Delicadezas

29 de setembro de 2012




Tudo paira numa singeleza, numa infinda sensibilidade, decotada pelos versos mais românticos da vida. É fé, crença espontânea que se despista por olhos teimosos, retinas que dão colo aos sentimentos efervescentes e arguciosos de corações humanos e apaixonados. É assim que o encanto se distende pelos ambientes sem que percebamos: num espetáculo de delicadezas. 

É uma troca sonante, presente no ato de entrelaçar dedos, no encontro de olhos famintos de amor, na volúpia sagaz de mãos que delineiam os mapas dos corpos. O afago se estende pelo modo desinibido de sorrirmos ao vislumbramos a pintura mais bela, o cortejo azulado de um céu que desponta sua beleza sob o fulgurante brilho das estrelas. Tudo reside numa ânsia de ver, de descobrir a mansidão das ternuras mais únicas a brotarem das terras férteis do amor. 

O âmago da alma se incita. A delicadeza se extrai em sua mimosa exuberância, incidindo na alma a poesia que exala nas rebarbas mais ocultas e escondidas deste mundo tão mascarado pelo véu da descrença. A sutileza persiste e se insiste em nós, trazendo doçuras e espantando agruras. Os olhos escoem a esperança, que flui bonito por entre os poros do nosso corpo. O semblante é firme, porque é retrato de um coração que deseja topar com o atrativo definitivo, a rima mais poética do poema chamado vida. 

Carregamos no peito o leve aceno de quem muito quer ser feliz. Fica evidente no modo de nos evidenciarmos pelas calçadas repletas de breu. Almas caçadoras de encantos, desbravadoras fiéis do sublime, da fragrante emoção que se camufla no coração. Tudo recai nesta amabilidade doce como amora, tão deleitável quanto a água mais pura que se trepida pela cachoeira. O prazer se enaltece na simplicidade, na ávida brandura presente na harmoniosa paz que vive no íntimo. 

O que se que evoca nas pegadas leves é um carinho explícito e amoroso que decora nossos sonhos mais delicados e idílicos. São como canções entoadas e versadas pelo peito amante, reduto de amor, abrilhantado com pétalas de ouro. A fascinação se exclama no fundo do peito, no afinado querer que desdobra pura graça na suave melodia dos ventos noturnos. A felicidade retumba em declamações polidas de paixão, sopros suntuosos de corações que emanam pleno amor. 

São as delicadezas que adornam os sonhos, que se escondem até no mais miserável, que se decora na majestade, no menor e no maior, sem perder sua grandeza. Tudo se torna, se faz e magistralmente existe sob o véu discreto da beleza. O mundo se desenha belo por meio de mãos caprichosas e macias. É a fé, o combustível que sacia a vontade de sorrir, de longamente abraçar e beijar. A sutileza constrói o caminho duradouro, é quem costura a armadura mais resistente e deixa tenra a textura do tecido. 

As delicadezas nos abraçam. E a abraçamos, nos tornamos gigantes, esbeltos na perfeição humana de ser. Deitamos numa fineza implícita que destrava a tranca e abre a janela do nosso quarto mais bonito, permitindo a claridade adentrar, luz âmbar capaz de realçar as cores da alma, numa plena e solene transformação...





Aspas do Autor: Sinceramente? Estou na busca de concretizar a ultima frase deste texto, abrir a janela para a claridade entrar e sofrer a solene transformação, ser incendiado por uma felicidade sem fim, no coração.

Mosaico abstrato

15 de setembro de 2012




“Indo e vindo
vivo ouvindo
O instinto
Mesmo quando
Eu não entendo nada” 
(Mosaico Abstrato Nando Reis)


Estou entregue ao sabor do vento, ao cálido cuidado de um sopro arredio que ciranda pelos detalhes microscópicos da vida. Deslizo fiel pela macia textura da mão calorosa do destino, submergindo em suas entranhas, em seu rico mistério, em sua enigmática presença. Os olhos, nesta atual perspectiva, parecem perdidos na paisagem que se prepondera por entre suas retinas. Imagem abstrata, mosaico de cores indefiníveis, captada no além das aparências, no regalo invisível desenhado pelos servos perversos de uma vida astuta, repleta de artimanhas. 

