I guess this time you're really leavin'
I heard your suitcase say goodbye
And as my broken heart lies bleeding
You say true love is suicide
(I'll Be There For You – Bon Jovi)
Após receber a ligação, ela fechou os olhos e ficou pensativa. Talvez fosse possível ver uma lágrima surgir. Hesitou um pouco, porém, depois de intermináveis minutos foi para o quarto ponderar as próximas horas. Aquela noite seria longa demais, pensou. Diferente das outras vezes, agora ela esboçava um rosto preocupado. Procurou em vão formas de contornar o que iria acontecer. Mas não poderia. Jamais. Acariciou seus longos cabelos pretos e suspirou.
Num impulso frenético de raiva jogou o abajur no chão, espatifando-o. Jamais, em toda a sua vida tinha ficado assim. Nunca tinha deixado a emoção tomar conta de si. Deixou-se envolver, e agora o sentimento era muito forte. Sentia isso. Essa constatação a indignou. O trabalho dela tinha restrições necessárias. E não se envolver era a mais importante. Ao mesmo tempo ficou imensamente machucada por dentro ao pensar no que devia fazer.
Ficou horas ali na sacada da janela, observando as gotas frias de uma chuva tímida que caía lá fora. Mas decidiu-se. Tomou um banho quente e então começou a se arrumar. Para a ocasião, escolheu um dos seus vestidos mais lindos, um lindo Gianni Versace comprado em uma de suas andanças por Milão. Era de um vermelho intenso, com detalhes em dourado. Para fazer tom com o vestido, escolheu um lindo sapato Salvatore Ferragamo, vermelho vinho. Ela amava o vermelho, definitivamente. Não tinha o sorriso habitual, mas mantinha sua postura feminina e sensual, segura e doce. Para concluir, usou a sua fragrância preferida, que ela fazia questão de comprar pessoalmente em Paris, o Chanel nº 5. Vestiu luvas brancas e passou um batom de tonalidade vinho. Estava estonteante e deslumbrando sensualidade.
Ao terminar de se arrumar, conferiu o horário. Sorriu levemente e se dirigiu para o seu carro, um esportivo BMW M6, também vermelho. Com uma dor visível no olhar, ela se encaminhou ao seu destino. Ele morava na cidade, mas tinha uma casa no campo, cercada por florestas e paisagens belíssimas, onde um rio cristalino cortava a propriedade. Era lá o encontro, um ambiente naturalmente repleto de romantismo e magia por tanta naturalidade e beleza circundando o lugar.
Chegou ao local meia hora depois. De longe o avistou na frente da casa, esperando recepcioná-la. Não pôde segurar o aperto doce do coração ao vê-lo. Buscava não sentir, mas era impossível. Transmitia uma doçura nunca conhecida por ela. Apenas ele foi capaz de fazê-la sorrir, de tremer e pulsar esse sentimento tão misterioso que é o amor. Buscava no mais íntimo minar esse controle, mas era difícil. Ela que sempre foi intransponível e fria, não entendia esse vendaval de emoções.
Ele, com o seu olhar cheio de ternura, a recepcionou. Vestia um terno Armani de um azul marinho encantador. Ele tinha imponência, transparecia a firmeza e a segurança de um homem de verdade, ao mesmo tempo em que era evidentemente sensível e apaixonante, era gentil e educado. O sentimento aflorava com uma beleza ímpar. Ela, mesmo sem entender o que existia no ar, gostava de vê-lo, de estar perto daquele homem tão garboso. Nisso ele pediu sua mão e delicadamente foi acompanhando até a varanda da casa. Os dois se entreolharam por um bom tempo. Aproximaram um do outro e beijaram-se. Com todo o fervor apaixonante que ambos nutriam. Ela sentiu-se fisgada não apenas pela latente emoção do amor, mas pela dor lancinante da sua obrigação. Ela arqueava. Ele notou o abatimento nela.
- Algum problema meu amor? Perguntou com uma sensibilidade acolhedora.
- Não, estou bem. Ela mentia. Mas foi convincente. Ele assentiu.
Jantaram à luz de velas, com direito a vinho branco Chardonnay, e logo depois dançaram, ao som de Bom Jovi. Conversaram muito e ficaram trocando afagos por algum tempo, até o momento em que as carícias ficaram mais intensas. Beijavam-se ardentemente e tiravam a roupa um do outro enquanto iam em direção ao quarto. Ali fizeram amor, um sexo prazeroso regado a muita paixão e ardor. Ela regozijava-se de prazer na cama, um prazer da qual nunca tinha experimentado. Um prazer apimentando com amor, com sentimento verdadeiro. Dormiram ali mesmo, ambos abraçados no amor que os envolvia.
