Existiam apenas três cores no mundo: a azul, amarelo e a vermelha. Nenhuma podia invadir o domínio da outra. Era terminantemente impossível. Seus limites eram protegidos por muralhas negras, proteções ausentes de luz e de imagem própria. Uma cerca sem cor, sem vida. Os recantos dessa dimensão tinham suas regras, mas eram muito obscuras. As cores viviam em seus territórios sem que pudessem atravessar o negrume que os separava das outras. Seria fatal a aproximação à negra cerca. Sem luz, dissipar-se-iam sem misericórdia.
Porém num belo dia, os muros foram burlados por uma faísca de luz que se soltou de um raio cósmico, um dos tantos faróis que geravam a vida nos coloridos domínios. As mortas divisórias extinguiram-se num sopro iluminado. As cores, em suas respectivas moradias, foram capazes de avistar os domínios alheios. Numa cintilação incomum ao universo, fez-se luz onde não deveria. O negro esvaiu, dando lugar a um translúcido de pureza inimaginável. O ar tornou-se transpirável.
As cores então, curiosas, avançaram pelos territórios das distintas raças. Em uma fração de segundos, misturaram-se sem culpa entre os pigmentos que se refletiam pela falha cósmica de uma luz sabotadora de regras. Ou não seria falha? Azuis mesclaram-se com amarelo; que cruzaram com os matizes vermelhos; que respectivamente uniram-se às nuances azuladas da luz. Um espetáculo sem precedentes dava vida um novo universo, um recanto nascido de uma misteriosa intervenção.
Após um indefinido tempo, a faísca de luz se apagou, fazendo com que os muros escurecessem novamente. As cores, novamente trancafiadas pelo destino. Contudo agora seus territórios continham, não apenas suas cores originais, mas as outras migrantes, além de derivadas de suas uniões. Da união das três nasceram as laranjas, as verdes e as violetas. Os três lugares haviam-se colorido de tal maneira que suas cintilações enfraqueciam as defesas escuras. Tornou-se menos dificultoso migrar de um limite para o outro.
Certo dia, outro fenômeno misterioso uniu os três cantos, desobstruindo qualquer muralha sombria. Uma forte luz, vinda de todos os lados, cercou-as. E as coletou. Foram sopradas, energizadas em raios cósmicos, proeminentes de encanto inigualável. A luz dirigiu-as até acrílicos, muros puros de energia, colidindo-as com afeição e sensibilidade. Em um esplêndido prodígio, elas se viram refletidas num universo de tamanhos incalculáveis, dando vida a domínios desprovidos de qualquer sentimento e cor. Luziram-se, lado a lado, feito um arco-íris de beleza sem precedentes.
Aspas do Autor: uma liberdade poética, explorando as cores e o arco-íris. Gosto de trabalhar contos fantásticos...