Um suspiro por dias melhores

22 de fevereiro de 2014




Os olhos estão cansados, refastelados em dias cinzentos e densos. A alma recosta, supondo as delinquências que a alma pratica, em rígidas lutas, em tenras compreensões que escapolem ao sabor do vento. É um vapor abrasador que aniquila a docilidade dos sonhos presos à pele, em uma imensidão de danos invisíveis, que abriga a alma em uma solitária, num refúgio insano, numa fuga inconsequente.

O coração distende seu melhor, exalando solturas que embriagam a esperança, vã e distante, numa franca ousadia em laçá-la, retorná-la ao peito abrigador de auroras. O suspiro busca magnetizar a brandura dos dias magníficos, banhados em sorrisos e afetos inigualáveis. O peito se arregaça nas ruelas da solidão, para novamente tornar brilhante o matiz dos quereres, as quietudes envolvidas no ambiente que nos cerca.

As reflexões enriquecem nossa alma desprovida da ternura de dias aconchegantes, em tenro desejo por tempos melhores, por raios de sol mais vívidos e paisagens mais líricas. A gente senta, em meio ao dissabor da brisa noturna, de noites que escurecem o mais profundo da alma. Deitados numa escura relva, cremos pela vinda da luz, pelo abraço cálido da natureza com a qual sonhamos.

Não há descanso que conforta, numa aspereza que dita nosso coração alertado pela fuligem que cobre o céu sob nossas cabeças, uma vivência sorrateira, vítima das neblinas dos dias feridos, maltratados pela nossa inconsequência humana. A densidade dos dias causa arritmia no piscar, na respiração, um desajuste no relógio interno. Ficamos à deriva nesse mar salgado de tristezas.

Em meio ao caos, a gente suspira, reflete esperanças um ao outro, num válido acolhimento onde almas cúmplices anseiam por dias melhores, por olhares afetuosos e ricos em sentimento verdadeiro, em abraços aquecedores e ternuras elevadas com o desapego material, num clamor pelos delicados e encantadores presentes invisíveis, os que só a alma sente e o coração vê.

A persistência é o caminho, a chave pra quebrantar os elos frágeis da mórbida corrente de dores que assolam as cercanias do mundo e as veredas das nossas recolhidas almas. O grito silencioso é capaz de degelar a frieza que separou os continentes e distanciou os sentimentos essenciais por fronteiras desumanas. A gente suspira por dias melhores, com o intuito de findar com a discriminação que nos diferencia, mascarando a nossa igualdade em ser humano, o que de fato nos distingue.

Que dias melhores apontem no horizonte. Tão logo, é o que desejamos.



Aspas do Autor: Mesmo cansados, é crucial que ainda permaneça uma pontinha que seja de fé e atitude. Por uma vida melhor.

Do esperançoso voo

15 de fevereiro de 2014




Vou-me para às vezes me encontrar em pleno voo. Parto para às vezes escapar do que me persegue e de toda a pressão que a minha essência, por momentos, me preenche. Porque não sei, e nunca hei de saber para onde a vida vai levar. E me perco no momento em que busco entender. Às vezes é um voo rápido, direto e sem escalas. Mas em muitas ocasiões a viagem é longa, repleta de conexões. E o destino nem sempre é o que espero.

Sigo em rasantes que espicaçam meu peito com o temor por dias inalcançáveis, feito passageiro que mal enxerga a paisagem, tão embaçada pelo célere voo. O receio liquefaz a rigidez da pele, tão dolorida por causa de voos passados. Vou numa soltura que estaciona em meus olhos cansados de tanto esperar por sorrisos. Estreito meu peito numa dor mordida, esperando ser sanada; e adormeço a alma que anseia ser salva.

O que me aperta é sempre o medo. Medo talvez de não chegar ou mesmo de não conseguir desembarcar no destino que tanto sonho. Como sempre acontece e me frustra. Mas minha companheira de poltrona é a esperança. E ela é uma otimista de primeira classe... Ela acondiciona em meu desavisado peito um ingrediente que me faz crer. Não me permito desistir.

Mesmo que a obscuridade desse cego voo conduza meu coração a temores familiares, capacito meu olhar para avistar horizontes que me acolham, redutos que guardam a cura para os meus desejos adoecidos pelo tempo, pelas garras cruéis da solidão. As asas são sustentadas com amor, com a essência primorosa que adorna minha vida com rara beleza.

Tudo o que quero é chegar num abraço, num olhar que aqueça o frio causado pelo rigoroso inverno em que meu coração vive. Anseio chegar, aportar num destino que dê acolhida ao meu sentimento, que ilumine a escuridão interna e tenha as peças faltantes à minha alma que nascera despedaçada e carente de emoções singulares, quase inexistentes. Quero a felicidade abundante, um cortejo inesquecível de amor. 

