Latente

27 de março de 2010




Foi assim, lágrima e torpor
Lírica canção que terminou
Fervor crítico de amor
Na dor se propagou.

Um sonho que acabou
Sem amor, abrasador
Latente no intenso fervor
Na dor que se dissipou.

Idílica vida que se apagou
Retalhos de vida sem clamor
Só o que resta é rancor
Dor que o coração tornou.

Uma dor que não é física
Trancafia a alma no fundo
Não fica óbvia a mordida
Dor latente para o mundo.

O olhar se fecha no céu
O peso encosta ao léu
É latente, intensa comoção
Dor singular no coração.

Não é dor física, nem emoção
É um sopro frio no ar
Sentir não há como não
No interior, um forte abalar.

Aconchego solitário
Ímpeto anseio de sorrir
Na intrínseca esperança
De novamente fulgir.






Aspas do Autor: Um poema sobre dor. Daquela dor que se instala lá no mais fundo de cada um de nós. E que apesar do corpo não extrair fisicamente, no íntimo podemos ficar destroçados. É o ânimo que diminui, a tristeza que aumenta. Quem nunca se sentiu assim, acuado? Enfim. Escrevi sobre esse tema porque participei de uma brincadeira (iniciada no blog da Laís) e a querida Júlia (que me sorteou), me propôs esse tema. Bem, deixo aqui meu afeto. A quem vem sempre, a quem vem de passagem, a quem eu amo. À todos. Até o próximo sábado.

Um pedido e um segredo

20 de março de 2010




O jovem garoto então foi correndo à procura do seu amigo para chamá-lo. Até que o encontrou.

- Hei você, vem cá, posso te pedir uma coisa? Se aceitar confiar-te-ei um segredo, muito especial e importante. Mas primeiro vamos nos distanciar desse barulho, desse calor, e das pessoas ao redor. Antes de te contar queria lhe propor uma coisa. Vamos VIVER muito hoje? Caminhemos por um campo, um jardim ou uma praça; vamos ficar na beira de uma praia, um rio, contemplar um lindo horizonte, você escolhe. Podemos nadar e jogar uma bolinha, tomar um refresco, um sorvete e no fim do dia assistir um cinema; vamos pedalar e correr, andar pelos campos, pelos jardins, fazer um piquenique. Que tal andar de patins, dançarmos e festejarmos? Só te peço que viva comigo tudo o que não vivemos junto antes. Vamos sorrir juntos, vamos gritar muito, se estatelar no chão e se sujar, andar de skate, vamos pular, e brincar muito...

O amigo estranhou toda essa súbita vontade e questionou:

- Por que tudo isso?
- Porque te quero do meu lado, você é meu melhor amigo e quero viver momentos felizes contigo, para guardá-los no meu coração e jamais esquecer o quanto você é importante para mim. Tudo bem? E sorriu convidativamente feliz.

O amigo ouviu atentamente e consentiu feliz. O menino agradeceu com entusiamo.

- Obrigado.
- Mas qual o segredo importante que você tem a me contar?

O menino então parou de sorrir.

- O segredo a qual eu iria lhe confiar? Bem, hoje é o meu último dia de vida, e escolhi passar ele com você. Porque você é um amigo muito especial para mim.

O outro amigo, ao saber, chorou muito, e ambos ficaram abraçados por intermitentes minutos...

Ali, então, eles viveram juntos o dia mais feliz de suas vidas. E o amigo, de verdade, nunca morreu no coração do outro amigo. E foi assim, sempre.

 
 
 
 
Aspas do autor: Embora triste, é um bonito conto a respeito da amizade e da perda. Escrevi faz um tempo e, já cheguei a postar em outro blog meu. Fiquei relendo esses dias e achei interessante republicá-lo aqui. Apesar de eu ter feito leves alterações, a mensagem e o sentido do texto continuam os mesmos. É uma historinha comovente, que se enquadra perfeitamente nesse cantinho. Podemos ser tão especial para alguém, que por deixarmos pedaços da gente, jamais morremos de fato um dia. Muita coisa supera a dor da perda. E são as lembranças boas que ficaram eternizadas. Fica aí o meu afeto. A quem vem sempre, a quem vem de passagem, a quem eu amo. À todos. Até o próximo sábado.

