Do que se foi...

6 de fevereiro de 2010





Nem tudo que se foi se perdeu dentro de mim. Não são cacos, nem migalhas, são pedaços inteiros de vivências. São rastros do que cada sensação significou para mim. São espelhos de momentos. São sementes de emoção. Não são apenas pedaços do que tive de bom, mas também fragmentos das dores que já vivi e tive que suportar. Mas não guardo as coisas ruins por prazer ou para sentir as lágrimas fluindo. As tenho para lembrar que eu as superei e para transformá-las em boas recordações. Porque quando me lembro das quedas que levantei e dos muros que precisei esmurrar para quebrar, dos socos que levei, das dores que sofri, recordo do aprendizado que angariei, da verdade que precisei descobrir, da luta e persistência que fui obrigado a ter, e do amadurecimento que foi necessário a mim. E chega o momento em que os ruins se tornam bons. Pelo que realmente pude nutrir.

O que se foi nunca foi totalmente. Ficam para saber que vivi e que fui humano, que compartilhei e espalhei emoções, que me desdobrei e recorri a alternativas, errei, me enganei, sofri, sorri, pulei de alegria, adoeci de emoção. Não se vão, porque vivem nas minhas recordações. E se recordo me emociono. E se me emociono é porque sinto que tornei minha vida vivida, intensa e repleta de anseios, sonhos e realizações; até mesmo decepções e frustrações. Nem tudo que se foi realmente foi. Porque eu também não quero que vá. Não as quero esquecer. Nem o mínimo sopro de vento que teimou passar no meu âmago. Nem mesmo o pequeno sorriso e piscar de olho presenteado a mim. Nem mesmo aquele amor que o destino separou de mim. Nem toda a dor presente nas minhas experiências.

A dor já não aluga mais minhas lágrimas, mas apesar de tudo não significa que sou impassível a ela. Nada do que falo e vivo me faz ser de ferro. O caminho é árduo e longo. Tenho também os momentos sós, de pura reflexão. Horas de desapego, desassossego e choro espontâneo. O corpo necessita desabafar às vezes. Mas a emoção vivida também me emociona e me arranca muitas lágrimas de felicidade. A cada dia torno-me mais próximo do sorriso, mais companheiro da minha felicidade. Porque tudo que foi, deixou um pouco do que de verdade significou pra mim. E o que significa, é o que dá substância à minha alma e vivacidade ao ritmo do meu coração. Não tenho respostas. Crivo-me de perguntas. Porém, caminho liberto e vivo. A cada segundo posso estar próximo de viver a resposta e nem mesmo perceber. Quando menos espero estou diante de novos pontos cegos. É por isso que guardo. Como cartas não enviadas. Dá certo alívio, como também certo anseio.

Faço de tudo o que me caracterizou uma ponte para maiores descobertas. Porque aprendi que não devo esquecer-me de nada. Seja uma enorme cicatriz ou uma grande conquista. Não crio classificações. Nem faço separações. Não procuro ser preconceituoso com as experiências, nem plantar mágoas com o que fizeram comigo, ou que o destino aprontou comigo, nem lamento ou me frustro, ou me arrependo do que fiz. Todas as sensações e vivências fazem parte de mim, do meu ser, do que vi, vivi e senti. Por que esquecer o que me ajudou a tornar o que sou hoje? Não importa se melhor ou pior, mas a pessoa de agora é diferente, tem uma percepção maior, mais esclarecida.

Não teria sentido nem mesmo esquecer ou deixar de acreditar em algo simplesmente porque senti uma dor. Por mais estranho e confuso que seja, respeito o caminhar das coisas. Acredito numa razão por trás de tudo. A vida me ensina todo dia a crer nas coisas, mesmo que o amanhã pareça impossível. Não me endureço porque sofri ontem. Nem deixo de acreditar na felicidade porque uma pessoa me magoou ou porque a vida me estapeou. Nem deixo de crer nas pessoas, porque apenas uma em particular me feriu. Não generalizo o que vivo. Cada emoção é cada emoção. O que encontro de ruim hoje, posso encontrar de bom amanhã. Porque não faço estereótipos da vida, nem mesmo nomeio situações pelas que eu já vivi. Vivo na surpresa e continuo minha fé. Porque cada dia é um dia novo. Com experiências novas e emoções diferentes.

O que se foi vive dentro de mim, como um sábio conselheiro. Entre dar um passo pra trás e um pra frente, prefiro ir pra frente, mesmo que inesperadamente eu caia num abismo. Peco por fazer, mas não peco por não agir. E arrependo-me apenas do que não fiz. Faço de tudo que se foi uma escada para alcançar vitórias. Porque o que se foi nunca será um fardo, nem uma dor, mas uma porta. Uma porta que me leva a mil oportunidades. Oportunidades que geram aprendizados e esclarecem caminhos.

Guardo para sempre cada segundo e pedaço do que me foi proporcionado. Porque viver mesmo, a gente só vive uma vez.

 
 
 
   
Aspas do Autor: Antes até que sim, mas hoje não me prendo ao passado de forma negativa. Nem ele me traz dor agora. Ele pra mim é um álbum de fotos. Sempre que dá vontade lembro do que vivi e tudo que senti. E assim aprendo a fazer meu futuro com cautela, tendo perseverança e muita fé. Relembro o passado, mas vivo o hoje, construindo o amanhã. Há um tempo atrás, foi muito confuso soltar as palavras de dentro. Por ser imaturo, era dolorido e bom ao mesmo tempo. Porém, hoje aprendi muito e assimilo tudo com mais clareza, e então está mais fácil falar de mim. É uma coisa da qual necessito muito. Traduzir um pouco do que sinto, de transportar um pouco do meu “eu” para as palavras sempre me deu certo alívio. É algo que afaga e dá conforto à alma. Falar do que sinto particularmente sempre foi o meu forte. Escrever contos e poemas me proporciona uma coisa ótima e diferente, entretanto falar de mim e do que sinto sempre vai ser uma preciosidade. Porque é o elo que mais me ajuda a aprender. Meu intenso carinho a todos.

