Além da floresta

24 de março de 2012




Num lugar muito distante de tudo e de todos, existia um vilarejo, escondido sobre uma vasta floresta densa. As pessoas que ali moravam nunca saiam de seus limites. O lugar quase não recebia luz direta e o céu era pouco visível. Todos tinham medo ao trespassar os limites da floresta. Os que se aventuraram nunca mais voltaram. Todos compartilhavam a hipótese de que espíritos ruins sequestravam quem ultrapassava a floresta. O medo permeava a maioria dos habitantes. Sim, a maioria! Mas não Edrian.

Edrian era um menino muito curioso. E nunca escondeu sua vontade de percorrer as trilhas da floresta para poder descobrir o que havia além. Mas sua mãe, muito preocupada, sempre o proibiu de sequer pensar nisso. O rapaz ficava entristecido toda vez que ela o repreendia. Algo o instigava a ir à frente, a desbravar o desconhecido. Seu coração o estimulava, o impulsionava a querer. Ele não compreendia muito bem o fato de ser atraído. E todo dia esta vontade crescia, crescia e crescia. Chegou um dia em que ele não aguentou, jogou os medos de lado e seguiu até as trilhas da floresta com intuito de sair dali.

Porém, muitos o viram e gritaram tentando persuadi-lo a não entrar. A sua mãe entrou em desespero e correndo aos prantos implorava para ele voltar. Ele parou, soltou umas lágrimas e partiu mesmo assim. Enquanto ia chorava muito. Ele amava a sua mãe, e todos ali. Entretanto sua vontade de ir em frente era maior. Ele precisava conhecer o que havia além da floresta, o que se escondia por trás daquele mundo verde. Então se aventurou a percorrer bravamente todos os curtos corredores da floresta. Embrenhou-se por matagais cortantes, ultrapassou rios profundos, e passou pelos mais diversos obstáculos e perigos naturais da densa floresta.

Depois de algumas semanas, praticamente morto, ele se arrastava pela terra enlameada. Aos poucos sentia a vida esvaindo. Até que um ar refrescante, uma brisa e um assovio doce começaram a percorrer o ambiente. Era o fim da floresta. Percebendo que estava prestes a sair, ele foi inundado com uma força capaz de levantar seu corpo. Cambaleando seguiu até a luz que irradiava no fim da trilha. Foi então, ao atravessar o limite da floresta que ele pôde contemplar.

Edrian pasmou de emoção, numa sensação de indescritível dimensão. O coração inflou, a alma pareceu pular pela boca. Seus olhos brilhavam com o que acabara de descobrir. Sorriu em pura felicidade. Sair dos limites da floresta foi uma loucura, mas foi na coragem de desbravar o desconhecido, de enfrentar os medos e amparado pela persistência de um coração ansioso, que pôde enfim desvendar o que havia além. Um verdadeiro tesouro...





Aspas do Autor: Mas afinal que tesouro era esse que o fez sentir tamanha emoção? A verdade é que eu não sei. Esta resposta só encontra quem se arrisca a atravessar os limites da “floresta”. Principalmente aquela que há dentro. O caminho para conhecer a nós mesmos ou a vida, por vezes é muito árduo, com muitos obstáculos e pode durar o tempo que for.  O que vamos encontrar além da floresta é uma incógnita.  Tristeza ou alegria, tanto faz. O importante é ir adiante e viver. Além disso, o aprendizado decorrente da busca é um tesouro por si só...

O maior de todos os sonhos

17 de março de 2012




A vida não é mais que isso. Um sonho. O maior de todos. O mais palpável e o mais real dentro todos o que imaginamos. Porque nele vivemos e nos doamos, nos tornamos e crescemos. É um sonho em que acontece de tudo, porque assim é com todos os sonhos, um suspiro leve dos nossos desejos, um reflexo aproximado do que tanto acreditamos e do que vive no mais íntimo e secreto de nós. É uma imaginação, uma utopia desenhada pelo nosso querer e escolhas; uma história comandada por nós. Um lugar onde tudo é permitido porque em sonhos tudo pode existir e coexistir; do melhor ao pior; da dor ao amor; do sofrimento e da alegria; das realizações às frustrações; do bem à maldade; da piedade à crueldade; da generosidade ao egoísmo; da indiferença ao interesse; da fé à descrença.

