Do livro...

27 de julho de 2013




Nunca me imaginei escritor, mesmo desalojando letras de um forno caloroso chamado coração. Escrever nem sempre nos condiciona escritores. Às vezes escrevemos por pura necessidade de ilustrar o que sentimos, numa limitada plataforma de sensações, para nos iludir, para saquear a aflição e angariar calmaria, conforto. Se eu comecei a escrever, foi por um fortuito ato de fuga, para escapulir das dores indescritíveis que açoitavam o coração e que nunca tiveram imagens, nem cores óbvias.

A princípio me pareceu covarde estacionar nas letras. Contudo, escrever foi – e ainda é – um ato de coragem. Quando a dor mais me atingia, mas eu queria des(a)fiá-la. E não é fácil destrinchar os espinhos que naquele momento te espetam. O amor começou a me apalpar neste momento solitário, preenchendo o coração com atitude. Foi quando deixei o íntimo conduzir meus dedos. Foi quando, sem perceber, me vi no caminho certo, em direção às respostas. Apenas hoje, ao mensurar, compreendo esta importância.

A escrita me encaminhou a importantes encontros comigo mesmo, possibilitando melhor condicionamento da minha alma, por vezes, tão instável. Foi ela que conseguiu ilustrar um pouco as nuances do que se transborda dentro do coração. E isso me engrandeceu a ponto permitir que eu lidasse melhor com a particularidade dos meus sentimentos e com este amor tão peculiar que me habita. Naturalmente isto me ajudou a observar melhor o mundo e as pessoas, a tecer a vida com uma sensibilidade mais apurada e sabida. Transformei-me no tempo e então um sonho em especial se tornou realidade.

O sonho do livro nasceu da mesma forma como o sol nasce no horizonte. Foi assim, espontâneo, convocado por razões das quais nem sei explicar direito. Nasceu por intervenção carinhosa de alguns amigos, olhares arguciosos de desconhecidos, entregas verídicas de quem encontrava nas minhas letras um conforto que eu queria na realidade pra mim. Preponderou-se no meu íntimo por conta da mansidão encontrada neste universo da escrita, nos laços de amizades adquiridas e em afetos tão bonitos depositados em mim.

O olhar alheio confabulou para esse fim, e sou muito grato pela resposta que obtive nesta minha despretensiosa mania de falar sobre mim, sentimentos, ser humano e a vida. É este efeito que me faz escritor. Afinal de contas, não escrevo porque sou escritor, nem sou escritor porque escrevo. Escrevo para ser, para descascar as peles rígidas sob a couraça do meu corpo humano e frágil. Sou escritor porque as palavras se desalojam para falarem de si – e de mim, e nesta busca interiorizada, acaba por encontrar o outro.



Aspas do Autor: Quer saber mais sobre o meu livro e como adquiri-lo, só clicar na imagem dele na lateral ou na aba Livro em cima. No próximo texto falo mais dele...

O silêncio no horizonte

20 de julho de 2013




Um fim de tarde descansa nossas ausências e num sopro o vento leva embora qualquer desesperança. Viver é antes de tudo a arte de acreditar. Essa dor que desacontece agora inaugura a coragem do próximo minuto e torna possível a espera pelo tempo da delicadeza... 

A transição das nuances aquiesce o coração, desabotoando encantos audazes e infindos, que belos, salpicam-se pelos contornos do dia que teima em se esconder. É essa delicadeza que amortece qualquer dor e enleva o coração com suntuosos sopros de alegria.

O Silêncio dessa estrada que inexiste através do horizonte revela segredos de vidas futuras. O amanhã é o real motivo do hoje, esperar pelo próximo amanhecer faz a noite ganhar sentido. O ciclo da vida passa também pelo ciclo de “nós”, do “eu-ontem-hoje-amanhã”.

É nessa calmaria, nesse ato de transpor a fluidez da vida que a energia se ressarce, aplumando o coração com requintes de amor saudável. É a mudez desse enlace que principia maravilhas e antecede as mudanças de tons, conferindo à alternância das estações um matiz de pureza sem igual.

Em meio ao sossego a poesia adentra, aninha-se e colore os recantos da alma com uma esperança insolúvel, uma crença inquebrantável nas coisas boas. O olhar além alinha o coração. O momento silente retraduz o que se camufla nas entrelinhas do horizonte. A mudez da vida nos transforma, afetando mais do que qualquer palavra.

Há tanta sensibilidade resvalada dentro desse fim de tarde, que é possível sentir a maciez do sol se deitando no colo do infinito. De braços abertos o horizonte acolhe os silêncios que dão sentido a cada sentimento. É assim que a vida prossegue: emudecida.



Aspas do Autor: Belíssimo dueto com meu amigo Wendel Waladares. Excelente escritor que descortina a essência e os encantos do amor em poesias de exímia qualidade. Conheça o site dele: Wendel Waladares.

A flor especial

13 de julho de 2013



Confessas que és simples,
És como qualquer flor
Igual às outras, da mesma cor

Mas te digo que não
Há quem te distingue:
O amor de um coração

Se tu significas para alguém
Teu perfume é sentido
Mesmo tão longe, tão além

Se para uma alma és especial
Ele te acha mesmo espalhada
Num campo floral

E hoje confesso que, para mim
És como essa flor
Em realce no Jardim

Vislumbro-te com fácil esplendor
Meus olhos te veem com outra cor...
A cor mais bela, a do amor!

-
Para uma flor de Minas.




Aspas do Autor: Poeminha feito no leito do meu coração, com destino certo, outro coração. Porque amor nunca enjoa.