Estado cíclico

16 de novembro de 2013




O que está sempre passa. Mas volta. A alma apaixonada é oscilante, ancoradouro de sentimentos que retumbam repetidas vezes no peito. Um estado que nunca se diluirá, da mesma maneira como dias cinzentos nunca deixarão de existir, nem noites deixarão de escurecer. A transitoriedade da vida é o que embala. As mudanças climáticas são o que nos faz maiores, o que nos ensina após cada tempestade o valor do sol nascendo, da vida se renovando.

Tudo flui, num vai e volta indefinível, onde cada momento abstrai de si, pousando em nossa alma uma sequela de sentimentos que nunca debandaram do nosso íntimo, relicário das vivências mais marcantes, até dos golpes mais debilitantes. Porque vez ou outra, nosso coração se deságua num estado cíclico, rememorando o que nem sempre queremos relembrar. E as gotas de sentimentos respingam no íntimo, desequilibrando-nos de nossa caminhada.

A alma que dispõe a ir adiante está sempre sujeita a reviravoltas. É algo indissociável a cada um de nós. A gente fica em declínio, enumerando olhares exauridos e chorosos, que pesam dentro de nós e fragiliza o pulsar do coração, numa latente emoção; numa vertente dolorida que nos afunda em afagos passados. Mobilizamos em uma tentativa vã de desabrochar a dor alojada, de deslocar o amor já esmaecido pelo tempo. Coração gira esbaforido numa soltura que só o leva a se cansar, a ficar diante de um abismo íngreme e sem retorno.

A poesia aprisiona, aperta, nos aglutina. Nosso seio dilata e finda. Lá. Pairamos em pensamentos que oscilam no eterno terno do nosso ser, do ricocheteio que sofre o nosso interior que ainda ama. A gente se dilata em significados que transcendem. Inquietudes que desafiam os sonhos que moram belos no olhar do coração. Nossa soltura esvai nesse abraço prisional que faz a mente encontrar os delitos internos. Um silêncio culposo que desfaz atos e desata nós. Lá dentro a gente se perde tentando sair. Para libertar-se. Flutuar. Amar.

Na vida não há como fugir dos balanços bruscos de sensações. A vida gira e a gente circula em instantes que pedem para serem sentidos e esvaídos. Somos dia e noite. Somos as quatro estações. Amanhecemos e anoitecemos periodicamente. Bom seria termos a luz para todo o sempre. Bom seria o amor nos preencher integralmente. Mas, limitados como somos, precisamos girar, como uma estrela ao redor do sol, atraídos pela gravidade do amor. E só na delicadeza de nos movimentarmos é que entenderemos a beleza e importância das noites e dos dias, do sol e da lua, das tempestades e das bonanças.



Aspas do Autor: Como impedir que certos sentimentos retornem? Nossa alma é reduto de sensações que por vezes nunca nos abandonam. E vez ou outra, como qualquer tempestade, elas vem para causar desequilíbrios. Mas é assim mesmo. A alma é oscilante. E sempre há de ser. 

11 comentários:

Anónimo disse...

Olá, querido Alexandre!

Obrigada pela tua presença, há tanto tempo por mim esperada e desejada, e pelos teus comentários, também.

Fiquei preocupada com o que te aconteceu, acredita, porque já quase fazes parte da minha pequena "família".

Agora entendo, porque estás vulnerável. O caso não é para menos. É preciso ter cuidado com esse trânsito danado e com esses maus e inconscientes condutores.

TE APETECIA ALGO. COMPREENDO, PORQUE HÁ DIAS ASSIM.

Deixa pra lá, Alex! Vais estar de perna/joelho imobilizados, quatro meses, mas todo o resto "mexe". Te quero pôr bem disposto, porque homem, é sempre criança e pede sempre colinho, e o meu está tão longe, mas graças a Deus que tens o da tua mãe, que é o melhor colo do mundo.

ELA TE DÁ O MELHOR E MAIS SINCERO MIMO E AMOR QUE EXISTE. NUNCA ESQUEÇAS ISSO.

Prometo comentar teu texto para a semana, porque TU e ele merecem, e além do mais, tu agora estás parado, meio carente, e precisas de palavras de incentivo e de construção sensorial.
Vou tentar procurar elas na minha gaveta das emoções, e depois te as entrego, com muitos beijos.

Boa semana, dentro do possível...

Beijos e abraços, com ternura.