Essência Mulher

13 de março de 2010




Surge assim do nada e do tudo, do tempo, do pensamento. E junto vem aquela brisa suave, apaziguante e fragrante, trazendo consigo uma paz infinita. Não está ali, mas está; não se pode ver, mas é possível sentir; não se pode guardar, mas permite que se absorva. O relógio para, tudo estagna, a vida se resume ali, naquele sentir, no instante de contemplação, de pura magia que transluze no céu, por entre as estrelas. O olhar enfeitiça, a presença traz calmaria, pureza e aconchego, além de força para viver. Essa energia causticante traz alívio, aplaca a tensão e dá segurança. A magistral doçura se espalha pelo ar...

Não há o que descrever, nem expressar, os olhos apenas fraquejam ante a escultura belíssima feita por Deus. O ser feminino não existe somente, mas está em tudo, em todos nós. É a sua essência que trespassa as barreiras do universo e se instala em nossos corações. Luz cativante, sensação inebriante, existência infante e idílica. Mulher, feminino de todas as mulheres, resposta de todos os enigmas, ao mesmo tempo de jeito apaixonante indecifrável. Ser mulher que desbrava nossos tormentos, que com sua personalidade materna compreende, ama, se doa, chora, sorri, deseja intensamente realizar e estar nos sonhos.

Vida é sinônimo de feminino, o feminino é sinônimo de amor, de coração, de cumplicidade, de paixão. A essência mulher está em mil mistérios, embarcada em fantasias extasiantes, é presença certa em canções de amor, e em serenatas à beira da lua. O feminino se encontra em versos de um poema apaixonado, na beleza de um jardim de rosas, em um coração com asas. Então as estrelas brilham, o céu resplandece, os pássaros cantam, a natureza ecoa e as flores exalam. Mulher é rosa que fala, é todo amor em forma física, é carta de amor e rio de pureza. Não é possível saber como, nem por que, nem o que dizer. Essa essência tem fonte no paraíso, nos mais belos recantos de todos os lugares do universo, na mais infinda maravilha criada por Deus, nosso senhor.

A majestade está em seu caminhar e toda essa sua personificação do bem, da paz, da compaixão e do sentimento. Algo incapaz de decifrar percorre por nosso corpo e nos leva a flutuar. Algo de incrível poder nos torna seguros, firmes em olhar, em pisar e em estar. Então temos a certeza de que a vida é magnificamente maravilhosa para se viver, e então o sol parece nos dar mais avidez. A intensa serenidade percorre por entre as veias e nos impulsiona, nos fortalece, libera adrenalina e nos dá certo calafrio. A mágica fluência em sua forma de viver estribilha os olhos de quem a contempla e sente. O feminino complementa o masculino. Essa essência existe e inexiste, se faz e não faz. Ela voa por entre os nossos afetos. Ela apenas é.

A magnitude da existência feminina na vida nos dá plena certeza de uma coisa: ela é a fonte de toda a inspiração poética no mundo. Tudo se torna muito mais bonito com essa fragrância. A vida é feminina. A mulher é vida.

-
Em homenagem às mulheres.






Aspas do Autor: Uma singela homenagem às mulheres e à essa essência feminina que acalenta a magia da vida. É um texto antigo, escrito há dois anos, na ocasião, publicado no meu primeiro blog. Decidi republicá-lo, por ser um dos mais belos textos que já escrevi. Um dos que mais me cativa até hoje. Nutro um respeito profundo pela mulher, e esse texto foi uma maneira de exprimir meus sentimentos por elas, que me inspiram sempre. Deixo aí meu afeto. Não só hoje, mas todo dia, toda hora, todo minuto da minha vida. Sempre!

Detalhes invisíveis

6 de março de 2010




"Não tento decifrar o que existe apenas para ser sentido."


