Foto: Joanna Jankowska |
O dia conflui sem certeza, sem cor, sem textura perceptível. O vazio decora a margem da alma e todas as nuances se extirpam sob o véu da iniquidade, abraçado pelo medo dos dias confusos. Tudo se torna leve por conta do esvaziamento que o findar propicia. A vida equaciona em nossos peitos uma infinidade de sonhos engavetados. Desbotam os tingimentos, e liquefazem as virtudes mais concretas.
Falta, sobretudo, a garra, um pleito de coragem que debruce esperança e anseio por melhores encontros e dias mais lindos, momentos de valores inefáveis. A caminhada dos dias obscuros cansam os olhos, padecem o corpo numa incólume condição de paralisia. Falta ajuste em meio a tantos entroncamentos e caminhos sem placas de orientação. Porque a vida não aponta, não deixa evidentes suas maravilhas.
Apenas acontece. E insurge no peito um torpor que amortece a pele, e engrossa a cortina do céu. Escurecem as expectativas, a paisagem vislumbrada pelos olhos, os sonhos cultivados no solo do peito. Faltam abraços cativos em um espetáculo de ausências, de distanciamentos que incide solidão em nossas vidas. Anoitece lá dentro, como um findar que esgota as energias do íntimo, as mais suntuosas dentro do âmago.
Falta a inspiração para completar o significado dos gestos, para rechear as palavras com sentimento e emoção. Às vezes tudo é levado pelos dias incomuns, pelo negror dos acontecimentos. E pairamos solenes diante de um passivo desespero, de uma inconsciente condição de receio. A vida por vezes amortece nossos olhares, a saúde que impulsiona o coração a pulsar, os pés a andarem. E só nos resta aguardar o dia nascer de novo, como em um ciclo ininterrupto de renovação.
Aspas do Autor: Hoje os dias andam amenos, mas muito vazios... À espera de novas inspirações. Quem sabe em 2015...