Das flores...

15 de novembro de 2014




Muitas eu admiro,
mas raras me encantam...
Muitas me atraem,
mas raras me inspiram...



Aspas do Autor: Acontece que nem todas as flores me inebriam... Muitas são de plásticos. Carecem de perfume.

Morbidez

1 de novembro de 2014

Foto: Mayandra



Seu olhar pendia para os lados sem direção. A pele tremia em efeito ao demasiado frio que invadia a casa através da janela aberta. Ela não tinha forças para recompor e restituir a consciência, abandonada há pouco. Mal se mantinha acordada. Os dentes batiam em uma sincronia desafinada e assustadora com o coração. Estava sedada pelo impacto, por um incinerado pudor indefinível, um espasmo mental aniquilador causado pelo desmembramento de suas energias.

Deitada em pleno chão gelado, ela reclinava a alma em um descanso mórbido, quase funerário. Não sentia seu pulso, as latentes batidas do seu coração. A tensão tinha lhe tirado a sensibilidade, partido o centro nervoso de suas percepções. Seu peito padecia em uma morna sensação, uma torpe inoperância que a deixava à margem de tudo ao redor. O colo ardia [em] desespero, fustigando a alma com um terror psicológico, nada sadio. Ela não fugia do inevitável. O mundo parecia ter parado.

Seu jeito amortecido situava-se paralelo ao mundo, porque os elementos pareciam se distanciar dela. A mente desfocava a nitidez do ambiente, feito uma escuridão que nascia dentro dos olhos. Sua pele enegrecia ante a fraqueza desmedida que fluía pelas veias do corpo. Suava e tremia com um corpo se retorcendo em meio a curtos gemidos de dor. A palidez tomava conta de seu semblante inchado. E nada era capaz de conter aqueles segundos apavorantes. Até que findou, igual um espetáculo que fechava as cortinas.

Em poucos segundos seu corpo enrijeceu, endureceu feito rocha. Mas o espírito, quebrantado, inebriado pelo cheiro mórbido da morte, fez com que o findar da consciência se alongasse, feito câmera lenta, em efeito a uma anestesiada embriaguez de dor misturada com prazer. Segundos pareceram horas. Segundos que tornaram sua morte uma passagem silente e vagarosamente horripilante. Uma tortura que a consciência causou, sem escrúpulos, em seu corpo padecido.

Ao findar da melancólica melodia, suas mãos tombaram a seringa que provocara sua overdose. Para ela a vida era uma droga. Drogou-se tanto até perdê-la...



Aspas do Autor: Às vezes as pessoas buscam um prazer ilusório para fugir da realidade. A fuga acaba sendo, em muitas ocasiões, definitiva...