Não importa quantos voos sejam necessários, nem quantas conexões sejam feitas. Demorando ou não, é certo e absoluto: o ultimo desembarque é a esperada e tão sonhada Felicidade... É por isso que em cada viagem eu parto com um sorriso no rosto e uma luz radiante nos olhos. Porque acredito – e sigo. A minha melhor bagagem é a Fé. E o amor não me permite desistir da busca pelo derradeiro final feliz.



Aspas do Autor: Vou despretensiosamente. Voo com a felicidade em mente.

R[elevo]

8 de fevereiro de 2014




Revelo
em relevo
o enlevo
do meu
desvelo

Relevo
e revelo
o novelo
do meu
enlevo

elevo
e subscrevo
o amor
a qual me
atrevo

amo
como num
lampejo
lindo
ensejo



Aspas do Autor: Porque o amor, sendo o meu relevo, me revela; e me eleva.

Clichê

1 de fevereiro de 2014



Em meio ao corredor. Um esbarrão. Cadernos no chão. Pedidos de desculpas. Mãos que se tocam na coleta embaraçada dos materiais. Semblantes acanhados. Olhares fugazes, silenciosos, mas contundentes. Despedida tímida. O suficiente para que a vida de ambos mudasse pra sempre.

Um encontro nascido em meio a uma das circunstâncias mais típicas do mundo. Um amor que surgiu numa situação muito comum, mas que não deixava de ser encantador. Quem nunca se apaixonou pela menina ou pelo menino com quem um dia se esbarrou? Mais clichê que isso não existia.

Telefones trocados, um sorvete, flores, um cineminha, um passeio na praça de mãos dadas. O primeiro beijo dado na biblioteca da escola; a primeira briga na frente da cantina da escola; a primeira reconciliação, com um beijo roubado dela na frente da diretoria. O ciúme dela com as amigas dele e o dele com os amigos dela. Coisas tipicamente clichês.

Encontros às escondidas; namoro no elevador, debaixo da chuva, no igarapé atrás do parque da cidade, piquenique no jardim do quintal; a primeira relação amorosa – inesperada – no quartinho dos fundos da casa dele. Amavam-se. Viviam se declarando um ao outro. E o sentimento crescia tal qual uma planta cresce em ser regada todo dia. O amor deles era puro.

Mas na vida nem tudo são flores. Uma grande briga – por motivo fútil – aconteceu. Ambos feridos. Separaram-se. Nunca mais se viram. Ela viajou pra estudar fora. Ele entrou na aeronáutica. Cada qual seguiu sua vida. Anos voaram. Ela se formou em arquitetura. Ele se tornou um oficial e vive viajando a serviço. Mas o destino prega peças.

Ela, após muitos anos, resolveu voltar para sua cidade natal. Ele, de férias, viajou até sua cidade para visitar seus pais por um tempo. Aconteceu no salão de retirada da bagagem. Um esbarrão. Mochila e malas no chão. Pedidos de desculpas. Mãos que se tocam em meio ao embaraço de pegar as coisas. Olhares fugazes, sentimentos contundentes.

O destino era um brincalhão mesmo. Reconheceram-se na hora. E seus olhos não mentiam: o sentimento ainda existia. Estagnados, diante um do outro, como que se perguntando: “você?” Era um silêncio revelador. Ela, orgulhosa, se pôs a ir embora, mas ele foi levado pelo impulso do coração. Puxou-a pela mão. Ela se irritou. Discutiram.

No calor da discussão a reconciliação ocorreu depois de um beijo roubado – por ele – em meio a todos no salão. Como o mundo dá voltas. Separaram-se, o tempo passou, mas o destino os uniu novamente num esbarrão, como na primeira vez. Quanto clichê. O amor reacendeu e distribuiu sorrisos em cada um dos dois.

Casaram-se. Veio o primeiro filho; Rex, o beagle de estimação; desentendimentos e provas de amor; reconciliações, a primeira de várias crises conjugais e financeiras; assim como a primeira superação. Nasceu outro filho e mudaram-se pra uma casa maior; amaram-se, perdoaram-se, adoeceram, curaram-se. Tiveram realizações, e compartilharam momentos felizes e tristes. E assim foram vivendo cada dia, envelhecendo juntos, amando-se, com todos os altos e baixos que a vida proporciona. 

E a conclusão de tudo isso? Não poderia ser diferente: viveram felizes para sempre.

É um final clichê? É. Mas quem se importa?


Aspas do Autor: O amor, mesmo sendo clichê às vezes, continua sendo maravilhoso. É lindo em todas as suas formas. Ps: Hoje inaugurando a cara nova do blog. Mudanças pra arejar os sentimentos e o horizonte.