(B)ecos...

27 de abril de 2013




Dou passos sorrateiros em ruelas estreitas levando a nobreza de uma poesia fulgurante e soberba. Mas o mundo tem sua força. Sinto o desafinar dos tons em cada passo arrastado com o qual a minha alma se lança. Não sei compreender o mínimo. Fico sentido e quebradiço com as nuances impostas. O mundo reage ao meu doce delírio de esfumaçar o teor do meu querer, me entorpecendo com suas mãos pétreas e frias. Cada mexida tilinta e a vida me remonta com seus (b)ecos atemorizantes. A experiência desse vagueio me desatina a apinhar os fascínios do meu melhor ser, com o doce intuito de minar esse flagelo interminável.

Não irei mentir. O medo, em muitas ocasiões, me assinala em meio à trilha. Às vezes pesa o fardo de tanta fé. A rijeza da realidade me contrapõe na parede me colocando no lugar. Ecos de dor sussurram pelas cadeias nervosas do meu peito, dilacerando-me ao meio, estilhaçando minha crença e rebatizando o meu anseio com duros baques. Vou sob a leveza da minha verdade tão enraizada, nutrindo o meu íntimo com o néctar do meu amor, com o dote singular que enfeita minha alma. Caminho com os presentes guardados no bolso, os sonhos embrulhados na antessala do meu coração.

Os becos pelos quais eu devaneio, são envoltos com aspereza e incididos com um aroma de difícil inalação. São nessas travessas em que há o confronto entre razão e emoção; conflito entre sonho e realidade. Caminho à margem dos piores pesadelos, travando um duelo com os meus princípios, meus ideais tão embevecidos com o brilho dos meus sentimentos - legítimos e fiéis. O mundo ecoa de forma visceral sua melodia tão orgânica, tão (pro)funda e angustiante. Todos os lados parecem cantar as cifras de suas armas afiadas e incapacitantes.

A minha peregrinação, meu fortuito jeito de incidir o corpo diante das belezas e agruras da vida é o que me faz interagir, o que me autentica a permanecer fiel nessa vontade macro em topar com o amor puro, abundante e apaziguador. Mesmo que os (b)ecos possam me assustar, me penetrar com um medo gélido e cruciante, persisto, me alinho – paulatinamente – na insalubre condição em que a vida me põe, para alcançar os tão sonhados momentos pelos quais a minha alma apetece. 

Sou elevado pela vigorosa fé, carregado pelo arroubo dos encontros, pelo sublime odor que afloro na minha incansável busca pelo belo. Entre (b)ecos vou aprimorando minha débil orientação e alimentando o meu vício altivo em amar demais...



Aspas do Autor: Porque os caminhos, em alguns momentos ficam estreitos, me sufocam com seus ecos estridentes... Sonhar me transporta, me alveja com bonitezas, mas só eu sei o quanto a realidade me põe no meu devido lugar...

19 comentários:

Fernanda Fraga disse...

Esses (b)ecos nos ensinam muito, são entradas e saídas para além do que é sonhado e virá reticências e um eco na alma.
Amar é aquela plenitude que se alcança e se paga por doer e sentir um tanto só-a-mais.
Um beijo.

Ariana Coimbra disse...

Eu vivo em constante luta entre razão e emoção e esse becos são cheios de surpresas.
Amar é uma surpresa diferente a cada dia que passa.
Lindo poema Alê!

Beijos

Jessica G. disse...

Os passos que ecoam nos becos sorrateiros das vielas estreitas já não oferecem imagem lúgubre ao observador que por aqui passa. Ao contrário!

Obrigada pela excursão por suas palavras labirínticas, por transformar em poesia as angústias que nos impõem as bifurcações dos caminhos, e suas escolhas...

Simplesmente lindo.


Jessica

Anónimo disse...

Oi, querido Alexandre?

Tudo bem?

Passndo por seu espaço, não pra comentar sua obra prima, só mais uma, mas pra te deixar um beijo e um abraço bem carinhoso.

Dia deliz, com ecos de amor.

Beijos da Luz, com estima.

Luzia Medeiros disse...

Um belo texto, mais um entre tantos por aqui.

Os becos não me assustam, apenas algumas pessoas que passam por mim que não tem nenhum pouco de amor no coração.

