Foto: Teresa Tomaz |
Hoje queria que a saudade estremecesse e desabasse do meu mundo, que as glórias provindas na descoberta desse amor trouxessem as bases para me reerguer e inspirar novos olhares, renovadoras poesias. Há um descenso nos elementos que circulam pelos sentimentos nascidos no hangar dos desejos. Recapitulo as emoções para sanar rimas deslocadas pela falta de resposta, pelo retrocesso de caminhos que se tornaram ausentes, encantos limados por traços erradicados e reflexos embaçados no espelho.
Queria que a distância extinguisse suas longas garras, armas proeminentes que atemorizam minha alma sedenta pelo abraço derradeiro, de carinhos prometidos numa extensa lista de encontros fortuitos e intensos. Anseio uma vazão que oriente os passos e conclua meus temores pela perca, ou que conserte as rotas quebradas pelo inócuo silêncio que se formou nessa busca. Há um vácuo que desestabilizam minhas palavras e a farta essência que se acumula por letras cada dia mais perdidas pela falta de consonância.
As poesias suicidam-se no colo, porque temem se perder na essência desajustada, hoje aclimatada com a frieza dos dias em que sobrevivi à mudez das ruas vazias. Esvaiu-se o eco que jazia emparelhada às minhas rimas apaixonadas, leve e docemente inspiradas por olhos que não me saem à cabeça. As palavras solucionavam o querer, homenageando a essência que ainda incinera e atenua as dores. Mas hoje, contudo, fervem com a inexata sensação desprovida de um retorno falho, quase ínfimo que se acentua no peito.
Há relevos que ainda consigo pôr nas entrelinhas, vulto sincero do amor que me acompanha, de uma cor de pele que teima em colorir meus olhos, de um riso doce e faceiro que persiste – e jamais me abandonará – no semblante das declarações soltas pelos dedos que amam. Após [a semente do amor] brotar até houve época de bonitas colheitas [e inspirações], porém, as palavras passam por dias difíceis para se regar; dias nublados, torrencialmente chuvosos, frios ou secos demais. A luz quase não adentra. Poucas palavras dão consolo à farta essência que embeleza o coração.
Com dificuldade, jorro a essência em palavras arrancadas de um solo fértil onde o amor sobrevive em meio às muitas condições adversas. Poetizar na solidão, com falta de recursos e sintonia, é uma delas. Entretanto, ainda lanço-me no intuito de desalojar os muros erguidos pelo destino, pela pouca ousadia condizente nesse intervalo tão escasso de reflexos. Mantém-se, enfim, a vontade em nascer de novo, em renovar as camadas de cores de uma bonita pintura, hoje meio relegada, mas ainda muito presente. Porque o que sinto não se esvai. Bem como os olhos castanhos e infinitos que [ainda] refletem com fervor nos meus...
Aspas do Autor: As palavras seguem numa vazão, num caminho, com toda a razão... A essência é. E as palavras traduzem, ainda, o que sinto: saudade.