Foto: Dan Gold/Unsplash.
É um ano de estranhamentos que tem me atrelado ao chão, com temerosas sensações. Tenho servido meus desejos no afã de solucionar os caminhos, agora tão abarrotados e turvos. Tem sido dias inflexivos, remodelando angústias interiorizadas que ressaem causando derradeiras afetações. Eu gesticulo para me soltar e descolar dessa névoa nos arredores de casa. Esse distanciamento, não apenas físico, tem realçado meus sentimentos e minhas prioridades.
Há muito que uma tormenta tem desnorteado o meu senso de equilíbrio, meio que me arrastando para o porão das minhas memórias mais contidas. Nos últimos meses uma inquietação tem se formado na minha mente, traindo meu bem-estar e sobrepondo os pensamentos mansos. É um atropelamento que me estaciona, deixando-me padecente de sensações repreensíveis e penosas. Tento acordar no intuito de engavetar as apreensões desdobradas nesses dias tão [in]tensos.
Hoje o peito devora-me em saudade, alienando o silêncio para as profundezas. Por tanto tempo estive adormecendo minhas memórias para reciclar um pouco de paz. Contudo, hoje exalta a vontade de delirar os versos do que tenho sentido. A solidão diária tem refletido meu coração que se dilatou com tanta poeira aglomerada no íntimo. Permito-me desprender do que tanto tem me acorrentado, afinal, o que busco é uma soltura para o meu introspectivo estado.
Eu acolho meus olhares, pois percebo que preciso me ater ao essencial, ao que realmente importa. Tem sido dias de faxina, que intencionam raspar as camadas cinzentas dos meus muros antes tão coloridos. Foram dias e mais dias presos a um ciclo onde as palavras amanheciam mudas, acobertadas pela fragilidade do coração de se abrir, tornar livre a poesia que sempre tornou quem sou e o que me encaminhou até hoje.
Precisou a vida refrear os meus passos para eu encontrar uma joia que tinha se perdido dentro de mim. Achei-a empoeirada, mas ainda com seu vigor; um terno querer que sempre lustrou o brilho dos meus olhos, a vivacidade dos sonhos mais íntegros que perfilavam na minha alma. Foi preciso parar por um instante para observar que aquela paisagem borrada, que eu pensava ver através da janela, era apenas o meu reflexo. Assim como tantos outros, eu vivia acelerado e mal me enxergava.
Hoje eu me desprendo para dar mãos, novamente, à poesia. Para me reencontrar.
Aspas do Autor: Por tantas vezes ensaiei voltar. Mas o coração precisava apenas de um momento para sair da toca. Que sejam dias prósperos e cheios de poesia.
3 comentários:
Sempre é tempo de voltar.
Feliz que essa casa abriu de novo as portas e janelas.
um abraço.
Ola querido,
Seja bem vindo de volta.
Os reencontros sempre são cheios
de emoção e intensidade.
A poesia é sua alma denuda.
Fiquei feliz com sua volta.
Beijos
Tem uns textos que pegam a gente de jeito, né?! Ó eu aqui, me admirando, mais uma vez, de cada palavra.
Ainda bem que você escreve, amigo. Num mundo com tantos países e tantas línguas e tantas possibilidades, eu tive a sorte grande de te achar.
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