Sublime

2 de maio de 2015





Os sopros esguios e sublimes, das tenras e ermas manhãs, causam dobraduras na essência não visível que se sustenta pelo ar. O belo se equaciona e se instala furtivo na textura não palpável da vida. É um rebuliço de encanto, de viço singular, adormecido em enfeites que transitam por aberturas calibradas com a maciez da natureza. Sublime é a transição silente, o avanço das horas, o acolchoar do dia com afago, um deleite que enriquece o pulso vital do mundo.

É um ciclo sustentável, amparado num toque que delibera, e flui, abraçando o cálido tecido do amor, como tulipas que reagem ao abraço caloroso do vento; como sorrisos que agem como maestros de um afeto doce e secular. As vidraças desembaçam com os olhos poéticos que lustram o translúcido querer que vinga no peito. Mares revoltos se abrandam sob a regência das estrelas que vagam no céu, desembrulhando pacotes de esperanças. São segundos, horas, dias ou nada.

A vida nasce de um roteiro não descritível em palavras. É aquele silêncio que não se traduz em abraço curativo, em um gesto que retumba a melodia sublime da criação, feito outono debruçando primavera em uma misteriosa compreensão. É poesia que enverniza o azul do horizonte, tal como a luz que destila sua magia ao colorir a trama de um eloquente universo, conferindo um corpo ao breu. Um espetáculo nascente, princípio de uma rima há muito presa na língua e oculta pelas penumbras do medo.

A vida desabrocha, sustenta-se como flor que se abre em infinda beleza, torneando suas pétalas e exalando sua mais preciosa fragrância. É uma singularidade, simplicidade que se torna de dimensão incompreensível, porque é sentimento que acaricia em um acalanto sublime, numa exultação aprazível, discreta e rasteira. Há um desmedido zelo que acidenta corações com leveza, e preenche a alma com rastros de fé inabalável. Presenciar é ter paz, é sentir fluir, como um riacho desviando solene das pedras, em uma profunda meditação.

Não há algo tão majestoso quanto a passagem do dia, nem do quão imponente é o embalo natural das coisas, um organismo responsivo por si próprio, subserviente à programação a qual lhe foi incumbida: ser independente. Tudo se torna porque foi feita para ser assim. Tudo tem vida própria. Nasce e morre porque é o seu desígnio. É um processo tão único o modo como as coisas giram e evoluem, um pilar para o perfeito equilíbrio de um universo inteiro que vive sobre sua própria existência. Não é apenas lindo, é simplesmente sublime.



Aspas do Autor: Tudo ao redor é tão inexplicável, por isso sublime. Gosto das coisas indecifráveis, mas que encantam de maneira tão profunda a ponto de satisfazer plenamente meu coração. 

6 comentários:

Priscila Rúbia disse...

Que coisa mais linda isso "dobraduras na essência".
Fiquei até a pensar naqueles origamis japoneses, só que estes feitos da alma, alisada e bordada desse teu sublime olhar...

Sim, é simplesmente sublime mesmo.

Meu Olá
=)

Carol Russo S disse...

A tua visão sobre a vida e sobre o que rodeia tudo o que pode despertá-la é muito admirável, amigo poeta.
É uma perspectiva de quem já viu e viveu muito e tem histórias para contar. Espero aprender muito contigo através das palavras.

Beijo

Bandys disse...

Não vás para tão longe!
Fica perto. Inda é tão cedo!
O vento continua a fustigar
Os ramos sofredores do arvoredo,
E eu ponho-me a pensar
E tenho medo!
Medo que poesia morra.
E que nossos corações não tenham mais a alegria do encontro.

beijos menino, se sumir, Cê vai ver!!

Renato Almeida disse...

Adoro seus textos, a forma como você nos prende ao mesmo e nos faz visualizar a cada página lida mais e mais. Até mais, um ótimo fim de semana.
http://realidadecaotica.blogspot.com.br/

Carol Rodrigues disse...

Mas algumas "mortes" são muito dificeis de aceitar, mesmo sabendo que é o ciclo que se cumpre, que é seu desígnio

Mafê Probst disse...

Daqueles textos q nos roubam palavras. Gostei disso.

Beijo Alê ❤