Era fim de tarde. A brisa esvoaçante era bastante calorosa. Era possível notar o baile das folhas farfalhando nas árvores, e até a grama tremendo. A paisagem seria linda, se o cenário não fosse um cemitério. Ali, sob a sombra de uma das árvores, estava Márcio. E estava vazio. Seu coração não apenas estava longe, mas estava destroçado. Sofria por dentro. Era possível sentir o inferno queimar dentro dele. Era causticante. Ele suava. Um suor frio, que externava uma dor interna de grandes proporções.
Vestia uma combinação sombria. O seu luto era enfático. Destoava. Dos pés à cabeça ele vestia preto. Seu cabelo loiro dava um contraste. Com as mãos dentro do bolso do casaco ele olhava apenas para o horizonte. Estava com os olhos vermelhos, fundos. Estava nitidamente abatido. Viver aquela situação lhe proporcionava um fraquejo jamais sentido. Uma sensação de derrota, fraqueza e abandono. Deus era injusto. Por que tinha levado a mulher dele? Ele se perguntava.
A cem metros do túmulo, estava só e pensativo. Ele precisava deliberar. Mas o mundo tinha sumido aos seus pés. Ele se ancorava em algo invisível até para ele. Ele não sentia mais nada ao redor. A maioria dos parentes e amigos já tinham ido embora. Seus pais ainda estavam ali, a dona Marta e o seu Fábio, mais seu irmão mais novo, o Érick. Da família da falecida mulher, só restavam a mãe, dona Olívia, e a irmã Elena– que era a mais tensa ali e chorava copiosamente, depois dele. Mas tinha um motivo assustador.
Ao olhar para ela, ele se enfureceu com uma intensa brutalidade lembrando-se do ocorrido. Ele a acusava de culpada da morte da própria irmã. Elena estava dirigindo o carro acidentado que feriu fatalmente sua mulher, na noite retrasada. Ela não sofreu mais que arranhões. Ele não se contentou. Desde a confirmação do falecimento de Júlia, ele só sabe acusar Elena de ter matado a própria irmã. Que ela foi negligente no trânsito e extrapolou a cautela necessária, induzindo o acidente. Sendo ou não culpada, para ele, era assim. Uma briga horrenda já foi testemunhada no velório. A situação ficou tensa. Quando brigavam, ele gesticulava e apontava o dedo para ela, de forma acusadora. Foi uma cena assustadora. Estava visivelmente em desequilíbrio. Elena ficou sem ação. Todos os presentes no velório se chocaram. Foi constrangedor.
Os dois que antes tinham uma relação muito amigável, agora estavam rompidos, após essa acusação tresloucada e implícita dele. Eles agora mal se aproximam. As atitudes impensadas de Márcio gerou um desconforto enorme entre as famílias, que se afastaram por conta disso. Além da dor do ocorrido, esse fato gerava mais mágoa ainda. Principalmente por parte da família de Júlia, que achava uma tremenda e infeliz desmedida, acusar a Elena, de ter matada a própria irmã. Eles se chocaram com essa suspeita, que de fato era gravíssima, delicada e sem cabimento.
Ele ancorava muita mágoa. E isso o destruía. Os acontecimentos das últimas horas o enfraqueceram. Um estresse agudo invadia o corpo dele. Era natural, com tudo o que ele tem passado. Só restava ficar um pouco só. Ali estava pensativo, vislumbrando o horizonte. Tentando encontrar algo de bom. Mas nada era suficiente.
A tarde desaparecia e a noite estava iniciando sua entrada triunfal. Gotas de chuva começavam a cair timidamente pelo cemitério. A brisa silenciou seu voo. Ele começou a andar. Nem se despediu de alguém. Foi caminhando lentamente para a saída. Abalado, ele sentia dores em cada passo. Ele precisava dar uma volta, arejar a cabeça e respirar. E foi. No seu A4 Sedan, ele ficou vagando pelas ruas da cidade até altas horas. Por horas chorou intensamente no volante do carro. Ele não tinha para onde ir. Ele estava sem chão. Ficou dando voltas pela cidade. Dirigiu até as ruas ficarem totalmente desertas. Ele não se continha. A noite estava bonita sim. Qualquer outra pessoa acharia isso. Ele não. Gostava apenas do silêncio. Isso lhe dava paz. Ele sossegava.
