Ele se encolhia sob o cobertor, tentando apaziguar aquela comichão no peito. Seus olhos espremiam, obliterando, na medida do possível, o medo que arrepiava os contornos da sua pele amortecida pelo vazio que ela deixara. O mundo sob aquele cobertor não era morno, por mais que ele suasse a pino em face da quentura. Congelava por dentro, por conta da saudade aguda e afiada que ainda sentia dela. O coração ainda clamava pela presença do seu amor, daquele sorriso que encruzilhava encantos e acaçapava magia. Sentia falta do embate belo entre seus olhos castanhos com os olhos negros, fundos e misteriosos da moça.
O abraço dos dois era embutido com uma doçura irradiante, e tremeluzia em ambos um conforto que nunca tinham sentido na vida. Não havia frio tão insuportável quanto àquele sob o cobertor, e que queimava suas espinhas, porque anteriormente aqueciam-se a cada minuto. Expurgavam quaisquer aflições penduradas no peito. Eram gêmeos na medida em que se completavam e saciavam as necessidades que tinham nascido com eles. Entendiam-se apenas com os gestos, na mudez espontânea que os corações sintonizavam as frequências dos seus segredos mais íntimos, acolchoados pela maresia da vida.
Ele sofria mudo. A saudade, abaixo daquele cobertor, era cinzenta e fria. Tremia e soluçava seco o desamparo provocado por aquela difícil perda. Perda que até o momento atormentava o seu íntimo com sensações pesarosas, incididas com uma dor difícil de tolerar. O destino tinha levado o seu anjo, e ele não acreditava ainda que ela nunca mais viria para sussurrar no seu ouvido o quanto lhe amava. Ou pra simplesmente envolver os braços nos seus e conceder aquele olhar de segurança, aquele sorriso infindo em doçura que trazia uma paz indescritível.
O tecido do edredom, por mais grosso que fosse não o aquecia. O frio tinha raízes lá no mais profundo da alma. Nada externamente o aqueceria tanto quanto os braços dela. Ele jazia mórbido sob os braços daquele tecido espesso. Os segredos enalteciam o fervor inócuo do sentir que apoderava seu colo com um frio insuportável, municiando o íntimo com uma saudade dolorosa. Sentia falta dela. Do seu beijo, do seu calor, do seu afago e sua pele nua. Ela, ao se for, arrancara um pedaço dele, e que o definhava.
Quando a tremedeira agrediu com intensidade, ele só pôde se aninhar mais ainda sob o cobertor, antevendo o desfecho daquela noite. O frio consumia sua vida. O veneno que ele tomara antes de se deitar agia com crueldade. Não havia mais motivo para viver sem seu anjo. Decretara o fim da própria vida. A saudade findaria. O frio sob o cobertor também.
Aspas do Autor: É pena que determinadas fraquezas levem tantos a ceifarem suas próprias vidas. Enfim, quero destacar que no dia 28 de junho o blog completou cinco anos de existência. Nunca imaginei chegar nesta marca. Pra brindar este importante momento "Elos no Horizonte" se tornará livro, e em muito breve será lançado. Espero que se interessem em folhear meus textos, minhas palavras. Mais adiante dou mais detalhes. Aguardem.