A menina que recebia cartas

12 de julho de 2008

Parte 1



Chamava-se Flor. Era uma menina graciosa, não muito magra, estatura baixa de pele branca, cabelos loiros brilhantes e olhos verde-cintilantes, bastante expressivos. Tinha um carisma radiante, era imensamente linda e fragrante como uma rosa. Tinha um jeito terno, inocente, meio menina, um pouco mulher. Era educada, recatada e tímida, quase não saía de casa, conhecia bem pouco do ambiente que a cercava. Tinha poucos amigos e era um mimo para seus pais. Sua beleza fascinava todos que a vissem e desde muito cedo adquiriu muitos admiradores. Todos secretos.

Ela recebia cartas de todos os tipos e tamanhos, nas mais variadas cores, azul, branco, preto, vermelho, contendo todos os tipos de palavras de amor, e todas tão cheirosas e incrivelmente bem escritas, por variadas caligrafias. No início ela adorava e amava todas sem distinção, e corava de vergonha ao ler tanta coisa linda, sublime. Pra tristeza dela, nenhuma jamais teve o nome ou endereço do remetente. Ela jamais conseguiu descobrir nem indícios de quem seriam. Desconfiava de poucos amigos na escola, mas nunca teve certeza. Com o passar dos anos ela ficou conhecida como a menina que recebia cartas.

Seus pais falavam pra ela não alimentar ilusão. Diziam que só agiam assim por causa de sua beleza, e que as cartas em sua maioria eram superficiais e não atingiam o âmago do coração. Flor, apesar de ter sido embalsamada por um romantismo sem igual, aos poucos, e com o passar do tempo foi se resignando. E mais ainda ao compreender o que os pais diziam. Depois de muito tempo, entendeu até que ponto as cartas eram superficiais. As cartas não paravam de chegar, e todas apenas enalteciam o que era tão evidente nela: a beleza.

Flor, aos poucos foi procurando mais que isso. Queria algumas palavras que falassem dela verdadeiramente, com mais apelo sensível, profundo e romântico. Mas não encontrava sequer uma palavra que delineasse o que ela fosse por dentro, o que ela sentia, inspirava e o que sua presença proporcionava. Só tinha palavras falando do quão era linda. Cansou. Quanto mais entristecia, mais cartas chegavam, e aos poucos parou de abrir as cartas, profundamente frustrada com tudo aquilo. Passou muito tempo, ela amadureceu, cresceu, e as cartas continuavam a chegar. Ela não abria mais. A menina que recebia cartas, agora só as guardava, não lia. Tornou-se indiferente e decidiu continuar vivendo em paz, crescendo e estudando.

Certo dia, no recreio da escola, estava sentada distante de todos, quando sentiu alguém se aproximar. Era um menino, que vinha com as mãos pra trás, tremendo, quase cambaleando. Ele ficou na frente dela. Ela ficou sem ação, fitando o olhar dele, decidido. Ele depois de alguns minutos projetou a mão em sua direção para dar algo. Pra seu misto de espanto e curiosidade, era uma carta.
- Pra você menina. Mandaram te entregar.
- Quem, quem?
Intrigada, Flor perguntou ao garoto. Mas ele logo depois saiu correndo, como se não tivesse escutado.
Ela ficou ali espantada fitando uma carta branca, meio envelhecida. Ficou desconcertada, ao mesmo tempo curiosa.

Ela olhou e se lembrou das cartas, das palavras, e pensativa chorou uns minutos. Ela ao menos tinha ficado impressionada com a atitude desse novo admirador, que até hoje foi o único que teve coragem, se comparando aos outros, de entregar mais diretamente. Olhou atentamente à carta por cima. Era branca encardida, simples e humilde, bem diferente de todas. Mas não deu muita importância. Com certeza era tão superficial quanto às outras.

Mais tarde ao chegar em casa, jogou-a no monte de cartas acumulado. Mas foi pro banho pensando nela. E não conseguia parar de pensar. Ela não sabia como explicar, mas sentia que aquela carta era bastante especial. Depois do banho foi até o monte de cartas e a viu lá em cima das outras. Alguns minutos depois pegou a carta que o garoto lhe deu. Ficou tateando alguns minutos. Agora observando com mais cuidado, pra sua imensa surpresa, viu que tinha remetente. Seus olhos brilharam ao ler a linda caligrafia.
Como por impulso, decidiu abri-la.

continua...



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Aspas do Autor:
Me recorreu de fazer há uns dias atrás esse conto, mais ou menos com esse roteiro, e saiu assim, em poucos minutos uma bonita história e um poema (que publicarei posteriormente). O curioso é que no momento em que escrevia o fim eu mesmo me surpreendi. Particularmente achei lindo. No próximo sábado vocês conferem o final, que é surpreendente. Meu carinho à todos.