Passado algumas horas, ainda de madrugada, ela acordou e, enquanto o homem ainda estava na cama dormindo, se arrumou para ir embora. Antes de ir, precisava fazer o combinado. Ela extorquiu forças de onde não tinha. Mas era seu trabalho. Não foi previsto. Ela o amava. Mas por dentro sofria. Chorou como nunca chorou antes. Entretanto, a decisão já estava tomada. Foi até o carro e pegou o embrulho no banco de trás. Foi até o quarto. Ele ainda dormia.
Tirou do embrulho sua katana, uma espada japonesa, de corte afiadíssimo. Fechou os olhos e com um golpe seco perfurou-a no homem, matando-o na hora. Ela caiu no chão de joelhos e por bastante tempo chorou. Tinha que cumprir o seu trabalho. Foi contratada para isso. Tirou de sua bolsa uma carta de baralho, uma “dama de espadas” e jogou-a em cima do corpo. Era a assinatura do seu serviço. De mais um realizado. Depois de um tempo em silêncio, pegou a espada e saiu dali. Em nenhum momento viu o homem morto.
Chorando, correu até o carro e saiu dali o quanto antes, com a alma despedaçada. Lá fora, nem sentiu direito o frio que começava a surgir. Trêmula, foi embora dali com a certeza de que tinha matado mais alguém: ela mesma.
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Veja a sequência desta história neste link:
(publicada em 23 de janeiro de 2010)
Aspas do Autor: "A Dama de Espadas" é um conto que surgiu do mesmo conto. Em janeiro escrevi um conto homônimo. E apesar de antes, cronologicamente, dentro da história, ela parte exatamente após o assassinato do homem. É a primeira vez que faço um conto usando uma mesma personagem duas vezes. Não costumo seguir histórias ou escrever novamente sobre um personagem. O fato é que gostei muito dela. Porque destoa. É diferente do que costumo escrever. Gostei tanto do conto, que hoje decidi escrever este, descrevendo os acontecimentos anteriores. E reparem na suavidade do amor que ponho nas histórias. Mesmo com um assassinato de pano de fundo, consigo botar em voga sentimentos. Porque ela despertou algo que nunca tinha sentido. E mesmo sendo fria como era, esse fato a abalou muito a personagem. Foi legal explorar o sentimento aflorando numa pessoa que sempre se protegeu disso, e mais ainda, sendo assassina serial. Se alguém quiser ler o que a Dama de Espadas fez após ter matado ele, é só seguir o link para janeiro. Um conto de suspense e amor só pra quebrar a rotina. Meu afeto à todos.
22 comentários:
Oi,Alf!Nossa o amor não é feito só de eles viveram felizes para sempre o amor também é feito de sofremimento, nossa amar uma pessoa e assim mesmo matá-la é algo no mínimo louco,mas existem mais coisas entre o céu e a terra do que julga nossa vã filosofia.
Um ótimo domingo!
Beijosss
Oh! Choquei agora...
Engraçado que a gente sempre vê filmes com esse tema, mas quase sempre o amor vence a obrigação. Nesse caso foi diferente, ela preferiu a obrigação, talvez por gostar muito das roupas, carros e perfumes de marca. Prioridades são prioridades...
Belo Domingo pra vc, O bope ta chegando vai pegar fogo no meu blog com Guys from heavy, estreia 11.10.2010
Choquei também! MEU DEUS, ela parece ser de escorpião, fez sexo com ele e depois o matou. To passada. HAAH.
Bom feriado. ;*
Oi,
Sou alguém que conheceu o inferno das drogas, que fez alicerce e morada nesse lugar. Sofri todos os horrores, ou boa parte deles e hoje me encontro limpa, sem drogas, mas consciente que tenho uma doença, sem cura, progressiva e fatal. Não tenho um intuito específico escrevendo isso, não estou procurando criticas, conselhos ou julgamentos, sou conhecedora da causa que escrevo, não há teória. Sou apenas mais uma com vontade de colocar pra fora todos os bichos da minha história.
http://vidadeumaexd.blospot.com/
Obrigada
Ale,
Meu coração pulsou quando soube que ela o matara. Será que assassina serial apaixona-se assim, como descrito aqui?
