A separação do sorriso

15 de outubro de 2011




Foi um vislumbre belo. Em meio ao infinito, ao sem fim que ali simplesmente existia. Num momento indefinível, o encanto se fez canto; o silêncio ecoou. Da sua boca foi soprado um pedaço de si. Um sibilo do seu magistral amor. E ao redor, ele pôde contemplar sua mais nova criação. Um ser perfeito, com curvas de doçura. Reflexo do criador. Partição amorosa e plena de si mesmo. O batizou de sorriso. Um ser que carregava o encanto mais sublime existente em todo o universo; a própria essência magnífica da felicidade, exultada pelo expresso desejo de um ser supremo. Era perfeito porque foi assim imaginado por ele

Ao contemplar sua criação, uma ideia se maquinou no seu íntimo. Imaginou uma brincadeira com o sorriso. Transportou o mesmo a um mundo em que o tempo e o espaço reinavam; onde a imperfeição rondava e a maldade ou bondade seriam escolhas possíveis. Porém, para que o sorriso, um ser perfeito, pudesse viver naquele lugar, era estritamente necessário que a perfeição fosse abdicada. O sorriso aceitou. Quis sentir a vida mortal. Fez a vontade do supremo, que então o separou de si. Eram agora dois. Metades de um sorriso. Agora incompletos. Carentes um do outro. Metade homem, metade mulher. Metades precisas a si. Portanto, ao estarem divididos, eram agora imperfeitos.

Naquele mundo, eles perderiam a memória. Esqueceriam que foram unos e perfeitos um dia. Nasceriam vazios, e cresceriam com ajuda do tempo. Aprenderiam com a clareza que ainda se mantinha como resquício da origem perfeita. Residiriam em invólucros carnais e limitados, para que pudessem andar sobre a superfície do mundo experimental, que se banhava com a imperfeição do que ainda está em construção. Teriam a função simplesmente de habitarem, sentirem o finito que se espalha pelas moradas do tempo e do espaço. Seriam moradores de um mundo carente de inteiros. Um mundo onde metades se buscam para se findarem. 

Não seriam mais que almas gêmeas desprendidas de si. Perfeição despida, deposta pela benigna vontade de um ser soberano. Eles levariam no íntimo a completude um do outro; a peça final do quebra-cabeça; a totalidade de um recipiente preenchido até o meio. Nunca se sentirão completos, por mais que sintam encantos belos e felizes em vida. E intuirão esta falta. Uma solidão assimilada em meio a tudo. As metades sentirão a frieza imposta no calor e a ausência diante de milhões de presenças. Hão de sentir que algo lhes falta, que algo foi arrebatado antes de virem ao mundo. Sentirão saudade de algo desconhecido. E olharão para o horizonte, em busca deste pedaço solto. 

As metades de sorriso então nascerão propensas a se acharem. O jogo seria viver, sentir a plenitude de uma experiência diferente. A mais transcendental de todo o universo. Esta seria a grande aventura na qual embarcariam. Uma sutil brincadeira onde cada um viveria o máximo para preencherem as lacunas de perfeição que foram extraídas no ato da divisão. Conviverão pelo mundo em busca da junção definitiva com a sua outra metade. Porque somente juntos, o ato de sorrir seria completo. A função era se encontrarem, se colidirem eventualmente pelas esquinas desta nova vida. Era uma restrição necessária. Porém, encantadora. 

Por conta do limite desta vida, nunca chegarão a ter clareza esclarecedora quanto a isso. Nunca entenderão a agonia que alerta a falta. Desejarão voar, mesmo que não haja asas. Ansiarão se unir, mesmo sem ter certeza a quê. Estarão sós, num caminho em que apenas o outro, exclusivamente se encaixa. Entretanto, contarão com um auxílio nesta busca. Mesmo divididos, morando na limitação de uma vida mortal, suas metades se conduzirão e, ainda que sutil, conseguirão manter suas atrações mágicas. Há um ímã que os atrai de alguma forma. Suas essências são gravitacionais a si. Uma seduz a outra. Os caminhos acenarão com ajuda de estrelas guias, luzes que direcionarão o encontro. 

