difícil imaginar a alegria para uma existência tão limitada como a desse personagens, pois que você acabou de me apresentar uma possibilidade até óbvia: o amor!

Anônimo disse...

Que lindo!
Mesmo sem as palavras, sem o toque, eles se amavam. Estamos sempre acostumados a relacionar amor ao toque, conversa, mas isso é o de menos. Nada como um olhar diferente. Fiquei imaginando um curta assim, pensa... Achei linda a forma como escreveu esse texto.
Parabéns.
Beijos *-*

Rodolpho Padovani disse...

Realmente um dos textos mais lindos que li por aqui e por toda a blogoesfera.
Fui imaginando a cena e me colocando na pele dos personagens, os cenários que você criou foram maravilhosos e o amor que você fez brotar foi mais lindo ainda. Terminei de ler sorrindo e refletindo, o amor aparece de formas inusitadas e muitas vezes em lugares que ninguém nunca esperaria entre duas pessoas muito improváveis.
As pessoas podem ser tetraplégicas, mudas, cegas, enfim... o amor não se restringe a o que a sociedade considera o padrão, ele está em toda parte.
Os dois personagens nunca se falaram, mas eu costumo dizer: "quem disse que para ter as melhores conversas é preciso de palavras?" O olhar de ambos dizia tudo que tinha que ser dito e o sorriso ao se verem é a forma mais pura de demonstrar isso.

Sem mais, eu adorei esse.

Abraços!

Auricio disse...

Impossível não ler sem imaginar a cena, sem sentir o que passava na cabeça e no coração dos dois, e claro, sentir o que você estava descrevendo.
Ótimo texto!

E sobre a nota, sou novo aqui, não tenho como comparar, mas esse está muito bom mesmo!

Monique Premazzi disse...

Realmente, esse texto ficou INCRIVEL como qualquer outro seu. Você é sempre brilhante!

*-*
Obrigada pelos elogios no final de Angel, que bom que gostou, fiquei muito contente em receber suas palavras.

Você é demais :)
xx

Bandys disse...

Oi Alexandre

Um belo texto.
Gostei demais.
O amor não tem barreiras e o melhor de tudo quando passa ser real.

¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨¨
Livros e flores

Teus olhos são meus livros.
Que livro há aí melhor,
Em que melhor se leia
A página do amor?

Flores me são teus lábios.
Onde há mais bela flor,
Em que melhor se beba
O bálsamo do amor?

Machado de Assis

Um beijo no teu ♥

Deyse Batista disse...

Você foi bom até mesmo em definir o seu texto: bonito e tocante. Seu romantismo me derrete, fato.
O amor também é uma das minhas melhores pautas - pena que venha me faltado inspiração. Quem sabe, um dia de novo, não?
Beijos e parabéns pelo super texto!

Clara disse...

=) Obrigada por ter entendido meu texto...

Michele disse...

Muito bonita mesmo a história, Alê! E capaz de nos mostrar que para o amor não há limitações, barreiras, dificuldades! Basta dois corações dispostos para que ele surja! :)

Querido, agradeço muito o carinho, a prece, os pensamentos positivos e as palavras amigas que você dispensa a mim e à Clarinha sempre! Muito obrigada mesmo! Que Deus lhe abençoe!

Um beijo!

:: Mari :: disse...

Nossa Alexandre,
Fiz uma linda viagem, fui em cada detalhe da história. Simplesmente maravilhosa.
Me sinto privilegiada em ler algo tão belo que o amor compõe e realiza.

Abençoado és pelo belo dom.

Bjos

:: Mari :: disse...

Nossa Alexandre,
Fiz uma linda viagem, fui em cada detalhe da história. Simplesmente maravilhosa.
Me sinto privilegiada em ler algo tão belo que o amor compõe e realiza.

Abençoado és pelo belo dom.

Bjos

Cris Santos disse...

Nossa... sem palavras
Lindo demais, espero um dia encontrar um amor assim como nos filmes e poesias...

Bjinhus =*

Elis disse...

Já te disse não foi mesmo garoto...srs escreves um livro e coloca nele todo esse seu encantamento de palavras....srs
Sabe Ale..ao ler seus textos eu penso com sentimento como você deve ser cara de bastate humano... pra sentir e escrever assim....
Descreves o amor com um alegoria de sentidos..... em perfeição....rs dá vontade de sentir assim também.....


Que o bom que o amor esta sendo sua melhor pauta afinal o amor e bom....
Um xero a ti!

Vanessa Monique disse...

"Um olhar vale mais q mil palavras".
Bom FDS!

vanessamonique.blogspot.com

Abçs.
:*

Lia Araújo disse...

Alexandre, não vou dizer que foi a coisa mais bonita que vc escreveu... é subjetivo... mas, pra Lia, essa aqui... foi meu texto favorito... tu não pode fazer essas coisas, não... sabendo da minha história e tu ainda escreve bonito desse jeito...

Vc sabe que tem imperativos categóricos que me separam... e não é um prédio ou a mudez... são coisas bem maiores...

Alexandre eu não tenho mais o que comentar... de verdade..olha que eu tentei... mas, as palavras faltam...

Só quero dizer que sei quando olhares valem uma vida...

Manda o texto pra mim?
Quero por no meu blog...please!

bjos

Lia Araújo disse...

Alexandre, não vou dizer que foi a coisa mais bonita que vc escreveu... é subjetivo... mas, pra Lia, essa aqui... foi meu texto favorito... tu não pode fazer essas coisas, não... sabendo da minha história e tu ainda escreve bonito desse jeito...

Vc sabe que tem imperativos categóricos que me separam... e não é um prédio ou a mudez... são coisas bem maiores...

Alexandre eu não tenho mais o que comentar... de verdade..olha que eu tentei... mas, as palavras faltam...

Só quero dizer que sei quando olhares valem uma vida...

Manda o texto pra mim?
Quero por no meu blog...please!

bjos

Anônimo disse...

Alexandre, seu texto acaba de ser publicado na ABL. Agradecemos sua participação.