Intensidade reclusa

2 de agosto de 2014

Foto: Hidden-target



Somos senhores de nossas reclusões, cegos desnorteados em uma linha de tiro que ricocheteiam inebriantes e lívidas sensações. Ficamos refém dos delitos cometidos pela inconsciência, dos pecados vividos na vã mania de sentir e deliberar tudo o que se distingue pelo território que nos circunda. O tremor inconstante do imprevisível pousa dilacerante, estremecendo as bases rotundas do peito. Somos frágeis na força, fortes na fraqueza, impávidos no amor.

Nossos danos ficam encruzilhados nos fronteiriços semblantes, retratos efusivos do que aperta e se declina, amansando, mantendo, matando, nascendo e padecendo – em nós. Somos intensos, guerreiros lançados ao léu, sem armas, sem defesas, sem roteiros de sobrevivência. Demasiado é o caminho por onde recolhemos, por onde marchamos com o intuito de revelar territórios invadidos, as doenças penetradas em nosso perímetro tão desconhecido. O encontro interno é um embate que nos afunila.

É intenso este foco pelo ajuste cego, em razão da subjetividade presente em nossa inconsciência, feito inspiração que debruça as palavras sem composição. O presente se encontra em detalhes perdidos nos escombros do espírito, pelos cantos raramente sombreados pelo olhar humano. A felicidade não se constrói com as partículas de dores. A alegria é indissolúvel como muro de concreto. Apenas damos valor demais ao quintal de dores que a circunda e esquecemos a felicidade que sempre esteve intacta. Uma limpeza – íntima, é sempre o mais certo a se fazer regularmente.

Tudo gira em torno de algo que concretize os sentimentos da alma, que concorde com nossos idealizados anseios, os valores nascidos na enxuta bravura por dias melhores. A fumaça do sofrimento oculta a arquitetura da alegria. Tudo se espelha no alcance destemido e íntimo de um coração desejoso pelo bem-estar. Na reclusão intensa dos atos, sofremos porque a sujeira pesa toneladas, as lágrimas causam enchente e as dores roubam as memórias. Mas é na intensidade do recolhimento que descobrimos as nuances belas da alma e, principalmente, a textura do amor que nos envolve, pela qual foge da vista quando esquecemos o que somos. A busca interna é a melhor cura.



Aspas do Autor: É de dias, recluso, que necessito. Para redescobrir os meus dons...

9 comentários:

Aline Goulart disse...

São nos momentos de reclusão que eu encontro a mim mesma. Eu acho super válido esse momento que você para a sua rotina e olha para si mesmo. É nesse momento que a gente começa a se conhecer melhor. Com certeza a busca interna é a melhor maneira de encontrar a cura para os enfermos da alma. Bela postagem. Beijos.

Camila disse...

'A felicidade não se constrói com as partículas de dores."
Essa foi a frase que valeu a reflexão inteira!
Sempre precisamos nos achar em meio ao turbilhão de sentimentos.. e essa busca é maravilhosa e intensa :)

Nanda Torres disse...

Que bom que gostou da banda Tianastácia, eles são daqui de Minas, já assisti ao show deles, e é ótimo! :)

Minha parte preferida do texto e que mais me fez refletir foi "A fumaça do sofrimento oculta a arquitetura da alegria" ... Nossa!


beijo da Nanda,
http://lladodedentro.blogspot.com.br/

Anônimo disse...

A busca interna pode ser algo bem perigoso, pois a gente tende a se perder. Mas limpezas são sempre bem vindas. E extremamente necessárias.

beijo

Gabriela Freitas disse...

A busca interna é a melhor cura, sim, descobri isso na marra, você vai descobrir também, faz bem demais.

http://www.novaperspectiva.com/

Bandys disse...

Penso que fazer essa reclusão todos os dias é a melhor solução.
tanto para valorizar seus dons como jogar fora o que não interessa.
A gente pode enganar o mundo inteiro menos a pessoa que do espelho
te olha.

deixo pra voce um pedacinho de um escrito
muito valioso:

Recolhi com carinho o amor encontrado,
dobrei direitinho os desejos,
perfumei na esperança,
passei um paninho nas minhas metas
e deixei-as à mostra.

Coloquei nas gavetas de baixo lembranças da infância;
em cima, as de minha juventude, e…
pendurado bem à minha frente,
coloquei a minha capacidade de amar… e de recomeçar…

É isso Alê, o melhor de tudo que sempre podemos recomeçar
e não cometer os erros do passado.

Beijos no ♥

Bird disse...

olha, tem gente que discorda disso. que precisa da ajuda de pessoas para se encontrar, etc. eu já acho essencial estar sozinha. para várias coisas, desde escrever, estudar, ler, apreciar boa música, se perder em pensamentos...e se achar.

Anônimo disse...

Parece até que esse texto foi feito exclusivamente pra mim, podia até colocar ali "dedicado a"; nunca a carapuça serviu tanto e me fez realmente refletir que muitas vezes a tristeza camufla nossa sustentação de felicidade e você tem razão, "a felicidade não se constrói com partículas de dores", nunca foi assim e elas nunca nos ajudaram a nos reerguer muito pelo contrário. Amei o texto, a reflexão. E admiro muito o blog!

Luzia Medeiros disse...

As vezes é preciso o silêncio de dentro, o encontro consigo mesmo, para redescobrimos coisas de reais importância. Suas palavras como sempre são um oceano de ternura.

beijo. Saudades!