As metades de sorriso viverão para se encontrarem. Irão se amar, mesmo sem se conhecerem. Mas dia ou menos dia, este encontro irá acontecer. Cedo ou tarde seus rios irão confluir e se tornarão um só. Na medida e no tempo necessário, estes seres gêmeos se unirão enfim. O momento chegará. É absolutamente certo! Categórico! O dia já está escrito! Eles caminharão a trilha da imperfeição para alcançarem o da perfeição, novamente. Darão passos para se aproximarem e se completarem; serem unos. E assim, inevitavelmente, os sentimentos vincularão, como um impacto divino, capaz de estremecer o universo. Acontecerá então, o definitivo, encantador e sublime enlace formoso do amor. Almas gêmeas separadas, que enfim, atrelarão suas metades uma na outra. Haverá o encaixe supremo, a união doce, o elo final. Perfeito. A vitória do amor. A felicidade derradeira. A gênese do sorriso pleno...




Aspas do Autor: O esboço desta historinha passeou pela minha mente a semana toda. Eu precisava mesmo colocar em palavras. E aqui está. Falei de sorriso, porque adoro sorrisos. Eu particularmente sou atraído. No mais acredito também que há algo em nós pelo meio, um pedaço que nos empurra para o outro. Aquele que nos completa. Creio que somos metade em busca da outra. Dois em busca de ser novamente um. Acredito. E esta certeza do encontro se faz forte a cada dia. É o que me faz persistir e jamais desistir da outra metade do meu sorriso. Afinal, tornar o sorriso completo é algo certo. O momento não importa. Será. Fatalmente. Bem, no mais a inspiração continua inflada, intensa e transbordando. E sob a condição atual, realmente surpreende...

13 comentários:

Tammy disse...

Deveras nunca li algo tão sublime prazeroso.A maneira delicada e doce que você une as palavras e as dá um sentido tão puro.Sorte daquela que pertence a ti!Se eu pudesse entregar-te uma medalha seria de ouro,desses que ainda estão brutos para não perder o realismo.Tentei te seguir mas infelizmente não consegui!E de fato,será um prazer caminhar nesse horizonte tão vigoroso e belo.Suas palavras são como uma aurora fascinando os olhos daqueles que esperavam seu deslumbre.Agora tens uma leitora que admira suas palavras tenazmente,sem ruides ou enfado,apenas agradecida pela sua gentileza em nos presentear com seu talento.
Um Grande Abraço,
Tammy.

Flor de Lótus disse...

Oi,ALF!Sorrios também me fascinam, procuro sorrir o máximo possível,mesmo quando minha vontade maior é chorar.Com certeza acho uqe existem almas gêmeas e que um dia iremos encontrá-la e ao olhar no fundo dos olhos do outro saberemos que aquela é a pessoa que nos completa.
Um ótimo domingo!
Beijossss

Ataniel Santos disse...

O pessoal me pergunta o porquê de viver sempre com um sorriso estampado no rosto, o porquê de nunca demonstrar a tristeza interior. Sei o quão grandes são os problemas que nos cerca, faz a gente desistir de tudo. Mas, quando olho pro céu e vejo que acima de mim, há um Deus que me ama, toda a dor, todo fardo se esvai. Sinto que posso sorrir mais e mais...
Que a inspiração seja permanente e torne-se completa com os sorriso que lhe são oferecidos.
Parabéns, meu amigo!
Um forte abraço!

Ataniel Santos disse...

Ah! Tenha uma boa semana!

Luzia Medeiros disse...

Quanta doçura em suas palavras! Eu até senti falta de um sorriso que não conheço ainda, mas que desejo ardentemente conhecer um dia, pois o que seria da vida sem sorrisos, que são como uma luz divina que ilumina nossa estrada em meio a escuridão, essa estrada chama-se solidão.
Eu quero acreditar que existe um sorriso a vagar por essa vida errante e um dia nos encontraremos.
Beijos, sim e você tem plena razão quando diz que sorriso atrai, concordo plenamente, pois não há nada que nos envolva, que nos chame feito ímã, quanto um sorriso sincero, cheio de encantos.

Anônimo disse...

