Clichê

1 de fevereiro de 2014



Em meio ao corredor. Um esbarrão. Cadernos no chão. Pedidos de desculpas. Mãos que se tocam na coleta embaraçada dos materiais. Semblantes acanhados. Olhares fugazes, silenciosos, mas contundentes. Despedida tímida. O suficiente para que a vida de ambos mudasse pra sempre.

Um encontro nascido em meio a uma das circunstâncias mais típicas do mundo. Um amor que surgiu numa situação muito comum, mas que não deixava de ser encantador. Quem nunca se apaixonou pela menina ou pelo menino com quem um dia se esbarrou? Mais clichê que isso não existia.

Telefones trocados, um sorvete, flores, um cineminha, um passeio na praça de mãos dadas. O primeiro beijo dado na biblioteca da escola; a primeira briga na frente da cantina da escola; a primeira reconciliação, com um beijo roubado dela na frente da diretoria. O ciúme dela com as amigas dele e o dele com os amigos dela. Coisas tipicamente clichês.

Encontros às escondidas; namoro no elevador, debaixo da chuva, no igarapé atrás do parque da cidade, piquenique no jardim do quintal; a primeira relação amorosa – inesperada – no quartinho dos fundos da casa dele. Amavam-se. Viviam se declarando um ao outro. E o sentimento crescia tal qual uma planta cresce em ser regada todo dia. O amor deles era puro.

Mas na vida nem tudo são flores. Uma grande briga – por motivo fútil – aconteceu. Ambos feridos. Separaram-se. Nunca mais se viram. Ela viajou pra estudar fora. Ele entrou na aeronáutica. Cada qual seguiu sua vida. Anos voaram. Ela se formou em arquitetura. Ele se tornou um oficial e vive viajando a serviço. Mas o destino prega peças.

Ela, após muitos anos, resolveu voltar para sua cidade natal. Ele, de férias, viajou até sua cidade para visitar seus pais por um tempo. Aconteceu no salão de retirada da bagagem. Um esbarrão. Mochila e malas no chão. Pedidos de desculpas. Mãos que se tocam em meio ao embaraço de pegar as coisas. Olhares fugazes, sentimentos contundentes.

O destino era um brincalhão mesmo. Reconheceram-se na hora. E seus olhos não mentiam: o sentimento ainda existia. Estagnados, diante um do outro, como que se perguntando: “você?” Era um silêncio revelador. Ela, orgulhosa, se pôs a ir embora, mas ele foi levado pelo impulso do coração. Puxou-a pela mão. Ela se irritou. Discutiram.

No calor da discussão a reconciliação ocorreu depois de um beijo roubado – por ele – em meio a todos no salão. Como o mundo dá voltas. Separaram-se, o tempo passou, mas o destino os uniu novamente num esbarrão, como na primeira vez. Quanto clichê. O amor reacendeu e distribuiu sorrisos em cada um dos dois.

Casaram-se. Veio o primeiro filho; Rex, o beagle de estimação; desentendimentos e provas de amor; reconciliações, a primeira de várias crises conjugais e financeiras; assim como a primeira superação. Nasceu outro filho e mudaram-se pra uma casa maior; amaram-se, perdoaram-se, adoeceram, curaram-se. Tiveram realizações, e compartilharam momentos felizes e tristes. E assim foram vivendo cada dia, envelhecendo juntos, amando-se, com todos os altos e baixos que a vida proporciona. 

E a conclusão de tudo isso? Não poderia ser diferente: viveram felizes para sempre.

É um final clichê? É. Mas quem se importa?


Aspas do Autor: O amor, mesmo sendo clichê às vezes, continua sendo maravilhoso. É lindo em todas as suas formas. Ps: Hoje inaugurando a cara nova do blog. Mudanças pra arejar os sentimentos e o horizonte.

19 comentários:

Nina disse...

A vida em clichês é bem mais sincera, né?
Adorei o novo visual, outonal.
Abraços.

Camila disse...

Adoro esses clichês que acabam bem *-*
um dos melhores textos que já li seu <3

Wendel Valadares disse...

Olha que lega, o blog exibindo novos horizontes, adorei o novo layout.

Alê, todos nós esperamos um final clichê!

Um abraço.

Mafê Probst disse...

O amor é clichê, Alê. Se não for um pouquinho clichê, não é amor.

Que delícia de conto ♡

Anônimo disse...

Vivemos num clichê e são eles que fazem os momentos mais simples ficarem guardados na memória. Esse texto me trouxe muitas recordações de como conheci meu namorado, e engraçado que vivemos nessas brigas, nesse mundo de clichês de beijos roubados reconciliações, e a pouco tempo descobri que talvez teremos que nos afastar. Eu espero que se acontecer seja igual ao que escreveu, o destino nos una novamente. Eu amei, seu blog seu texto tudo aqui me inspirou profundamente.

