Nunca me imaginei escritor, mesmo desalojando letras de um forno caloroso chamado coração. Escrever nem sempre nos condiciona escritores. Às vezes escrevemos por pura necessidade de ilustrar o que sentimos, numa limitada plataforma de sensações, para nos iludir, para saquear a aflição e angariar calmaria, conforto. Se eu comecei a escrever, foi por um fortuito ato de fuga, para escapulir das dores indescritíveis que açoitavam o coração e que nunca tiveram imagens, nem cores óbvias.
A princípio me pareceu covarde estacionar nas letras. Contudo, escrever foi – e ainda é – um ato de coragem. Quando a dor mais me atingia, mas eu queria des(a)fiá-la. E não é fácil destrinchar os espinhos que naquele momento te espetam. O amor começou a me apalpar neste momento solitário, preenchendo o coração com atitude. Foi quando deixei o íntimo conduzir meus dedos. Foi quando, sem perceber, me vi no caminho certo, em direção às respostas. Apenas hoje, ao mensurar, compreendo esta importância.
A escrita me encaminhou a importantes encontros comigo mesmo, possibilitando melhor condicionamento da minha alma, por vezes, tão instável. Foi ela que conseguiu ilustrar um pouco as nuances do que se transborda dentro do coração. E isso me engrandeceu a ponto permitir que eu lidasse melhor com a particularidade dos meus sentimentos e com este amor tão peculiar que me habita. Naturalmente isto me ajudou a observar melhor o mundo e as pessoas, a tecer a vida com uma sensibilidade mais apurada e sabida. Transformei-me no tempo e então um sonho em especial se tornou realidade.
O sonho do livro nasceu da mesma forma como o sol nasce no horizonte. Foi assim, espontâneo, convocado por razões das quais nem sei explicar direito. Nasceu por intervenção carinhosa de alguns amigos, olhares arguciosos de desconhecidos, entregas verídicas de quem encontrava nas minhas letras um conforto que eu queria na realidade pra mim. Preponderou-se no meu íntimo por conta da mansidão encontrada neste universo da escrita, nos laços de amizades adquiridas e em afetos tão bonitos depositados em mim.
O olhar alheio confabulou para esse fim, e sou muito grato pela resposta que obtive nesta minha despretensiosa mania de falar sobre mim, sentimentos, ser humano e a vida. É este efeito que me faz escritor. Afinal de contas, não escrevo porque sou escritor, nem sou escritor porque escrevo. Escrevo para ser, para descascar as peles rígidas sob a couraça do meu corpo humano e frágil. Sou escritor porque as palavras se desalojam para falarem de si – e de mim, e nesta busca interiorizada, acaba por encontrar o outro.
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