23 comentários:

Kari disse...

Que lindas palavras, meu amigo!
Eu queria ser mais assim, como tu descreveu tão bem. Mas eu ainda guardo algumas mágoas. Mágoar de um perdão que ainda não consegui dar. Mágoa de um desprezo que ainda recebo.
Mas não deixo de aprender ou seguir em frente. E sim, cada dor e cada cicatriz do corpo ou da alma, teem grandes significados.

Beijos

Admin disse...

Sou um cara que não sinto mágoas de ninguém, que bom que sou assim...

Non je ne regrette rien: Ediney Santana disse...

vivencias, caos, desordem, buscas..esse texto me colocou nos trilhos da reflexão

Gabriela S. * disse...

Lindo o jeito como vc escreve,a postagem me passou emoção transpareceu clareza e td mais.
PARABÉNS pelo blog,continue assim
BEIJOS E SUCESSO !

Sempre querendo saber disse...

Amor,me indentifico tanto com vc!!!
Mas vc já sabe disso né?
Bjão

Bill Falcão disse...

Concordo com você, Alf! Não devemos generalizar o que acontece conosco. Sejam fatos bons ou ruins.
Aquele abraço!

Nise disse...

Gostei muito do texto.refleti sobre muitas coisas.Bom domingo.
Beijos.

HSLO disse...

Gostei muito do seu blog. Voltarei outras vezes aqui.

Vou te linkar ao meu.


abraços

Hugo

Jana disse...

eu sou o tipo de pessoa que se apega demais ao passado, principalmente o que ele tem de ruim, guardo mágoa, e muitas vezes não sei perdoar. talvez seja um modo de proteção, não sei.
mas passado é recordação, e nem só de dias ruins é que ele vive. as vezes é preciso superar e seguir em frente, né?
Belas palavras.
Obrigada pela tua visita carinhosa.
Beijos! :*

Carolina disse...

Nunca fui de me prender ao passado. Não me permito remoer um assunto por muito tempo, sempre acabo estipulando um prazo, mesmo que inconscientemente.
"Não teria sentido nem mesmo esquecer ou deixar de acreditar em algo simplesmente porque senti uma dor." Concordo plenamente com isso.
E sabe, falar de mim tomou conta de mim. Completamente. Tanto que já escrevi vários contos mentalmente, mas não consigo passá-los para o papel. Um dia eu chego lá.
Um beijo

Wesley Bezerra disse...

Inquietacões... mas já dizia salomão, melhor mesmo pensar menos... saber menos... sofrer menos!

Nina Vieira disse...

Passado, pra mim, é algo que ainda condena.

Laís Dourado disse...

É muito legal viver intensamente e "pra frente", mas é preciso ter cuidado mesmo na hora de avançar, pra não acabar pulando a etapa do planejamento. É bom poder ter essa "convivência" saudavel com o passado e suas lições, mas tentar não cometer novos erros é sempre importante!

Autora disse...

Vivendo e aprendendo.Plantando e colhendo.
É a vida.
O passado é algo que ficou,algo que nós temos certeza que não voltará,mas podemos relembrar,arrepender,e sonhar em ter feito algo melhor ou diferente do que aconteceu....
Belas palavras.
beijos.

Camila disse...

*---* voce deixou qe tudo falasse dentro de voce.
Liind0 e sincero, voce é transparente,leal :)
Bonito.

Jane disse...

Olha quem eu achei por aqui. Fui no teu antigo blog e vi seu novo endereço. Bom saber que não parou de blogar. bjus

Ivan disse...

Oi Alf,

Obrigado por ter visitado e comentado lá no amor de papelão!

Suas palavras foram bem gentis!

No momento estou super corrido, mas com mais calma eu volto pra conhecer o teu blog.

Um abração!

Ivan.

Unknown disse...

Belíssimo textoo!!!
Amei teu cantinhooo
Só qria te seguir, mas num tem opção aki...
Mas msm assim estarei sempre aki...
A vc, permito o q quiser em meu blog...
Volte sempre q qquiser...
Bjos carinhoosos
E um fds prolongado excelente pra vc...
=)

@juusep disse...

aaa que lindo *-*
você escreve beem :))
ainda beem que hoje não foi poema e eu fui feliiz por ler um post seu :))
boom feriado prolongado /carnaval/ e eu postei mais um capítulo da história, e desculpa a demora por postar :) beijos.

Ju Fuzetto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Ju Fuzetto disse...

O passado ronda vagarosamente, chega de mansinho e nos prega uma peça!!
Que bom seria se todos sofrêssemos de amnésia de vez em quando!!!

abraço

Luana Gabriela disse...

Acho que não consigo mais chorar acho que minha dor já não me assuta mais e passei tanto acreditando em sentimentos amordaçados por você... seu texto me lembrou essa música que é de uma banda da minha cidade (Square)

Bjos, querido e obrigada pela presença constante em meu blog!

Bom feriado pra ti!

Lílian Glaise disse...

A suas palavras tem o poder de mudar pensamentos...
Parabéns pelo blog!
Serei figurinha carimbada por aqui!
Abraço!