Imagem: Adrian Borda |
Quem nunca se sentiu incompleto, carente de complemento, de um olhar que faça companhia, um abraço que traga toda a alegria que falta? Os passos, por vezes, caminham em busca de outros passos, para que se sintam menos sozinhos ou mais seguros. Como se nascêssemos sem um pedaço crucial de nós mesmos, feito sequela de nascença, uma síndrome de incompletude. A busca pelo amor se fundamenta no fato de que somos metades em busca da outra para a felicidade ser plena. Será?
Deixamos de ser quem somos porque nos falta algo? Uma pessoa? Um amor? Somos infelizes pela ausência de um(a) companheiro(a)? Falta ar pra respirar? Faltam motivos para viver? Será que nossa alma está metade morta porque não encontra sua alma gêmea, não se entrelaça numa outra, como se ela fosse solução para os problemas, a cura para nossas lágrimas? A nossa solidão tão velada é culpa de quem? Da nossa ineficiência em encontrar a peça que nos completa, desse alguém ou do destino?
É certo conferir o ônus da culpa de toda a tristeza e solidão à ausência de uma pessoa ou até mesmo ao destino? Não deixamos de andar porque falta alguém. Não estamos sozinhos porque nos falta uma companhia. O sangue bombeia e nos dá vida, mesmo que essa falta deixe alguns doídos, com o coração melancólico. A vida prossegue sem alterações. Continuamos a ser o que somos na mais pura essência. Não podemos desviar os olhos de quem realmente é o culpado e responsável pela nossa felicidade: nós mesmos.
Não somos incompletos, como copos meio vazios, carros sem motores ou metades de laranja. Somos inteiros, e não despedaçados ou inacabados como uma obra em construção, uma pintura não terminada, carente de complemento. Nem a felicidade tem como pré-requisito um amor. A companhia ajuda na caminhada, mas não morremos sem ela. Mãos entrelaçadas tornam o caminho mais suportável, bem mais bonito, mas não é a única responsável para a derradeira alegria. Os pés caminham por conta própria. Outros ao lado tornam a rota mais macia e prazerosa sim. Contudo, não podemos pensar que uma companhia é imprescindível ou que só um amor confere sentido em viver.
Às vezes é importante nos desprendermos de convenções, dos tabus que nos impõem e com os quais aprendemos a conviver durante nosso crescimento. Necessitamos ter a noção realista de que somos inteiramente responsáveis pelas nossas próprias vidas, e capazes de viver com os nossos próprios meios, sem ficarmos dependentes de outra pessoa ou demais fatores. Sigamos adiante, rumo à felicidade, sem aferir responsabilidade ao final feliz em alguém.
Aspas do Autor: A nossa felicidade não está nas mãos de ninguém, mas claro que um amor - para quem tanto busca um - é uma coisa bonita, que torna a vida mais aprazível e enriquece as alegrias. Podemos ser felizes por nossa conta, mas se aparecer alguém para compartilhar a felicidade, é claro que vai ser lindo.