Num lugar muito distante de tudo e de todos, existia um vilarejo, escondido sobre uma vasta floresta densa. As pessoas que ali moravam nunca saiam de seus limites. O lugar quase não recebia luz direta e o céu era pouco visível. Todos tinham medo ao trespassar os limites da floresta. Os que se aventuraram nunca mais voltaram. Todos compartilhavam a hipótese de que espíritos ruins sequestravam quem ultrapassava a floresta. O medo permeava a maioria dos habitantes. Sim, a maioria! Mas não Edrian.
Edrian era um menino muito curioso. E nunca escondeu sua vontade de percorrer as trilhas da floresta para poder descobrir o que havia além. Mas sua mãe, muito preocupada, sempre o proibiu de sequer pensar nisso. O rapaz ficava entristecido toda vez que ela o repreendia. Algo o instigava a ir à frente, a desbravar o desconhecido. Seu coração o estimulava, o impulsionava a querer. Ele não compreendia muito bem o fato de ser atraído. E todo dia esta vontade crescia, crescia e crescia. Chegou um dia em que ele não aguentou, jogou os medos de lado e seguiu até as trilhas da floresta com intuito de sair dali.
Porém, muitos o viram e gritaram tentando persuadi-lo a não entrar. A sua mãe entrou em desespero e correndo aos prantos implorava para ele voltar. Ele parou, soltou umas lágrimas e partiu mesmo assim. Enquanto ia chorava muito. Ele amava a sua mãe, e todos ali. Entretanto sua vontade de ir em frente era maior. Ele precisava conhecer o que havia além da floresta, o que se escondia por trás daquele mundo verde. Então se aventurou a percorrer bravamente todos os curtos corredores da floresta. Embrenhou-se por matagais cortantes, ultrapassou rios profundos, e passou pelos mais diversos obstáculos e perigos naturais da densa floresta.
Depois de algumas semanas, praticamente morto, ele se arrastava pela terra enlameada. Aos poucos sentia a vida esvaindo. Até que um ar refrescante, uma brisa e um assovio doce começaram a percorrer o ambiente. Era o fim da floresta. Percebendo que estava prestes a sair, ele foi inundado com uma força capaz de levantar seu corpo. Cambaleando seguiu até a luz que irradiava no fim da trilha. Foi então, ao atravessar o limite da floresta que ele pôde contemplar.
Edrian pasmou de emoção, numa sensação de indescritível dimensão. O coração inflou, a alma pareceu pular pela boca. Seus olhos brilhavam com o que acabara de descobrir. Sorriu em pura felicidade. Sair dos limites da floresta foi uma loucura, mas foi na coragem de desbravar o desconhecido, de enfrentar os medos e amparado pela persistência de um coração ansioso, que pôde enfim desvendar o que havia além. Um verdadeiro tesouro...
Aspas do Autor: Mas afinal que tesouro era esse que o fez sentir tamanha emoção? A verdade é que eu não sei. Esta resposta só encontra quem se arrisca a atravessar os limites da “floresta”. Principalmente aquela que há dentro. O caminho para conhecer a nós mesmos ou a vida, por vezes é muito árduo, com muitos obstáculos e pode durar o tempo que for. O que vamos encontrar além da floresta é uma incógnita. Tristeza ou alegria, tanto faz. O importante é ir adiante e viver. Além disso, o aprendizado decorrente da busca é um tesouro por si só...