Muda declaração

25 de maio de 2013




Hoje a boca fala menos
Mas meu coração fala mais
O amor que há no peito
E não me deixa em paz

Me alforrio das palavras
Para poder silenciar
O que fica bem explícito
Dentro do meu olhar

Adormeço meu sentir
Nos braços da mudez
Declamo sem falar
O que causa embriaguez



Aspas do Autor: Porque há momentos em que a mudez diz mais que qualquer palavra...

A lagartixa

18 de maio de 2013




Ele escondia os sonhos numa velha gaveta na escrivaninha da sala. Os amores ficavam na estante da sala, agora empoeirados pelo tempo e pelo descaso. As lembranças estavam coladas no mural do quarto, porém desbotadas e desorganizadas. As dores foram espanadas para debaixo do tapete, as vitórias e os tesouros encaixotadas no sótão. As alegrias foram aprisionadas no porão e a felicidade escapuliu pelo ralo do banheiro... 

A fé, tão pujante foi expulsa de casa. A esperança que tanto queria adentrar ao recinto fracassava ao topar com as janelas e a portas trancadas. Tudo se foi quando ele deixou de viver. Tudo findou quando se escolheu morrer. Apenas a solidão esfriava suas espinhas, cutucava com dedos ásperos a sua vaga alma, perdida em si, alienada e abstraída do mundo.

Os olhos trancafiaram as belezas mais profundas e incisivas, as bonitezas que se alastravam faceiras pelo seu coração – agora triste e amuado. A chama tinha se apagado e o escuro dominado o seu íntimo ferido e desalmado. Quem o faria? Quem o salvaria? O sangue já não corria tão escarlate quanto antes, nem tão morno quanto deveria. A vida esvaía-se com ferocidade, evidenciando a sua indiferença pessoal, seu abandono a si.

Mas tudo mudou quando uma pequena e fina luz encontrara um mínimo espaço para penetrar na sala, desvencilhando-se por uma brecha entre a cortina e a janela. A luz incidiu bem em seu peito. Isso o alertou, aqueceu e o inquietou. A poesia e a esperança tinha um jeito estranho de reviver as coisas mortas. Quem ia imaginar que uma lagartixa faria a cortina se mexer o mínimo suficiente para a luz adentrar... Coisas curiosas da vida.

A luz – e a lagartixa – reavivara sua vontade em viver, em ser feliz. Ele saiu do limbo e renasceu ostentando o sorriso mais lindo que já se vira.



Aspas do Autor: Às vezes uma pequena intervenção da vida pode nos deixar suscetíveis novamente. 

Metamorfose

11 de maio de 2013

Foto: http://animais.culturamix.com



A gente muda numa muda percepção. Tão insípida que quase não dá pra absorver com total ciência. Porque é um querer que nos faz navegar nos mares internos da alma, querendo aportar em novos continentes do profundo. Porque é um desbravar que nos incita a descobrir novos territórios para se colonizar. Terras férteis, abundantes em naturalidade, tão ansiosas de serem decifradas. Encantos que se revestem de respostas, das quais tanto pelejamos em encontrar. Nem sempre faz sentido, mas as indagações, as aflições que nos movem pelas margens do nosso ser são propulsões naturais de como quem nasce esquecido de sua origem.

O olhar se aninha no mais íntimo, procurando a si, sintonizando no prumo que se aconchega na felicidade, espanando as salas empoeiradas do coração. Velejar que nos alveja com bonitezas infindas, poesias retalhadas com a abundância de quem busca verdadeiramente crescer e amar. O receptáculo da alma se preenche com as aspirações mais delicadas e (trans)forma o leito que nos acolhe, acuando os medos, vestindo nossa carapaça humana com a fibra da mudança, esperança descosturada nos mínimos detalhes, feitas para acolchoar nossa frágil pele. Mudar é uma peleja indissociável.

A gente anda de mãos dadas ao querer. Querer, numa intermitente caça ao tesouro. Desejar, numa incessante busca, pela chave a destrancar nossas áreas mais fechadas e de difícil acesso. Numa forma talvez de encontrar o seio, o selo que nos identifique, ou a palavra que responda por tudo o que cerca nossa ínfima alma. Peregrinação interna, para reacender os olhos, para incidir a chama da verdadeira compreensão com o coração. A gente quer. Entender. Ser. Depositarmo-nos por inteiro na essência da fé, na energia pulsante que se chama esperança. As rotas capitulam o que nos apetece, emparelhando o barco da alma nos diversos afluentes que existem para nos ensinar.

Navegamos até converter as paisagens antigas por novas. Metamorfoseamos para nos adequar às normas que a vida nos impõe, às naturais cobranças que surge na alma. Para nos equilibrar; para alçar voo; para alcançar a plenitude do sorriso sem tolher os sonhos mais belos que tanto se desenham no íntimo de nós. Morremos em meio a essa overdose de busca. Renascemos mais bonitos após muita luta.



Aspas do Autor: É intrínseco ao ser humano essa peregrinação pela mudança, pelo crescimento e evolução. É o ritmo natural da vida. E aproveitando o ensejo, o meu blog também mudou. A partir de hoje estou num domínio próprio (.com). Embora o antigo endereço (blogspot.com) continue redirecionando, acho mais seguro cada um, em suas listas de links ou favoritos, alterarem meu blog para o novo domínio .com. É o "Elos" adentrando em novos tempos, vestindo roupas e letras mais maduras... Aliás, esse ano já está sendo o ano mais maduro, literariamente falando... Bem, aos poucos, numa lapidação diária, o site vai tomando forma e mais mudanças ocorrerão. Ah! Uma novidade muita bonita também está próxima... Mas quando chegar a hora eu falo (risos). Abraços a todos que aqui me visitam.