Minino!!! Como vc escreve bem! E que emocionante! Que leitura deliciosa, entremeada de esperança e sentimentos. A gênese do sorriso pleno! Uma ideia perfeita pois o amor é completude, o amor é alegria, o amor é meio e fim em si mesmo.
Que lindo.
Bem, convido-o a conhecer meu blog. Será uma honra para mim contar com sua presença e um prazer ler seus comentários. Aliás, cheguei até aqui por conta de um comentário seu no blog de uma pessoa amiga.
Espero por vc.
Beijokas e uma semana produtiva e feliz.
Seguindo...

Bandys disse...

Ale,
Voce diz tanto, que não sobra nem um tantinho pra mim, rss. Diz coisas tão belas, tão bonitas, que eu vou alem e deixo pra voce:

" Quero sempre poder ter um sorriso estampando em meu rosto,
Mesmo quando a situação não for muito alegre...
E que esse meu sorriso consiga transmitir paz
para os que estiverem ao meu redor.
Quero poder fechar meus olhos e imaginar alguém...
E poder ter a absoluta certeza de que esse alguém
também pensa em mim quando fecha os olhos, que faço falta quando não estou por perto.
Queria ter a certeza de que apesar de minhas renúncias e loucuras, alguém me valoriza pelo que sou, não pelo que tenho...
Que me veja como um ser humano completo, que abusa demais dos bons sentimentos
que a vida proporciona,
que dê valor ao que realmente importa,
que é meu sentimento...e não brinque com ele."
Mario Quintana


Ah moço, que te adora sou eu viu?

Beijos meus

Tay disse...

OMG' adorei o texto, prendeu minha atenção do inicio ao fim *-*
amei xD
bjus ;*

vanessa cony disse...

Alexandre...Sentir o amor assim é experimentá-lo em toda a sua plenitude antes mesmo de concretizá-lo.E é por isso que teu coração insiste.
Beijo e obrigada pelo carinho.

Angella Reis disse...

Maravilhoso o que escreveu Alexandre. Aprecie bastante a forma como desenha suas linhas, tem uma jeito encantador de dar vazão e deixar fluir os pensamentos.

Bjs *--*

Evelyn Dias disse...

Oi Alê. Finalmente né. Que saudades amigo *-*
Vejo uma construção sublime aqui. Quão belo escreves, é sempre uma doçura te ler. Ao embelezar suas linhas cativando sorrisos e emoções.
Parabéns viu! E desculpa não ter aparecido antes, não deu mesmo. Muito obrigada por seu carinho no meu blog. Te adoro! :* beijo.

Rodolpho Padovani disse...

Alê, amigo, primeiramente tenho que agradecer sua incrível presença no meu espaço, dividindo sorrisos e me fazendo sorrir, apesar de minha falta aqui contigo, mas isto vai mudar, estou de volta agora e pretendo ficar, haha.

A história do sorriso nunca foi tão melhor contada. Eu sorri e imaginei as formas, os detalhes, os enlaces, a busca e todo o resto e você me fez acreditar que por mais que tenhamos no rosto um sorriso radiante, ele ainda é meramente uma metade do que pode ser quando se tornar perfeito.
Você transmitiu sua convicção de que almas gêmeas existem e de caminham invariavelmente uma à outra, numa busca incessante para encontrar sua parte perdida.
Talvez minha esperança de tropeçar e encontrar minha outra metade tenha se reacendido enquanto eu lia e meu sorriso parcial se formava.
Gostei muito e vi que voltei na hora certa pra dividir um sorriso aqui contigo que fez dele uma arte magnífica.

Abraços e até a próxima.

wanessinha disse...

oi tudo bem ..olha vi aqui lhe retribuir a visitinha que me fez viu....olha aqui seus texto são muito lindos..
seu blog e todo lindo GOSTEI MUITO ...sempre que puder me visitar da uma visitada ok..pois eu sempre estarei aqui pra te visitar tmb...pois gosto de visitar quem me visita adorooooo..
XAUZINHO fica com DEUS..FIQUEI TRISTI POIS VC ME VISITO E NAU ME SEGUIU..POIS EU TO TE SEGUINDO JA..