Renascimento

6 de setembro de 2008


Caminhando pela rua, a passos lentos, meio desequilibrado e encurvado, deixava cair da face lágrimas tímidas e incultas em seu semblante. Ele pensara que até dado momento tinha sido injusto consigo mesmo. Refletiu até que ponto suas atitudes tinham sido decisivas para que as pessoas se afastassem dele. Jamais imaginou sua vida desmoronada. Nem os ratos espreitando e se escondendo pelo bueiro chamavam sua atenção. O ralo vento debandando pelo ambiente apenas mexia um pouco seus escassos cabelos, ruivos e mal cuidados. Aquela nuvem negra no céu apenas deixava mais escuro o que ele tentava enxergar.

Estava ficando cego. Evitava olhar para além, perscrutar seu íntimo e tentar descobrir uma rota em que pudesse encontrar uma solução. Sequer esforçava em sorrir, ou esboçar um alento mais agradável. Estava abatido, fraco e muito triste. Inesperadamente caiu de joelhos no chão úmido, sujo com a lama carregada pela chuva do dia anterior. Remoeu angústias, gritou, declamou, perdoou, se fez clamor, se aliviou. Num ímpeto feroz levantou e correu decidido, até a ponte central, que estava próxima.

Nem hesitou, e pulou...

**

Algum tempo depois, ele abre os olhos, e o pouco borrado que ele vê é uma mulher com uma vestimenta branca anotando algo numa prancheta. Ela ao notar exclama:
- Ah, o jovem de sorte acordou. Parabéns, você nasceu de novo. Aguarde um momento que chamarei o médico.
Ele sem entender bem, começou a ver o interior da sala, e de forma silenciosa analisou bem e deduziu que estava num hospital. Estava com uma imensa dor de cabeça e não lembrava exatamente do que se antecedeu. Ao analisar bem, fitou a janela, que estava entreaberta. Começou a contemplar a belíssima luz do sol que se irradiava por entre a sala. Esboçou um sorriso e se sentiu muitíssimo bem.

Não sabia o que tinha acontecido, mas percebeu que tinha ganhado uma nova chance, e que existem coisas na vida que valem a pena admirar. A partir desse dia ele seria um novo homem.



----------
Aspas do Autor: Não é um texto inédito, mas gosto muito, pela suavidade da mensagem que passo. As vezes dou fé, seja vivenciando ou presenciando, desses contos que escrevo. E esse em especial nos mostra que muitas vezes estamos cegos para a vida que desponta ao nosso redor. Em diversas vezes necessitamos que um impacto abra os nossos olhos, para podermos ver o que há de bom nos cercando e do quão é essencial viver a vida. Carinhos meus a todos.

11 comentários:

Anônimo disse...

segunda chance nem sempre é possível. grande abraço

Anônimo disse...

esse texto me fez lembrar de um passado, passado negro diga se passagem, periodo em que não acreditava nem em mim mesmo. e ao contrario do que aconteceu com o jovem da historia, eu não tive sorte, mas faltou-me uma dose a mais de "coragem", digamos assim ;s

mas enfim, to aqui, e aqui vou ficar :)

estou de blog novo Alf, passa lá ser der x)

abraços
#)

Thiago disse...

esse texto me lembrou um pouco até do meu próprio passado(recente ou não), por vezes eu faço coisas erradas e não me sinto bem e sempre tenho uma segunda chance de consertar ou amenizar o que foi feito ! Me fez bem ler-te !

Poemas e Cotidiano disse...

Meu querido Alf:
Esse texto seu, de uma delicadeza impar, de uma sensibilidade absoluta, vem nos lembrar quantas vezes Deus nos da segundas chances em tantas coisas. Mas tantas coisas! Sao verdadeiras bencaos que sao colocadas em nosso caminho. A oportunidade de recomecar.
Um beijo querido, saudades de te ler, viu?
Vou voltar depois para ler o que nao li.
MARY

Ariana Coimbra disse...

Segundo chancee!
Quase sempre a gente não tem!

LIndo texto!

Adorei seu blog, esta de parabéns!
Tu escreve mto bem!

Beijo

Thiago disse...

os seus que são um encanto ! Obrigado!

Teresa disse...

esse texto teria me feito tão bem há exato 1 ano.
no ano passado aconteceu uma coisa tão chata na minha vida, que eu fiquei assim, igual a esse indivíduo da sua história.
perdi alguns quilos.
mas, claro, só não pulei de uma ponte.

=*

Ni ... disse...

Ah Alf... bom demais q vc tenha repostado, pq eu ainda não havia lido e achei esta mensagem ótima...

Beijo e mais beijos...

Jaya Magalhães disse...

Alexandre,

Engraçada é a maneira como teus textos chegam pra gente. Tem muito de luz borrada em tuas letras, sabe? A sensação pós-leitura tua é extremamente reconfortante. É paz. Claridade.

Esse texto atual, falando de segundas chances, é algo que espalha esperança em todos os cantos nossos. E tuas palavras têm esse efeito, de se misturar nos corações.

Poeta, você.

Meu beijo.

Filipe Garcia disse...

Oi Alf,

todos precisamos de uma segunda chance. Esse final expressa bem o sentimento daqueles que querem mudar e encontram uma porta aberta. Triste é quando as portas se encontram todas fechadas. Seu texto é um convite ao perdão e à abstenção do orgulho. Acreditar no ser humano nunca é demais.

Abraço pra você

Anônimo disse...

Muitas vezes uma queda nos abre um horizonte que, talvez por inaptidão, tenhamos deixado de buscar. Quando para isto despertamos e notamos que uma nova oportunidade nos foi dada é como se a vida tivesse colocado à nossa frente horizontes nunca antes imaginados. E quando se anseia por isso, meu doce amigo, e o desejo se faz tão intenso, é porque uma pequenina esperança que se abrigou na alma ficou ali, tecendo um delicado sonho que talvez não tenha asas para voar até o mundo da realização, mas possa ter o olhar alongado até um possível horizonte. Tudo é possível quando ainda não se sentiu o chão após a queda...

Amiguinho do meu coração, saudade de ti! Bom saber que estás bem, caminhando para os horizontes que estão sendo divisados por esse olhar tão puro e esperançoso. Estou (e estarei) sempre torcendo por ti, menino lindo!

Te deixo uma pequena rosa azul perfumando um beijo que coloco no teu coração.