Estranho (no) mundo

19 de maio de 2012




“Por entre abismos e florestas
Por Deus nunca me vi tão só
É a própria fé o que destrói
Estes são dias desleais”
(Metal contra as Nuvens –Legião Urbana)


Tudo destoa. Os dias já não se destacam como antes. As horas, no relógio, parecem girar no sentido contrário. Não há sentido. Mas estou sentido. As sensações são vagas e quase não triscam na minha humana pele frágil. Por vezes sinto que a gravidade deste mundo é muito maior pra mim. Ela me suga e me consome com uma força que em alguns momentos me reprime. Tem horas que sinto dificuldades em caminhar, em trasladar meu corpo até os lugares que aspiro e guardo dentro dos meus sonhos mais dourados. Há momentos em que tudo se esfarela a nada e só me resta, em torpor, assistir a minha derradeira queda.

A cinza se desdobra pelos olhos e a dor pinta o céu de extensa fuligem, negror que indica o quanto tudo me é estranho. Meus olhos enfraquecem diante do que vê e exprimem em lágrimas a distância que me separa das rotas comuns, das vias mais transitadas, dos trajetos mais seguidos. Sou caminhante só, de uma trilha pouco conhecida ou abandonada. Meu trajeto não é o melhor, nem o pior. Nem sou mais ou menos. Não me sinto superior, muito menos inferior. Apenas dou passos numa terra, pra mim, silenciosa e erma. A dor que externo é apenas a minha vontade de ter mais passos juntos ao meu, de encontrar companhias que se identifiquem no meu abraço, no aperto da minha mão e nos sentimentos que meu coração rege.

Sou um estranho neste mundo; uma palavra destacada na frase deste livro; uma folha desprendida da árvore pelo vento forte. Sou peça de outro quebra-cabeça, que não se encaixa na imagem que a vida monta. Sou melodia de uma música que este mundo é incapaz de cantar. Meu brilho não cintila na sintonia com as estrelas deste céu. Ouço sons e vejo imagens que não se costumam ouvir e ver. Sou pura estranheza num ambiente que se esforça para me abranger e acolher. Sou errante desejando o frescor de um olhar cúmplice e compreensivo, de um sorriso que me entenda, um peito que me receba. Mas não dá. Não me sinto num lugar comum. Não sei realmente se sou natural desta galáxia.

Pode parecer surreal e idealizado demais, mas quero somente viver num mundo que acolha a profundidade do que acredito e a concretude das minhas ideias e a beleza dos meus sonhos. A diferença não me dói, porque a diferença é que traz o encanto, mas sim a falta de uma identificação, uma minúcia, algo em comum, que sequer encontro pelos cantos que meus olhos enxergam. As dores escapam pelos poros, em denúncia ao sofrimento do coração. Sou ser imaterial. E o mundo me atravessa. Os pingos de chuva caem, mas teimam vertiginosamente em não me atingir.

Meu oxigênio é o amor e o meu sangue é a esperança. E estes dois elementos, enlaçados, são que me consentem a viver, a continuar e perseverar pelos meus sonhos. Nestes dias tão desleais, neste ambiente tão incrédulo de mim, ainda persisto, mesmo após a queda. Mesmo nos momentos em que tudo parece desfocado, meio torto e inseguro, não deixo de acreditar nas ideologias que me fazem ser o que sou, nem deixo de cultivar a fé que mora no meu peito tão transparente e pujante em sinceridade e lealdade. Vivo num mundo que está além de qualquer compreensão. Vivo num jogo que sou incapaz de responder à altura. Sou ingênuo demais para captar os sinais de uma vida astuta.

Sou pueril a ponto de não corresponder com trejeitos de gente grande, com a firmeza necessária de um ser humano ascendente, de um espírito que estás a crescer. Talvez eu seja menino demais ou muito sonhador. Desato as ações com o frescor simples de quem muito quer ser feliz; de quem luta para que as coisas deem certo. Mesmo que às vezes não entenda o andar da carruagem, nem mesmo consiga mensurar os erros que cometo no afã espontâneo de sentir. Eu queria ser alguém melhor para que eu fosse mais sensível, para que eu correspondesse com mais compreensão, com mais zelo e cuidado com as pessoas. Só queria aprender a amar. Peco por excessos, mas também por muitas deficiências. Fujo demais do comum. O que faço não está imbuído com malícia, nem com vis interesses. Vivo com uma franca necessidade de cuidar, de ser cuidado, de amar, de ser amado, de ser feliz e fazer feliz. Traço rotas para encontrar um seio, um destino onde eu possa ser um fidedigno vivente e companheiro.

