O dia mais feliz do mundo

12 de outubro de 2013




Ela rodopiava e brincava solta, leve e feliz. Por entre os outros meninos corria livre, exalando uma felicidade incomparável. Seu semblante espelhava uma sensação real de alegria não vista nas demais crianças que ali naquela praça brincavam. Ninguém saberia explicar seus olhos cintilantes, seu sorriso tão fundido à alma, seus gestos tão legítimos e repletos de vivacidade. Embora parecesse deslumbrante como os demais, sua energia destoava, sua alma reverberava pelos cantos de uma maneira tão sadia quanto verdadeira.

Por um momento era a menina mais feliz do mundo. E isso ficava nítido no seu jeito esperançoso de brincar na gangorra, na sua meninice despretensiosa em se lançar no desafiante escorregador, ou no divertido balanço que esvoaçava seus cabelos lindos e espessos. Ela tinha uma aura que cintilava pura e exorbitante doçura, fazendo-a se destacar em meio às milhares que ali também brincavam. Mal sabiam de sua história e o quão aquele momento significava. Isso não importava. Aquele dia extraía de si tudo de doce que se refugiava em seu peito.

Era um precioso dia onde ela se envolvia num manto de pura felicidade, onde cada suor valia seu esforço, cada dor padecia envolto a uma gratificação de incomparável efeito, dentro dela. Seu sorriso espalhava a efervescência de sua inocência desejosa por dádivas, inesquecíveis encontros e vivências. Um dia era suficiente para apagar semanas de tristeza, meses de choro. Este dia trazia vida, emoldurava ao seu peito mais que mero conforto e paz, mas renascimento cercado com imensa esperança. 

Seu silêncio era canto, encanto que se traduzia num infante modo de se vangloriar desse único momento de partilha, de soltura, onde sua criancice se enlaçava junto às outras, rastreando a beleza que se ocultava naquelas horas tão sorvidas com uma singular maravilha. Não havia mais desespero ou aflição, apenas o júbilo refeito em momentos cheios de grandeza. Seu coração regozijava-se em meio ao encanto alastrado pelas outras crianças. Havia céu azul, um sol radiante. Principalmente dentro dela.

Foi assim até o dia findar. Mais uma alegria a se pôr, mais um momento sendo engavetado pelo dissabor, pela natural alternância em que o mundo se faz. E assim ela se recolhia para esperar ansioso o momento certo para a alegria reaparecer. O dia mais feliz do mundo não era o dia das crianças, tampouco o do seu aniversário. Era todo o dia em que ela pudesse brincar e extrair seu melhor, sua beleza reclusa e seu sorriso tão dissidente, com o intuito sincero de viver em partilha a poesia do mundo.

Esta menina se chamava Tristeza. E não era a única a se chamar assim, a padecer no seu exílio. Como tantas outras crianças, apenas aguardava o dia para mudar seu nome. E neste dia ela deixava de ser Tristeza para ser Felicidade. Este era o dia mais feliz do mundo. Quando o mundo, ao ser Felicidade, esquecia-se de ser Tristeza.



Aspas do Autor: Quantas Tristezas não se escondem por aí, desejosas de transcenderam para Felicidade? Milhares. Muitos são mais Tristezas do que Felicidades. E devia ser o contrário...O mundo precisa acordar Felicidade mais vezes e por mais tempo, deixando a Tristeza sumir por muito mais tempo. Abraço a todos.

10 comentários:

Palladino disse...

SEM DUVIDA, ERAMOS + QUE FELIZES E NEM SE QUER SABÍAMOS! BONS TEMPOS!!!!

Wendel Valadares disse...

"Acho que o quintal onde a gente brincou é maior do que a cidade. A gente só descobre isso depois de grande..." (Manoel de Barros)

Camila disse...

Foi um fim inesperado! Estava imaginando uma criança linda, de olhos claros, pele branca como neve !! Gostei bastante *-*

Mafê Probst disse...

Eu fiquei de queixo caído quando vi o nome da menina. Triunfal esse teu final, tão lindo!

Outro magnífico texto ♥

www.fernandaprobst.com.br

dianadias disse...

Gostei imenso! :')

♥ Luciana de Mira ♥ disse...

Gostei de ler! Beijos!

Mayra Borges disse...

Fui formulando pensamentos e palavras pra escrever assim que terminasse de te ler, mas a conclusão desse texto me arrancou todas elas e me encheu de alegria, beleza e paz.

Só tem um jeito pra escrever tão bonito assim, você é daquelas poucas pessoas que escrevem com a alma e carregam as palavras e entrelinhas de sonhos.

Texto maravilhoso, Alexandre.
Forte abraço pra ti.
eraoutravezamor.blogspot.com
semprovas.blogspot.com

Lunna disse...

Gostei da imprevisibilidade do texto.

Beijos
http://manuellamontesanto.blogspot.com.br/

Bandys disse...

Eu ja fui muito essa menina, até que aprendi que podia mudar de nome, atitude e expressões.

Belo texto, menino!

E viva a alegria, felicidade e os momentos felizes.

beijos

Renato Almeida disse...

Um final surpreendente, e como sempre nos fazendo viajar com suas belas e bem formuladas palavras.
Até mais, e um ótimo fim de semana. http://realidadecaotica.blogspot.com.br/