Pulso intermitente

28 de setembro de 2017

Foto/Picture: Herbert Johan












Pois amor não é uma coisa transitória, é para sempre.
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Há uma engenharia ao redor que trai os nossos olhos, que alimenta o sorriso com uma fala que grita em silêncio. Movimentamos como que comandados por cordas, feito um fantoche nas mãos da vida. O corpo se acidenta em curvas que desapontam o coração, um desvario que arrasta nossos pés por entre rotas estreitas, contra a vontade daquele pulso que cutuca os gestos, aqueles desejos tão independentes que uniformizam a pele com o calor dos sentimentos. Tem uma força motriz que sustenta as pálpebras, mesmo diante da dor.

É um zelo que pulsa, um afeto que cutuca, grifando as emoções tão perenes e existentes no mais profundo da alma. Difícil se desvencilhar daquele toque que repercute, rotacionando os olhares por entre frestas ornamentadas com a elegância da poesia. É algo latente, imbuído com reflexos de um brilho que circula iluminando os cômodos mais íntimos. Nem sempre é possível admitir, acreditar que existe uma onda arrematando nossas margens mais seguras, freando nossa fuga com uma brisa lancinante e intensa, porém muito cálida.

O silêncio não nos deixa à vontade, pois algo lá dentro grita, apontando palavras a saírem da boca. Certas belezas denotam mais do que são, fluem sem intenção de parar, revelam-se ternas por entre as veredas da alma, espalhando seu sabor adocicado, sua fragrância que contorna o peito com um prazer singular, intrínseco e indescritível. Contudo, nem sempre o corpo responde, nem sempre a boca revela o que o coração tanto almeja dizer. Os dedos tremem, impedidos por um medo que paralisa o sangue, que coagula aquela efervescência arredia que circunda nossa presença.

É árduo a entrega, o passo que nos direciona ao abraço. Pois o amor que gira pelo peito nasce e frutifica, floresce e nos arquiteta com uma estrutura vívida e brilhante. O sentimento lateja intermitente, reerguendo-nos das quedas, tal como o sangue potencializa a vida que o coração nos entrega. Padecemos na tentativa de negar, de fugir de uma mão que nos convida a adentrar em um barco pronto para navegar no maior dos oceanos. Porque para amar é preciso aceitar o convite de um vento que tremula intermitente sobre o nosso mundo.

A gente olha e emudece, deseja e imagina, todavia, não nos insinuamos. O medo nos deixa distantes, mesmo que estejamos a poucos centímetros. Coisas importantes são difíceis de serem ditas e admitidas, ainda que no fundo a gente saiba bem o que sente. É necessário suportar ladeiras íngremes, investindo em coragem para entender que existe um bem rodeando aquela magia que despontou na ponte construída entre dois olhares. Afirmar pode ser um passo duro, mas necessário. Não apenas para nos aproximarmos de quem amamos, mas para não nos distanciarmos de quem realmente somos.

Aspas do Autor: Às vezes, coragem maior, é negar o que no peito ecoa...

5 comentários:

Wendel Valadares disse...

Alê, Alê, meu irmão. Que maravilha. Tem sempre uma novidade brotando na tua palavra. Tem sempre um arrebatamento em tudo o que você escreve.

"Coisas importantes são difíceis de serem ditas e admitidas, ainda que no fundo a gente saiba bem o que sente."

Texto incrível, como sempre.

Te abraço.

Branca disse...

Belo texto! Têm sentimentos que ficam engasgados, sufocando, machucando...difícil admitir nossa fragilidade.
:)

Jaya Magalhães disse...

Você não tem a menor ideia do quanto teu comentário no meu último texto me emocionou. Me emociona saber que você se divide um pouco em mim, enquanto me lê. Obrigada por ser sempre tão incrivelmente gentil na sua maneira de me deixar fazer parte da sua vida, desse nosso jeito, em palavras. Mas com uma amizade sempre cúmplice e bonita. Obrigada, meu amigo!

Quero te dizer que esse teu texto é um relato tão honesto do que pulsa, que é impossível não conseguir quase escutar os parágrafos ecoando um som todo poético de coração que bate para e pelo mundo. Porque amor é tudo.

Escreva mais.

Um beijo.

Bandys disse...

OI Alê,
O amor não foi feito pra acabar. O amor são tenros brotos de esperanças que nascem no coração da gente. Você sempre derramando poesia pelos dedos.
Lindo,
Beijos

opto disse...

Lindo seus textos ,fácil de absorver por ser REAL.

GRATIDÃO!!!!