Diário de um amor

21 de março de 2015



Quando realmente a vi, decifrei seu olhar sofrido, seu sorriso restritivo que sublinhava doloridas afeições, momentos que souberam amadurecê-la com pressa, sem precisão. Captei coloridos anseios, perdidas emoções turvadas pelo dissabor de dias amargos, de desencontros febris impostos na alma. Encontrei um encanto em sua maneira distinta, temperada com silêncios francos, gestos condizentes em duras reflexões. Percebi suas impressões engavetadas, suas vestes amorosas impactadas por nebulosos momentos. Existe certa abundância de sentimentos em sua pálida presença, sua manifestação quase furtiva, porém ressabiada. 

De certo me espantei ao vê-la melhor, ao desanuviar o véu defronte seu rosto, e perceber em relevo o quão há vida na sua enternecida e sentida alma. Há algo precioso, um jeito terno e puro de se deflagrar diante dos meus olhos, como se demonstrasse a necessidade de ser captada, encontrada em meio a essas rotas incomuns, aos seus devaneios recapitulados por uma vontade ardorosa, porém sensível e discreta, pelo amor. Soube quando o choque surgiu, quando nossas linhas se cruzaram. Em algum momento as nossas frequências finalmente triscaram. Houve uma sinergia que fez nascer um novo olhar de ambos.

Minha aproximação trouxe respostas, antes ilegíveis pela distância. Esse toque quase teatral e imaginário fez criar uma ponte de entendimento, um respeito que trouxe interpretação, detalhes que permitiram a decodificação de suas ocultas belezas. As impressões firmaram com maior firmeza, porque tive a certeza que havia um primor nas margens sinuosas de seu olhar. Foi uma empatia natural, de atos límpidos e serenos, que nos permitiu sincronizar. Uma nascente destravada e há muito represada por dores internas e intensas. Hoje é possível saber que tudo pode desembocar em sonhos reais, em felicidades que sejam palpáveis, sentidas e vivenciadas. 

A cada dia os pensamentos sintonizam em sua dança letárgica, delineada com uma ternura de infinita pureza, uma vagareza que desembrulha paixão. O horizonte ganhou contornos diferentes, torneados com ineditismo, algo não visto há um bom tempo. Resta-me experimentar o sabor desses dias amenos, que me levam junto dela, que me faz querer estar perto de seus passos, de sentir sua respiração, seu calor tão atraente, de seu trejeito que clama por um abraço acalentador, por uma presença veemente e compassiva com a textura dos seus sonhos mais belos. Essa sensação me traz muitos pensamentos, dentre elas a impressão de que o amanhã guarda bonitas auroras...



Aspas do Autor: Depois de um longo inverno - sem inspiração - volto com um conto no estilo diário, não muito característico da minha escrita. Espero que gostem. Aos poucos voltando... 

3 comentários:

Vitor Costa disse...

Que bom que voltou Alexandre!!! Seus textos estavam fazendo falta amigo. Seu jeito peculiar e brilhante de tratar as palavras.

E esse texto não é diferente, acredito que suas experiências viajando pelo país te inspiraram a escrever um texto tão leve e revigorante como se o lêssemos de uma nuvem em um céu límpido.

Parabéns e apareça mais!!!! ;-)

Priscila Rúbia disse...

Essas sílabas tão docemente dispostas saíram realmente do órgão mais nobre do corpo: o coração.

Coisamailinda.


Obras de arte se degustam assim, em silêncio.
;)

J. disse...

Simplesmente excelente.