Gostei muito da forma como a história se desenrolou, do amor que passou à mim. Encantador, meu querido, como sempre.
Desculpe o mau (mal? haha) jeito com as palavras. Mas, realmente, me encantei.
Meu beijo.
Suspense e amor na medida certa, Alf!
Aquele abraço!
Oii meu anjooo
Qtas saudades senti
Sei q ando meio ausente
Mas a correria da minha vida tá d+
Resolvi passar aki rapidinho
Pra deixar um big bjoo...
E dizer q depois volto com mais tempo
Pra ler a história desde o inicio...
Bjo mais q carinhoso meu grande escritor...
=)
Admiro demais quem consegue criar historias assim tão bem escritas. Nunca consegui escrever um conto, na verdade, nunca tentei, e não tentei justamente por não ter esse domínio de contar as historias de outras pessoas ou personagens!
Parabéns, você consegue fazer isso brilhantemente, e dentre todas que já li, a minha preferida é o rapaz que era apaixonado pela vizinha da janela da frente.
Abraço!
Ohhh, me surpreendeu. Gostei porque deu um final diferente do que eu esperava.
Que conto,viu!Adorei, meu caro!!
Pior de tudo é que ela se matou com ele..Mesmo amando, assim fez..
Tristee..
Obrigado pela visita e um feliz dia das crianças..
Oi Alexandre,
Uauuu que surpreendente.
Eu não sou tão criativa assim e não saberia criar uma história.
Muito bom.
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Tudo que é realmente grande e inspirador é criado pelo indivíduo que pode trabalhar em liberdade. "
(Albert Einstein)
Beijos meus
Nossa, há quanto tempo não leio um conto tão surpreendente! Adorei a história Alexandre... você é um escritor e tanto *-* Não canso de dizer isso :)
Beijos
Alexandre, realmente esse foi um texto diferente do que costumo ler por aqui, mas obviamente com a mesma qualidade que prendem do início ao fim.
Assim que terminei de ler fui ver a outra parte, tão boa quanto essa.
A mulher comete o crime, seu trabalho, e depois se arrepende, apesar de cruel e irrevogável essa atitude, acredito que você quis mostrar que às vezes em nossa vida agimos assim também. Tomamos atitudes egoístas para mais tarde nos arrependermos, mas nem sempre obtemos o perdão.
Talvez nem seja isso e eu esteja viajando legal aqui, mas eu entendi assim.
Abraços, cara. Até breve.
Oi Alexandre,
Muito Bom!! Belíssimo conto, suspense, amor, diversos sentimentos aflorados. Parabéns.
Beijo meu
Alê!!
O que dizer. Você sabe exatamente a medida entre o romance e o delirio.
Ficou mega maravilhoso amigo!!
E tuas palavras sempre nos calam.
Perfeito. beijo
vim porque estava com saudade de te ler.
mas, falar destas coisas hj dói um bocado.
Um Beijo
Vc e seus textos maravilhosos...
desculpa a demora, mas é q estava sem tempo de passar nos blogs q gosto.
:*
Eita Alexandre,
Bela mistura, como dizem por aí, " tudo junto e misturado" Suspense, amor, terror e até morte...
Bom demais!!!!!
Amigo querido,
Obrigado pelo carinho que sempre deixa no blog, tudo é recíproco.
Bjos
Eu preciso sair, Ale! Não saiu mais, não me divirto mais, acho que é isso que está me fazendo ficar longe do blog, longe das minhas histórias. Acho que agora quando acabar isso de provas de concurso para colégio, eu vou poder voltar a minha vida de antes. Enfim, obrigada pelas palavras... você sempre um fofo comigo (: Sinto falta de visitá-lo sempre.
Agora deixando de papo e falando sobre esse conto, eu só posso dizer que estou de boca aberta. Nossa, eu ainda vou descobrir como escrever tão bem assim, Ale D: Ficou demais! INCRÍVEL! Sem palavras para descrever. Você deveria fazer mais contos assim, ein?
Te adoro, se cuida <3
Vou favoritar esse texto. Preciso ler com mais calma!
Clichê é dizer que vc tem muito talento e que adoro seus textos...
Eim... vc deixaria o Aleksandr Púchkin enciumado... esse autor tb tem um conto chamado " A dama de espadas"
muito legal...
beijos querido
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