O convite do vento

23 de novembro de 2013




O vento remexia o seus cabelos no instante em que vislumbrava o brilho intenso das estrelas no céu. O surrupio doce da vida tocava com soberania sua pele. Um frio sutil se percorria pelo seu corpo, trazendo à tona velhas sensações. A melodia ao redor enunciava o que no peito se deslumbrava. O coração entoava a melodia sob a orquestra calorosa do sopro da vida, do oxigênio puro que se envolvia pelo ar.

Ela sentia a força do vento lhe impelir, lhe empurrar. Algo no ar sugeria pra ir, para seguir, para do alto pular e voar, suportada pelas asas do sentir, pela força imperiosa do amor dispersado no ar. Seus olhos refletiam a aurora convidativa que no horizonte reluzia. Um chamariz para a sua alma tão incendiada pelo intenso desejo de flutuar pelas paisagens. Seus pés saltavam com uma fagulha de coragem nunca sentida antes na sua vida.

Suas pupilas absorviam a magnitude que o mundo fosforescia com ímpeto. Seu medo ainda perpetuava por entre suas veias. Tremia. Seu corpo confrontava-se com a possibilidade, com a derradeira escolha, com a chance de descobrir um infinito mundo novo, repleto com encontros novos e emoções nunca vividas. Seu desejo era ímpar. Era o de mudar. Era o de voar, desbravar distâncias num simples sopro, num rasante impulso.

O vento aquecia seu coração, tornando-se trilha sonora para esse momento que seu íntimo ansiava com todas as forças. Ao abrir os braços, sentiu o vento impregnar seus corpo inteiro. E um universo inteiro se abriu diante dos seus olhos. Suas mãos almejavam “tatear” o espaço, o mundo sobre a superfície, um universo inteiramente tátil ao seu coração de pássaro. Sua alma cobiçava sustentar-se no ar, e que os braços fossem as asas que permitissem esse tão ousado voo.

Ela temia, mas parecia decidida. Aproveitou o momento em o vento deu uma forte rajada pra aceitar o convite. E no abismo seu corpo caiu. Atravessou as camadas de vento como se fosse uma rocha. Ela sentiu o prazer de voar, o de culminar sua alma nesse esplendor exultante e único. Foram poucos segundos, mas eternos até o voo findar, fatalmente, no chão. Sua vida, por inteiro, fragmentou-se. Esvaiu-se. Sua alma, enfim liberta, pôde voar. Até o além do horizonte. 



Aspas do Autor: Às vezes a vida pode nos dar convites traiçoeiros... Às vezes não. É bom sabermos avaliar cada caminho que surge diante de nós, para que não possamos cair em abismos.

5 comentários:

Anônimo disse...

E o abismo nem sempre resulta na solução de problemas. O abismo é mais um passo em falso, rumo ao declínio de nós mesmos. O abismo também significa a completa falta de coragem. É fraqueza, péssimo adjetivo.
Abraços.

Palladino disse...

Show... <3

Ariana Coimbra disse...

O vento ás vezes só nos convida a seguir em frente, e o melhor a se fazer é seguir.

Renato Almeida disse...

Belo texto, com uma enorme senisibilidade, nos fazendo fixar os olhos até a ultima palavra. Até mais, e um ótimo fim de semana. http://realidadecaotica.blogspot.com.br/

Thaís de Castro. disse...

Uau, esse texto foi intenso.