Amortecimento

20 de dezembro de 2014

Foto: Joanna Jankowska



O dia conflui sem certeza, sem cor, sem textura perceptível. O vazio decora a margem da alma e todas as nuances se extirpam sob o véu da iniquidade, abraçado pelo medo dos dias confusos. Tudo se torna leve por conta do esvaziamento que o findar propicia. A vida equaciona em nossos peitos uma infinidade de sonhos engavetados. Desbotam os tingimentos, e liquefazem as virtudes mais concretas.

Falta, sobretudo, a garra, um pleito de coragem que debruce esperança e anseio por melhores encontros e dias mais lindos, momentos de valores inefáveis. A caminhada dos dias obscuros cansam os olhos, padecem o corpo numa incólume condição de paralisia. Falta ajuste em meio a tantos entroncamentos e caminhos sem placas de orientação. Porque a vida não aponta, não deixa evidentes suas maravilhas.

Apenas acontece. E insurge no peito um torpor que amortece a pele, e engrossa a cortina do céu. Escurecem as expectativas, a paisagem vislumbrada pelos olhos, os sonhos cultivados no solo do peito. Faltam abraços cativos em um espetáculo de ausências, de distanciamentos que incide solidão em nossas vidas. Anoitece lá dentro, como um findar que esgota as energias do íntimo, as mais suntuosas dentro do âmago.

Falta a inspiração para completar o significado dos gestos, para rechear as palavras com sentimento e emoção. Às vezes tudo é levado pelos dias incomuns, pelo negror dos acontecimentos. E pairamos solenes diante de um passivo desespero, de uma inconsciente condição de receio. A vida por vezes amortece nossos olhares, a saúde que impulsiona o coração a pulsar, os pés a andarem. E só nos resta aguardar o dia nascer de novo, como em um ciclo ininterrupto de renovação.



Aspas do Autor: Hoje os dias andam amenos, mas muito vazios... À espera de novas inspirações. Quem sabe em 2015...

Mais um olhar

6 de dezembro de 2014




Eu nunca tenho a impressão de envelhecer. A cada dia que passa me sinto o mesmo menino de sempre, com sorriso solto, pensamentos livres, com o frescor jovial estampado no semblante limpo e sincero, como quem quer muito ser feliz. Contudo, a mais significativa mudança é a menos evidente: o meu olhar. Todo dia me torno capaz de enxergar mais longe, visualizar detalhes não percebidos antes, texturas novas nas paisagens que me circundam. Mas ao mesmo tempo em que o mundo se expande, ele se encolhe. Porque no fundo, quanto mais absorvo da vida, mais infinda ela se faz. A vida é uma fonte sem limites de aprendizados, de encantos e belezas. E nela meu olhar adormece, sondando as riquezas imateriais diluídas pelo ambiente, escondidas por trás de horizontes. Somente isso tem valido a pena viver. O que encontro e desembrulho das cortinas do mundo faz valer tudo o que carrego dentro de mim, o que orienta minha conduta, meu jeito humano de ser. Hoje não completo mais um ano de vida, hoje ganho mais um olhar, mais uma maneira renovada de traduzir os enigmas que pelo meu lado, passeiam. Com isso, tudo faz sentido, tudo vale a pena. Não preciso de muita coisa além disso. E se as pessoas pudessem ver através dos meus olhos, entenderiam os contornos belos que existem no meu caminho.


Aspas do Autor: Além de tudo isso, meu maior presente de aniversário, eu já ganho todo dia: fazer parte de uma linda família! :)