Eu me destoo e me perco. Sou estrangeiro vindo de muito longe; um estranho tentando se encontrar nesta indiferença que se rege no ar. Sou aluno de uma escola em que poucos estudam. Sou andarilho numa calçada solitária; numa rua inóspita; num vasto deserto. Sou ser andante sem lugar definido pra ir, num lugar em que o meu coração, desde que neste solo pisou, decidiu firmemente a andar...





Aspas do Autor: Ando estranho de tudo. Pareço viver no mundo errado. Tudo parece estranho a mim. Persisto por coisas raras... É caminho para poucos. Eu sei. E talvez o coração saiba, realmente, onde me levar... Não é o fim. Ainda. E sim, vai dar tudo certo! Eu sei. Sei?

13 comentários:

Anónimo disse...

Oi Alexandre,

Li seu texto, como sempre, semântica e morfologicamente perfeito.
Você escreve com sentido, mesmo que esteja sentido com o mundo e do mundo.
Esse não é o que nós queríamos, mas dias melhores virão, tenho certeza.

Mas para viver, pouco mais é preciso que o oxigênio, o AMOR, e esse você o tem. Então seja muito feliz.

Bom final de semana.
Beijos da Luz.

Fabiana Nunes disse...

Olá, querido! Será que se lembra de mim? Acho que essa sensação de 'não pertencer' é uma das mais dolorosas e significativas que um ser humano possa esperimentar. 'Só queria aprender a amar' é a chave de tudo, meu amigo. Mas como??? Posso dizer que você não está tão sozinho assim no caminho da estranheza, vamos dar as mãos? :) Que Deus possa nos conceder ao menos paz e serenidade em nossa caminhada inóspita.

Annie dos Ventos disse...

Existe uma enorme estranheza em dormir todas a noites, acordar todas as manhãs, e comer todos os dias.
Mas o momento em que eu me sinto mais estranha e perdida é quando não ouço meu coração. E não são poucos momentos...

Lindos ventos pra ti

Annie dos Ventos disse...

ah e muito obrigada por visitar meu cantinho=)

Luzia Medeiros disse...

Realmente, as vezes, perseguimos sonhos, seguimos caminhos aleatórios aos que as outras pessoas seguem, por isso esse sentir estranho.

Desejo que, em meio a tantas estradas você encontre a que te faz feliz.

Beijos.

Bandys disse...

As vezes queremos coisas que não são nossas..
Não se acostume com o que não o faz feliz, revolte-se quando julgar necessário.
Alague seu coração de esperanças, mas não deixe que ele se afogue nelas.
Se achar que precisa voltar, volte!
Se perceber que precisa seguir, siga!
Se estiver tudo errado, comece novamente.
Se estiver tudo certo, continue.
Se sentir saudades, mate-a.
Se perder um amor, não se perca!
Se o achar, segure-o!
Fernando Pessoa

Beijos

Carolina disse...

Digo que senti daqui sua sensação de estranhamento com o mundo, pois também a vivo de certa maneira. Às vezes sinto que caí aqui de para-quedas, e que continuo caindo... mas uma dia a gente se acerta. Tem que acertar.

Maíra Cunha disse...

Me sinto assim inúmeras vezes, sou sozinha mesmo rodiada de pessoas, é um problema de dentro pra fora, com uma necessidade enorme de cuidar e ser cuidada, ótima postagem!

Mayara e Bruno disse...

Quase sempre me sinto bem por me sentir estranha nesse mundo repleto de gente idiota. Belo texto, beijos.

Anônimo disse...

Estranhos no ninho, penso que todos nós somos. Pelo menos sempre existe um momento para isso acontecer. E sabe o que podemos fazer? Mudar de ares, definitivamente.
Obrigada pelas suas felicitações em meu aniversário, amigo. Um abraço!

Hellen Caroline disse...

Te conhecendo um pouco que seja,sinto que estás prestes a se encontrar e seu coração moradia logo encontrará ;)
Passando para deixar um beijo doce para meu anjo!
Ótima sexta!

Tammy disse...

Oie querido,
tem um selinho pra você no meu blogger.
Para agradecer pelo carinho que sempre me ofereces.
Grande beijo Alexandre.
http://umarazaoparaescrever.blogspot.com.br/2012/05/selinho.html

Heitor Lima disse...

Que texto maravilhoso, mano! Traduz os sentimentos de tantas fases da vida... amei o terceiro parágrafo. Inspirador e profundo. Parece com um pouco do que estou vivendo agora :X
Enfim... Até mais :)