Uma hora da manhã, seu celular acusou o recebimento de uma mensagem. Ele olhou para o relógio e deu uma encostada no carro. Olhou a mensagem de texto que recebera. De repente seu comportamento se alterou completamente. Pelo retrovisor interno ele se viu. Ajeitou os cabelos e passou uma toalhinha no rosto. Voltou a ligar o carro e se foi. Foi para casa.
Chegou e com muita calma estacionou o carro na garagem e com uma frieza absurda ele entrou na residência. Ele não parecia sentir mais nada. Tirou o seu casaco e o jogou no sofá. Foi até o barzinho. Pegou um vidro de conhaque Courvoisier X.O Imperial, e mais dois copos. Pôs duas doses e se dirigiu até o quarto. Quando chegou à porta, ele sorriu docemente. Alguém o esperava ali. Ele caminhou lentamente até a metade do cômodo. Uma mulher o abraçou carinhosamente.
Ele passou um dos copos a ela, que prontamente pegou.
– Estarei viajando semana que vem para descansar e tentar esquecer um pouco da dor. Será uma justificativa suficiente. Eu ando precisando não é? – e deu um meio sorriso irônico. Ela consentiu.
– Claro meu querido. E eu estarei indo para estudar fora, como todos já sabem há muito tempo. E depois de ontem, ninguém nunca vai suspeitar da gente – também deu um leve sorrisinho irônico. Ele gargalhou.
– Depois a gente se encontra, viajamos e finalmente ficamos juntos. Para sempre!
– É tudo o que eu mais quero meu amor! E sorriram juntos.
Ele então pôs o copo numa mesinha próxima e aproximou-se dela. Puxou-a pela cintura e a beijou apaixonadamente. Ela se derreteu de amores. Ele parou, e com os olhos fixos no dela disse:
– Eu te amo Elena.
– Estarei viajando semana que vem para descansar e tentar esquecer um pouco da dor. Será uma justificativa suficiente. Eu ando precisando não é? – e deu um meio sorriso irônico. Ela consentiu.
– Claro meu querido. E eu estarei indo para estudar fora, como todos já sabem há muito tempo. E depois de ontem, ninguém nunca vai suspeitar da gente – também deu um leve sorrisinho irônico. Ele gargalhou.
– Depois a gente se encontra, viajamos e finalmente ficamos juntos. Para sempre!
– É tudo o que eu mais quero meu amor! E sorriram juntos.
Ele então pôs o copo numa mesinha próxima e aproximou-se dela. Puxou-a pela cintura e a beijou apaixonadamente. Ela se derreteu de amores. Ele parou, e com os olhos fixos no dela disse:
– Eu te amo Elena.
Aspas do Autor: Escrevendo esse conto, eu quis explorar um universo delicado. Até que ponto um ser humano pode ser capaz? Até que ponto um sentimento pode submeter alguém a cometer loucuras. Tirar a vida de alguém para estar junto de outra? Escrevi com muita tristeza, não pela história, mas por saber que a realidade às vezes é pior do que a imaginada. Mas até isso não impede um embate interior da própria pessoa. Não fugi em mostrar o sentimento (disforme ou não). Tirem suas próprias conclusões. Carinho meu. Até logo!
23 comentários:
Belo conto...
Mesmo através de palavras tristes, me admiro o quanto escreves com sensibilidade...
Mas concordo com seu pensamento, pessoas fazem coisas horríveis por sua felicidade sem pensar nas outras...
Bjs pra ti
Ótio final de semana!
^^
Alê, é terrível pensar que alguém pode ter a frieza de cometer tal ato, não? Mas infelizmente há pessoas que são capazes disso e muito mais. Pensam apenas nelas mesmas, no hoje... não medem consequências, não temem a nada e a niguém!
Espero nunca cruzar com alguma delas...
Beijo e bom fim de semana!
oO Às vezes eu fico pensando se existem mesmo pessoas assim, típicas vilãs frias de novelas... Tenho dúvidas, sabe? MAs, acho que o dinheiro e o poder são capazes de transformar pessoas... Tenho medo!
Muito bom o conto! Perfeito...