Meus olhos circundam por tudo o que são capazes de ver até o mais recôndito da vista. Capturo cada milímetro do que me inteira. O silêncio então se precipita de forma caudalosa, apaziguando cada momento. Não é preciso caneta ou pincel, nem mesmo máquina fotográfica. O que olho está além do impossível de ser registrado humanamente. É esse além que eu fito, encaro com atitude desafiadora, mas tranquilo. É como estar cego, olhando por dentre um imenso negrume de escuridão total. E não ver me delicia. Porque é aí que percebo os melhores detalhes.

É nessa brincadeira de não ver, que eu vejo como a verdade não é incauta e o encanto é sublime. A beleza é muito acima da capacidade dos olhos em enxergar. Ela nos protege ao se esconder. As respostas se fazem presentes, sem denunciar onde estão exatamente. Mesmo na escuridão, a verdade é criptografada. Tem suas artimanhas e defesas. Após o susto inicial, a visão sempre se acostuma. Depois de anos tentando decifrar esses detalhes, aprendi a tatear por esse invisível. E são nessas incursões que sempre faço grandes descobertas.

Tudo o que vejo nada mais é do que uma coberta. E assim sorrio, porque não nascemos para ver o evidente. Vivemos para enxergar o além. Quando eu olho uma pessoa mais atentamente, eu procuro ver a alma. Quando eu fito um lindo horizonte, eu enxergo o arco-íris que se colore dentro de mim, e a sensação tão extasiante que me preenche. Quando eu vivo um momento, eu registro o que aquilo, em especial, me proporcionou. Não importa se bom ou ruim, estou de olho nos detalhes invisíveis, no resultado de uma vivência, ou experimento; estou de olho naqueles que se escondem por trás de uma casca, de uma nuvem, ou de um par de olhos. Vou de encontro até na maestria presente no ausente, a alegria imponente no sorriso de alguém ou na fraca luz que há no horizonte.

A cada dia me delicio mais com os pequenos detalhes que encontro ao longo da vida. Detalhes invisíveis que dão conteúdo e sabor à vida; minúcias indecifráveis ou inefáveis que soam como uma melodia sem partitura, ou um filme sem roteiro. São em detalhes que minha vida fica traçada; que eu consigo enfim, explorar mais a particularidade dos sentimentos. São nesses pormenores que descubro o tesouro cativo que tanto espreito. Enlevo-me com os detalhes mais fascinantes, que são capazes de despertar a poética envolvida pela essência ao redor. São mais que meros poemas. Detalhes são canções sem composições, caminhos sem rumo definido, quadros sem estarem pintados. É a beleza em si só não representada.

Esses detalhes que me fascinam estão imunes às descrições, ou mesmo registros ilustrativos, até mesmo aos olhos. Os encantos invisíveis estão longe de serem compreendidos. Mas não foram feitos para serem entendidos, e sim sentidos, assimilados e compartilhados. Na verdade não importa não entender esses detalhes que me arrebatam. Não importa que eu não consiga ver o que está atrás de uma porta, ou que as estrelas estejam tampadas por uma nuvem negra. Não importa que não possa registrar. O que importa é que a beleza estará sempre presente nesse invisível por trás dos momentos sublimes que eu vivo e presencio. O que importa é sentir a fragrância e não materializá-la. Detalhes são como o vento. Não os vejo, mas sou sensível a cada um. O que vale mesmo é que sejam significativos para mim. Esse é o detalhe mais importante.

 
 
 
 
Aspas do Autor: Acho que damos pouca importância às minúcias sublimes que passam por nós. Existe muita beleza escondida por aí. Nesta vida o que mais há é encanto ao redor. E não está visível aos olhos, mas ao coração. É importante perceber o que nos cerca e sentir. Tudo proporciona uma imensa alegria. Eu já venho há um tempo praticando essa arte de "ver o invisível". Confesso que é acolhedor e me dá muita paz perceber, nas entrelinhas que a vida dá, pequenas maravilhas. As sensações mais eternas são as que não conseguimos pintar ou descrever, mas sentir. Meu carinho à todos.