Há muito que o lirismo me cerca com seu encanto e seus múltiplos feitios. Talvez porque não sou mais capaz de me concentrar no caminho, na rota que se ilumina à minha frente me seduzindo. Estou vítima de um jogo de sedução, no qual cenas embaçadas se intercalam pela mente, me oferecendo, quem sabe, as respostas para as perguntas que eu interpelo ao coração. Opções que, por não conseguir ver com exatidão, soam suspeitas e controversas, fazendo-me temer a aproximação. Apenas vejo o que não se vê. O desfoque que esta anestesia me causa me deixa cauteloso diante dos corredores nebulosos. É difícil saber o que escolher, quando mal se vê o que esta à frente. 

Sinto-me distante, em total paralelo às rotas naturais pela quais vinha seguindo e vivendo. Hoje estou puro abstrato, num mundo que não se acostuma dentro do meu olhar sagaz e profundo, vista que desvenda o véu que cobre as arestas escondidas do ambiente em que minha alma, em vão, tenta decifrar. E isto me faz além, um ser desperto perante os delitos mais cruéis que se distendem no gargalo da minha mente. É difícil suportar o que sou incapaz de perceber, quem dirá entender. Perpetuo meus sonhos nesta dimensão que me abrange. E me sinto só, um pouco abandonado, como um móvel antigo, cheio de pó. Estou amarelando com o tempo... 

Há um desgaste. E fica explícito no meu semblante. Meus olhos revelam, no teor mais espontâneo de seus castanhos, um pouco da frustração, do dissabor que absorvo e sinto nas quedas do meu ser, nos tropeços mais dolorosos do meu utópico coração, nos apertos que ele copiosamente sofre. Esta perca de essência extenua o meu estoque de crença e fere com lapidadas mortais, deixando sequelas profundas. Tudo neste momento me parece borrado, exatamente porque o desequilíbrio do sentir umedece a tinta fresca do panorama que os olhos veem. 

Um pouco da força está exaurindo. E não é de hoje. Não é de ontem. É de muito. Custa-me aceitar que todo este momento abstrato é causado pelo próprio descrédito que se alastra no meu peito teimoso. E isto me assusta; espanta-me. Desaponta-me ver o quão fraco ainda sou. Mas sei que ainda, sereno, percorro sob a corda bamba da esperança, fio sublime e tênue no qual me equilibro, embora a estação esteja revoltada. Percorro solene e esperançoso, mesmo sob a cruel cobertura desta densa névoa. A dor ainda não é maior que a cor do meu amor. 

As formas perderam seu padrão. A vida tem se mostrado ao avesso, com linhas mal traçadas e ruas mal feitas. Só há um mosaico de peças disformes. A geometria da paisagem, na atual conjuntura, é assustadora e sombria, porque desconheço sua origem. Estou a viver um momento abstrato, tanto interior quanto exterior, no qual minha alma se desencontra nas peças desencaixadas e meus olhos se chocam por enxergar arquétipos nunca vistos. Pareço fazer parte de um cubo mágico desordenado. Resta-me encontrar os meios para alinhar as peças e as cores. 

Sei que, diante de toda essa confusão, a única coisa não abstrata é o amor que mora no meu peito... Sinto e defino-a facilmente. É este sentimento que me mantém de pé. Ainda que a percepção no momento esteja um pouco caótica, não desistirei... Continuarei indo, ouvindo o instinto, mesmo sem entender nada...





Aspas do Autor: Os dias andam bem disformes. Não entendo todo este momento abstrato em que estou a viver... Embora o sentir ainda vive, o resto tá embaralhado, com as cores em avesso. E pra ser sincero, este texto também é um dos mais diferentes, confusos e profundos que já escrevi...

Poesia perdida

8 de setembro de 2012





Pelos escombros da alma
Vi, fugidia, a poesia que perdi
Apurei os olhos, e ao notar
Empalideci

Rimas de encanto e amor
Entregues ao bel desamor
De um íntimo imprudente
Vítimas de um coração decadente

Hoje a encontrei,
Mas o que fazer, ainda não sei
Ela tem versos que declamam bem
O que sinto no peito como ninguém

A poesia que perdi
Tem afeto pleno de amor
Por alguém que vive em mim
Musa etérea, a mais fina flor

Poesia de esplêndido querer
Que nas letras voltou a viver
Perdida, porém encontrada
A mais bela declaração pra minha amada





Aspas do Autor: Um poema romântico... Pra variar... (risos)