E tu ta metido hein neguinho?!rsrs
É Template novo,contos diferentes dos habituais...rsrs
Refletindo sobre o teu texto,me lembro de quando me dei conta de como realmente as coisas funcionam aqui.(nesse mundo,que creio desse jeito não ser o "mundo de meu Deus")
Até pouco tempo atrás,achava que coisas como: pessoas dissimuladas,falsas,capazes de tudo pra ter o que querem esxistissem apenas na Tv ou em romances policiais.JURO(como eu era ingênua,não?)
É,infelizmente(eu preferia ainda ser inocente)eu acordei...
Obrigada pelos elogios.Você sabe o quanto é especial pra mim tbm.Não sabe?
Amo mais que pão de sal quentinho com manteiga de leite e café doce!!!!
Realmente profundo.Voce consegue trasmitir toda a tristeza do personagen e nos emociona.Nossa amei muito mesmo.já to seguindo ta.Será bem vindo la no meu blog .bjos;)
Ántes de mais nada, obrigado pela visita no meu blog!É uma honra sempre receber tua visita!
Como sempre, escrevendo belos textos, que nos emociona, contagia e nos sensibiliza! Realmente no mundo de hoje, tem-se acontecido tantas coisas ruins, as pessoas não estão pensando no bem da outra, antes a colocada para trás. É triste, mas há solução para tudo isto, Deus!
Ele é solução para todos os problemas que vem se acontecendo nos dias atuais..
Que Deus a cada dia lhe abençõe!
Um abraço!
No início do texto, eu fiquei triste pelo Márcio. Me coloquei em seu lugar. Perder quem a gente ama não é nada fácil. Me coloquei também, no lugar de Elena. Como seria ser acusado por algo que não fez, ou que não fez com tal intenção.
Mas você me surpreendeu. A gente sabe que isso acontece nas novelas, nos filmes... mas essas coisas também acontecem na vida real. O que é terrível. Alguém que tira a vida de uma pessoa, a quem jurava amor, para viver ao lado de outra, não 'ama' de verdade. E nós vivemos no meio de tantos planos malígnos e mentiras absurdas, que aos poucos essas coisas vão se tornando cada vez mais normais.
Lindo o texto, apesar de ter me assustado um pouco.
Olá meu caro ALF!O ser humano é capaz de inúmeras barbares em nome de um sentimento que ele julga ser amor,mas na minha modesta opinião quem ama não é capaz de tirar a vida de outra pessoa.
Uma ótima semana!
Beijosss
Espetacular! No começo gostei da descrição do moço loiro! Ia pedir pra vc me apresentar a ele, pq eu pegava e consolava ele...Depois vc me fez ficar com ódio dele!
Ôôô, dá pra escrever um conto de um moço direitinho e me apresentar a ele? kkkkkkkkkkkk
Brincadeiras à parte, deixo as palmas pra vc! A César o que é de César =)
ps: ainda gosto do Márcio! É segredo, mas eu sempre prefiro os vilões ;-)
Ai...
No início, tive uma pena danada dele, sério, essa história me tocou profundamente, é horrivel perder alguém que amamos, e logo, ele que perdeu a esposa! É muita dor...
Mas, um final supreendente! Me bateu uma vontade de ir lá e...e...
Nem sei...
Muito triste, se faz isso com a irmã, se faz isso com a esposa, fará com qualquer um.
O pior de tudo, é que é real. Existe ai, ao nosso redor!
Queria lhe dar os parabens! Você escreve muito bem, com palavras realmente tocantes, nos mostra a realidade, em meio ao texto traz suspense, emoção, tristeza por parte dos personagens, alegria, enfim toda vez que me encontro cá, reflito sobre a vida, em meio á tantas palavras encantadoras, que você nos transmite!
Beijos, e um ótimo inicio de semana!
:)
Nossa, você arrasou nesse conto. Confesso que senti pena do Márcio, mas depois pensei, "que cajeste". Mas por outro lado, quando há amor na situação as coisas ficam bem complicadas.
Parece que a razão se esvai por completo.
Só que o bom censo tem que prevalecer, pelo menos.
É um assunto bem delicado, como você disse. Não me arrisco a julgar ninguém.
P.S.¹:Desculpe pela demora para ler seus lindos escritos, é que eu não ando sabendo administrar bem o meu tempo.
P.S.²:Obrigada pelo carinho lá no blog, saiba que você é um querido.
Ah, e eu comentei no seu post anterior.
Beijão.
