A fala que emudece. O coração que, sitiado, silencia ante as mazelas, delitos da alma, capturados na essência da vida. Como proferir a fala? Como atravessar a neblina que impede o íntimo de aflorar sua beleza, de questionar sua essência? Viver nos edifica em diálogos quase sempre silenciosos, sussurros audíveis nos quatro cantos da alma. É um [des]encontro que desalinha as bases e desorganiza os cômodos internos.
Há sempre um novelo de pensamentos que interrompe a fala do coração e a força dos dedos para transmiti-las. É um aperto, talvez do medo que cerceia nossa intrínseca vontade em ser feliz. É muralha que impede os guerreiros da alma de atravessá-la. É uma batalha feroz, mas que não tem caráter visível. Reside no silêncio, no altruísmo de um ser que se joga para aprender a voar. Há o risco de se chocar... Mas é tudo pelo bem estar.
O sentimento que palpita e veste as palavras, a fala que torneia as margens do coração, numa íntima busca de compreensão, de um entendimento que circunda os olhos, que se desenha doce nos contornos do sorriso, nas feições de um rosto que sente em demasia. É uma necessidade que, paulatinamente, atiça o peito, com questionamentos, delineado numa indulgência que nos acorrenta.
O olhar desbrava o que se insinua e se estabelece oculto. Um mar de evidências, torpe sensação que aprisiona a alma em detalhes inexplicáveis. Dialogar é buscar, é dar veracidade ao que se sente e, pujante, transborda na alma. É um deitar-se no divã, tendo como psicanalista você mesmo.
É um enfim que recita os detalhes mais nobres de nós e nos puxa, aquieta-nos. É uma travessia que muitos têm medo de percorrer, mas é na coragem de encará-la que é possível descobrir a mina de diamantes que há, íngreme, dentro da nossa alma. As respostas nunca estão óbvias, mas existem.
Aspas do Autor: As vezes as palavras se tornam nós...