Beki Girl!

Jornalista Chagas Pereira disse...

Muito legal, grande irmão. Criativo e inteligente!

Anónimo disse...

Olá, Alexandre!

Tudo bem? Completamente recuperado? Então, é o contrário de mim, que me doem as mãos, sobretudo a direita, de tanto escrever e a cervical. Enfim, 40. Eu escrevi o quê? Não, 30. Me enganei. Sorry!

Bem, a imagem que encima teu texto está deslumbrante. Adoro ver mulher naquela posição, e vocês ali, submissos, ah, ah, ah! (risos).

Então o que deu um esbarrão! Até deu casamento e filharada, com imensas paragens, recuos, avanços mas lá se consumou.

Teu texto está escrito, de forma simples, contrariamente a muitos outros, que já elaboraste, mas está muito acessível e semanticamente, interessante, porque a vida é mesmo assim.

Ficamos lendo a história, e não conseguimos parar, como tu, quando lês os meus poemas, porque queremos saber qual o final. Olha que o que eu postei, no sábado, ele parou, e você se quer usufruir do "cenário" e do momento, te aconselho a parar e a te conteres. Será que vais conseguir? Depois, me contas.

Voltando à tua história, ou mais corretamente, àquela que tu escreveste, ela poderia ser tema para filme ou romance. Já pensaste nisso?

Se conheceram, por esbarrão, namoraram, discutiram, se reconciliaram, se deixaram, mas passado algum tempo, e novamente, por esbarrão, se reencontraram.

E pronto, casaram, foram muito felizes (não falamos das discussões que qualquer casal tem) e tiveram dois filhos (não devem ser brasileiros, né)?

Bem, espero que te esbarres de quando em vez, mas total, ainda não. Lógico que essa a minha opinião, que pode ser bem diferente da tua.

Feliz semana, com amor, meu querido!

Beijão da Luz.

Alexandre Lucio Fernandes disse...

Realmente Daniele, clichês são mais sinceros!
Eu curto coisas simples, mesmo que elas pareçam comuns demais. Sendo sinceras, é o que importam!

Alexandre Lucio Fernandes disse...

E eu adoro finais felizes! :)
Um dos melhores, cê acha?
Eu acho que existem muitos outros na frente desse, tão simplório perto dos outros. rs
Mas feliz que tenha gostado Cáh!
Beijo!

Alexandre Lucio Fernandes disse...

Verdade Fê. Amor é clichê. E clichê, sendo assim, é lindo! :)
Beijo!!

Alexandre Lucio Fernandes disse...

As melhores coisas são clichês não é? Acredito nisso. O que não gosto é quando o clichê se banaliza. Enfim. Espero que aconteça igual ao meu texto então e o destino os una novamente.
Obrigado pelo carinho, por deixar seu comentário. Espero que volte mais vezes.
Beijo!

Talita Carvalho disse...

Amo histórias de reencontros, gostei do texto =)

Mari Mari disse...

Ah, sei não. Eu sempre tento fugir do clichê. Mesmo que ele as vezes seja inevitável.

Mayra Borges disse...

O amor é um grande clichê, a vida é repleta de inúmeros clichês e eu me pergunto: o que seria de nós sem isso? Afinal é muito bonito, suave e encantador. A gente precisa de histórias assim, pra acreditar mais uma vez que o amor é forte e que faz a diferença, precisamos de histórias assim pra sonhar, pra descansar o nosso cansaço e alimentar as esperanças enfraquecidas.

Belo texto, Alexandre.
peço desculpa pela demora em vir aqui, mas a minha vida está uma correria sem tamanho, devido a mudança de cidade, resolução de documentos e por ai vai...

Beijos.
eraoutravezamor.blogspot.com
semprovas.blogspot.com

B. disse...

O que seria de nós, sem os clichês que a própria vida se encarrega de construir?
O destino é mesmo um ser surpreendente.
Espero que isso aconteça comigo também :/
Mas, o que quero ressaltar nesse comentário é sobre nossa dificuldade em esquecer, quando se ama, mesmo que estejamos separados. Basta um olhar, uma palavra ou qualquer indicio, para reacender a chama e voltarmos atrás.

Cristiano disse...

Os clichês deixam a gente com uma sensação de segurança...

Luísa Scheid disse...

O amor não é clichê - o amor é único. As situações em que o destino nos coloca que se repetem, mas a intensidade, o sentimento que carregamos, é único.

Beijos, Luisa
Degradê Invísivel

Renato Almeida disse...

O tipo de clichê que todo mundo, espera encontrar na vida, sempre fico fascinado com sua forma linda de escrever, de nos envolver ao texto.
Até mais. http://realidadecaotica.blogspot.com.br/

Bandys disse...

No amor nada é cliche.

Beijos