Triste,mas ao mesmo tempo nos prende.
Cara,que reviravolta no final!Nunca imaginaria que os dois matam Júlia juntos!!!Nossa!!!
Ele é um dissimulado,e a Elena...nossa!Que raiva desses dois,rs.
abraços,
Things of the Soul.
Complicado. e delicado também, como você mesmo afirmou. Lembrei-me de que gosto de cemitérios e também das igrejas católicas (veja só, a ateia...). Ambos tem arquiquetura excelente e passam uma sensação entre medo e srenidade, algo que me é misterioso, incompreensivel...
Migo, estou na fossa. Beijomeliga.
nossa..
uma perda sempre é dolorosa,
mas não podemos aceitar isso da forma que ainda lidamos com esse problema...
a vida é um ciclo, e pra todos nós irmos é só questão de tempo, são tantos mistérios, a forma de agir é não ligar para as perdas!...
tentar pelo menos...
!
até onde vai o limite do amor? eu queria tanto saber. sinto-me cada vez mais perto dele e consequentemente cada vez mais louca. seria só um delírio do qual acordarei em breve? ou seria uma realidade que eu enxergo ainda embaçada? não sei.
OMG! tomou um rumo totalmente diferente do que eu imaginava!
tava com saudades daqui! to voltando agora com o blog para valer, se pá passa lá, to continuando a minha história, a da lorena e do bernardo lembra? beijos
O que eu achei mais impressionante foi o fato de uma pessoa conseguir fingir tão bem e ainda por cima acusar outra pessoa por uma coisa que ela não cometeu ou ocasionar um acidente falso, tudo por uma loucura de amor.
Beijos
Eu achei essa atitude bem doentia. Só alguém doente faria algo assim, que loucura! AMEI o conto, alias amo tudo que você escreve. Sempre muito bem escrito *-*
Ps: ADOOOOOOOOOORO SEUS COMENTÁRIOS LÁ NO BLOG *-* OBRIGADA PELO CARINHO SEMPRE ALE <3 E desculpe por ficar sem vim aqui por tanto dias, mas agora estou de volta \o
xx
Voltando só pra dizer que tem post novo lá *-* xx
Minha curiosidade se aguçou e não pude deixar de ler a última frase antes de ler o último parágrafo. Fiquei chocada ao terminar de ler. Tuas palavras dançam à minha volta, teus textos são inspiradores e eu nunca me cansarei de te elogiar.
Belíssimo. Fiquei sem palavras, busquei-as longe, rs.
Beijos.
Você sempre com esses textos de deixar a gente sem palavras né?
Simplismente está lindo o seu blog!
Adoro vir aqui (: Beijos e obrigada por passar no meu blog! :*
Olá, desculpe invadir seu espaço assim sem avisar. Meu nome é Fabrício e cheguei até vc Um Lugar ao Sol Perto do Vento, da Ju Fuzetto. Bom, tanta ousadia minha é para convidar vc pra seguir meu blog Narroterapia. Eu sei que é um abuso da minha parte te mandar essa propaganda control c control v, mas quem escreve precisa de outro alguém do outro lado, além sinceramente gostei do seu comentário e do comentário de outras pessoas. Estou me aprimorando, e com os comentários sinceros posso me nortear melhor. Divulgar não é tb nenhuma heresia, haja vista que no meio literário isso faz diferença na distribuição de um livro. Dei uma linda no seu texto, vou continuar passando por aqui...rs
Narroterapia:
Uma terapia pra quem gosta de escrever. Assim é a narroterapia. São narrativas de fatos e sentimentos. Palavras sem nome, tímidas, nunca saíram de dentro, sempre morreram na garganta. Palavras com almas de puta que pelo menos enrubescem como as prostitutas de Doistoéviski, certamente um alívio para o pensamento, o mais arisco dos animais.
Espero que vc aceite meu convite e siga meu blog, será um prazer ver seu rosto ali.
Abraços
http://narroterapia.blogspot.com/
Olá Alf, gostei do conto.
Parece coisa de novela, coisa de conto, inventada né.
Mas isso acontece na vida real sim. O ser humano é capaz de mt coisa quando ser quer alcançar um objetivo seja ele relacionado a profissão, ao amor, a amizade.
Somos uma verdadeira caixinha de surpresa.
beijos e boa semana!
Postar um comentário