Beijos.

Wendel Valadares disse...

Becos de nós. Ecos em nós. Sós.

São esses becos e ecos que nos reconduzem às belas paisagens que nos habitam e que tantas vezes acreditamos não existir.

Muito Bom!!!

Um abraço meu.

Maíra Cunha disse...

Mas o que seriam de nós sem esses becos? Lhe desejo becos e mais becos, porque eles lhe ensinam e te faz escrever assim! Não sumi não, passei por uma semana difícil, mais estarei sempre aqui contemplando a sua arte!

fazdecontatxt.blogspot.com

♥Sophie♥ disse...

Que texto lindo, bastante forte e emotivo. Gostei bastante!

R: Obriga pelo o comentário no meu texto, mais uma vez fico bastante feliz.

Beijinhos :)

Mayra Borges disse...

E como prometido, aqui estou eu.

A vida tem milhões de atribuições, analogias, e dentre tantas uma me chama a atenção e também vem a calhar devido ao contexto. A vida é uma megametrópole, e então entram os becos, escuros, estreitos e/ou sem saída, ruelas, esquinas e também avenidas para nós, de nós, em nós. Nós não somos, apenas estamos!

Belo conto, forte e repleto de significado, faz refletir! Ótimo.

www.eraoutravezamor.blogspot.com

Anônimo disse...

Eu já cheguei a pensar que a realidade me colocava no meu devido lugar.
Ah, mas eu sou tão teimosa...
Penso que os audaciosos que carregam amores, sonhos, e fardos pesados de tanta fé ao desbravarem os becos que habitam o seu próprio ser, hora ou outra plantam flores e pintam suas paredes de azul cor do céu.
Desconfio que meus becos são também labirintos. Hora ou outra me perco, mas sigo em frente, faço o retorno, ando em círculos, e sempre acabo me encontrando quando passo naqueles lugares que por pura teimosia, readaptei de acordo com a minha realidade (que convenhamos, nem é tão real assim haha)
Beijos!
Flor

Renato Almeida disse...

(B) ecos esses que nos ensinam a aprender com nossos erros e escolhas nem sempre bem feitas, ou impensáveis. Como sempre um texto impecável. Muito bom, muito mesmo.
http://desventuras-em.blogspot.com.br/

Mafê Probst disse...

Penso que carrego muitos desses becos comigo.

Que tua busca pelas nuances não-impostas, pelo bonito da vida, as letras, das palavras não se acanhe nem se ofusque nunca. Que haja sempre esse dom de nos presentear poesias e arranjos de frase pra lá de perfeitos.


Um suspiro meu.

Anônimo disse...

E assim é a vida: caminhamos com alguns desvios e, no entanto, embora não existam certezas do caminho mais correto, aquele que trilhamos é o mais próximo do que condiz conosco.

Pâmela Marques disse...

Alê,

Eu penso que o amor é um misto de perda, dores, euforia e paixão. A gente se perde nesses becos, mas algum dia - certeza -, encontraremos alguém nessa mesma situação. Acredito piamente que a vida é um labirinto de corações que se buscam.

E continue alimentar esse seu vício, pois amar é o que nos torna vivos.

Adorocê! ♥

Bandys disse...

Descobri que todo os meus becos são com saidas... as vezes por mais que estreitem não me vejo mais no direito de reclamar e sim, procurar a saida

Beijos

Blog Love In Red disse...

Colocando minha leitura em dia por aqui, rs... fiquei distante, eu sei... mas cá estou embriagada de tantos textos, sentimentos.
Estava precisando ler "certas" coisas aqui. Às vezes, escuto ainda hoje, os "ecos" de um tempo em que estava em "Becos" escuros...

Tenha uma quinta-feira abençoada.
Fique com Deus, beijo Pâm.

http://pamellaferracini.blogspot.com.br ❤

Amanda disse...

Que lindas palavras, parabéns!
xoxo
Pimenta Rosa

Neon Rider disse...

follow you!!
please follow me :))
nice blog!


www.beautyandfashion-makeup.blogspot.com

A vida de Sangue&Alma disse...

Belíssimas palavras! Estive perdida entre os (b)ecos da minha vida também, só precisei silenciar e ouvir meu coração para encontrar a saída.