Amanda Tôrres disse...

Não há como fugir dessa oscilação de sensações, mas bem que de vez enquando eu queria. Se bem que, é isso que faz da vida a vida. Nossa ficou confuso. O que eu quero dizer é, se a vida fosse fácil e sem sal, açúcar e um pouco d epimenta as vezes, ea não teria graça. A gente sofre, chora, se machuca, mas depois tá tudo bem e a gente ri até doer a barriga e chorar outra vez. São essas oscilações que fazem a vida ser tão bonita.
Beijão
barradosno-baile.blogspot.com
@torresaamanda

Luzia Medeiros disse...

Alguns sentimentos retornam , porque na verdade nunca haviam partido totalmente. Lindo como sempre!

Beijos.

Renato Almeida disse...

Um texto reconfortante, um texto que me fez entender alguns momentos da vida que todos nós passamos, e me fez ver esperança além deles existirem. Até mais, e como sempre com belas palavras. http://realidadecaotica.blogspot.com.br/

Bandys disse...

Parece ser uma roda gigante...estamos em cima ora em baixo, mais sempre podemos ver de outra maneira.

espero que você esteja melhor e que acredite tudo passa. As vezes demora um pouquinho mais passa.

um beijo e estou na torcida pra vc ficar logo bom;

Mil beijos

TOM MORAIS disse...

Certíssimo. Tudo sempre acaba voltando, nós nos deixamos um pouco abalados com as turbulências, mas nada nunca é totalmente em vão. Adorei o texto.
cronicasdeumlunatico.blogspot.com

Anónimo disse...

Olá, querido Alexandre!

Estás melhor? Bem, esse "negócio" agora só o tempo mesmo, pode dar uma resposta. Espera, com calma e paciência, lê, ouve música, escreve, e a vida e o movimento dela, logo, logo (como vocês falam aí, mesmo que demore muito tempo) vai aparecer, porque tudo É CÍCLICO.

O teu texto faz uma abordagem, quase perfeita (já sabes que a nota 10 é para o Professor/a) do que é isso, essa "coisa" maravilhosa, a que chamamos vida.

Temos de estar preparados para os "tsunamis" e "bonanças" da mesma, mas para estas últimas, todo o mundo está. É natural e compreensível, até.

É preciso criar mecanismos mentais de defesa, porque, muitas vezes, VIVER, custa, ó, se custa.

Quem escreve (mas quem escreve mesmo, não é quem junta sílabas para formar palavras) prosa ou poesia, e sobretudo poesia, coloca nela seus estados de alma, seus quereres, suas histórias, doces ou amargas, suas frustrações.

E viver em sociedade, ainda custa mais, porque há uma boa dose de pessoas medíocres, com as quais temos de conviver, e até, infelizmente, e pelas mais diversas causas, viver, ou melhor, SOBREVIVER.

De qualquer jeito, e tal como tu nos incentivas no texto, é preciso entender a beleza de tudo, porque mesmo o "maligno" tem alguma "beleza", e me apoiando no que dizia o filósofo francês do século XVIII, Jean Jacques Rousseau: "O Homem nasce, naturalmente, bom", mas depois é a sociedade que o estraga e corrompe".

QUE NOS VALHA O AMOR E SUAS VARIANTES E VARIAÇÕES.

Um lindo dia. Aqui, faz um frio danado, 6º graus, agora, em Lisboa.

Beijos carinhosos e sempre sinceros da Luz.

Anónimo disse...

Menino, querido!

Você está por aí?

Eu sei que tu estás bem de saúde, e que já te estás habituando a essa questão da perna. A vida continua, não parou, e O RESTO TUDO MEXE, portanto, "na boa", como se diz, por cá.

Uma noite bem aprazível.

Beijos, sempre.

Anônimo disse...

somos tristes e felizes, luz e escuridão, fogo e água.

Anônimo disse...

Você foi homenageado com o prêmio Luz do Sol (Sunshine Award)
Passa lá no meu blog pra pegar o selinho :)
http://anniedosventos.wordpress.com/2013/11/20/sunshine-award/

Camila disse...

Alê, sempre peço desculpas de não vir aqui.. mas se for para vir e comentar 'gostei, lindo, ótimo' prefiro nem vir!!

Bom seria se nossos dias nunca acabassem e fossem festas a cada sol, a cada vento :)
Belo texto, amo tudo o que escreves...