16 comentários:

Fabiana... disse...

só no próximo? eu vou morrer de curiosidade durante uma semana inteirinha? isso é maldade amiguinho... muita maldade!!!!
beijocassssssssssssssssssssss.

Anônimo disse...

Ah, ALE, não vale assim...kkk
Ainda vou ter que esperar o p´roximo post.
Esse conto me remota à uma fase boa da minha vida. Lembra dquela época em que a internet não tinha e saía anúncios em revistas?Eu tive muitos amigos assim,...até que um dia coloquei um anúncio e recebi umacarta sem remetente. Guardo-a até hoje. Até meu marido já leu a tal carta.
Lindo conto.
Beijocas e dias felizes

Teresa disse...

ei, mas peraíiii
não me diz que tu não vai contar o que tinha escrito na cartaaaaaaaaa
hehehehe

=*

Flávia disse...

Alê... perdoa o meu atraso?

Eu realmente tinha vindo antes e li os posts passados, mas nunca dava tempo de comentar. Hj não tô visitando blog nenhum - a não ser o seu, rsrs.

Eu me senti um pouquinho essa sua Flor... vez em quando solicitada por cartas escritas pelos dedos da vida, engavetando algumas, adiando a leitura de outras... mas há sempre uma, uma pelo menos, que chega como se a esperássemos pela vida inteira... e essa, sim, abrimos, apesar do medo do que ela possa revelar.

Lindo conto, querido.

E não suma mais - sua doçura faz falta ;)

Beijo grande!

Anônimo disse...

Nossa, agora fiquei curiosa...


Lembra de mim, ALf??
Voltei com um blog novinho em folha.

Bjosss

Anônimo disse...

que tortura...naõ aguento e abro todas as cartas...até as obvias...de contas etc!

abs

Kari disse...

Ah não Alf!
Não acredito que tu fez isso!
Vou ter que esperar até sábado pra saber se a carta era diferente?

Apesar de que, eu sei que essa carta vai ser diferente... Mas quero muito saber quem escreveu...

Preciso dizer que amei? Mas quero terminar pra dizer o que sentir ao ler esse belíssimo conto!!!!

Um beijão pra tu

EDIMAR SUELY disse...

Olá,

Passando para conhecer seu interessante espaço e desejar uma linda semaninha e paz. Voltarei outras vezes.

Smack!

Edimar Suely
jesusminharocha.blig.ig.com.br

Thiago disse...

Que lindo, que lindo ! Ansioso!

Carmim disse...

Eu adoro contos e agora estou curiosa para saber o final surpreendente dessa história =)

Um beijo.

Anônimo disse...

anciso para que chegue sabado, e possa, assim então, saber como a historia de Flor continua.


:)


Abraços

Biiaah Barboosa disse...

q história buunita *-*
espero que possamos ser amigos !

;* s2

Ni ... disse...

Que malvado... rs...
Fiquei morrendo de vontade de saber o final..

Sabe, gosto demais da forma como você coloca a emoção nas palavras...

Beijo e mais beijos...

Poemas e Cotidiano disse...

Meu querido Alf,
Ler o que voce escreve eh uma delicia...
Porque suas descricoes sao sempre tao puras, tao cheias de verdade.
Tao cheias de sentimento, meu amigo querido!
Faca o favor de postar logo o que tinha nessa cartinha, ara! (risos).

Beijos carinhosos dessa que te adora!
MARY
PS: Que bom que voce voltou.

Anônimo disse...

Lindo! Doce! Enternedor! Assim defino esta primeira parte do teu conto, amigo querido! Ainda bem que somente 24 horas me separam do desfecho de tão bela história. Estarei aqui amanhã, sem falta, pois sei que irei novamente emocionar-me com o final desta história tão linda! Adoro cartas! Recebi-as, muitas, ao longo da vida, que depois foram sendo substituídas pelos emails, mas ainda tenho tios/tias que as mandam de próprio punho. É uma delícia recebê-las, tocar o envelope, abrir as folhas (perfumadas ou não) e ver ali dançando à minha frente aquelas palavras que sei, saíram de mãos abençoadas, foram escritas num imenso carinho. E faço questão de, a estas, também responder à mão. Gosto tanto de cartas que, como bem sabes, as envio no meu blog para o meu grande amor, mesmo sabendo que, talvez, ele não as leia nunca.

Meu querido, até amanhã! Ficam flores e sorrisos enfeitando o teu dia, com meu carinho!

nina disse...

Mas é de uma graciosidade incrível seu conto. Compõe rima e delicadeza. Enche o ambiente de luz. E o nome da personagem: Flor, tudo a ver com a descrição da mesma. Esperarei ansiosamente até sábado. Virei aqui sempre que puder.