Vivemos num sonho, num embrião da realidade, um dos experimentos mais belos inventados pelos céus. Um sonho real, um grão de vida autêntica, reflexo embaçado daquela que verdadeiramente flui pelo universo ao redor. É uma vida distante da exata vida, mas concomitantemente muito próxima. Ela não é mais que um sopro fugaz da realidade, uma breve aproximação da verdadeira essência divina. É um lugar onde a imperfeição impera, porque é um mundo em construção, com seres frágeis e ascendentes, alunos espirituais de uma indefinível energia cósmica.

Um sonho pelo qual nossa alma um dia ou foi convidada ou ficou tentada a sonhá-la. Com um único propósito: viver, e provar da imperfeição, do limite que a pele humana impõe. Para talvez provar a porção minúscula, mas infinda do Pai, nos guiando, dentro do coração. Ou simplesmente conhecer este universo onde o tempo e o espaço preponderam, onde a possibilidade de crescer do zero é uma realidade, mesmo que breve e não completa. Ou então decidimos triscar esta realidade inferior, porque ela nos permite viver tudo o que nos céus não é possível viver ou sentir, e sequer imaginar como seja, como na alma a sensação se preenche.

Esta vida é um sonho minuciosamente orquestrado e planejado por Deus, reservado aos anjos que queiram adormecer e sentir uma emoção que nunca sentiria nos céus, para que possam do mais alto cair até o mais inferior, e do inferior possam ascender, levando o tempo que for até o mais alto novamente. Mas não é uma ficção, uma história inventada, e sim uma efêmera realidade onde não atuamos, mas vivemos legitimamente, sem sequer termos ciência do que vamos encontrar pela frente.

E assim existimos até o sonho findar, até a alma acordar. Porque o sono é frágil, a qualquer embalo mais forte, o corpo padece e a alma se dispersa, retornando à verdadeira vida, àquela nos céus, à que suporta nossa essência espiritual. Morrer não é mais que acordar de um sono profundo, de um sonho, dos mais bonitos imaginados por Deus. Morrer é acordar, não mais que entrar por uma porta aberta ou dar um passo à frente de volta à vida, para dar continuidade no crescimento da alma, para que possamos realmente viver, crescer e prosperar até a condição de perfeição.

É por isso que antes de acordar deste sonho precisamos vivê-lo na plenitude, e buscar o que não vamos encontrar depois, na perseverança de sentir o que talvez não mais iremos experimentar; de realizar o que anjos não podem alcançar, nem em sua alma vibrar. É preciso entender o privilégio de aqui viver. Porque esta experiência é única e singular, o maior de todos os sonhos, que por permissão dos céus, conseguimos realizar, para sentir na pele todas as adversidades da limitação e da imperfeição; da necessidade em crescermos; da capacidade de saborearmos da dor cutucando a pele; do amor a enlaçar o coração; da solidão a preencher o âmago ou mesmo da felicidade e o encanto a nos abraçar em tons de doçura e com novas sensações.

Na verdade não importa bem o que seja. Basta que sintamos e experimentemos. O propósito é apenas isso: viver. E conhecer, dentre todas as maneiras existentes nesta condição, um pouco da dimensão do verdadeiro Amor. O Amor que nos permite sonhar em viver e nos ensina a viver mais por sonhar. Até um dia acordar. Até em algum momento, do sono, nossa alma despertar e consigo levar as coisas mais preciosas advindas das vivências desta experiência única e tão especial: as lembranças, os aprendizados, as diferentes sensações e emoções.




Aspas do Autor: Não sei bem dizer o que senti, nem qual foi a sensação, mas me senti conduzido por uma emoção sem tamanho ao escrever este texto... No mais, ainda ando distante, com coração pensativo, um pouco à parte de tudo o que me cerca e com o sentir à flor da pele... Os dias andam estranhos... Sensações fluem... intuição se desenha...

Simbiose

10 de março de 2012




Eu toco a vida e padeço na sua força. E nem mesmo assim sou capaz de discernir esta energia que sufoca meu peito com pesados sopros de realidade. O produto das vivências se altera no meu íntimo, latejando o profundo de mim com centelhas frias e sensações inóspitas. O corpo acentua sua inconsistência em resultado a essa força desconhecida tão inerente em tudo. Mas ainda assim percebo um suporte a se envolver pelo ambiente. Não entendo e jamais vou entender esta energia que me permite desaguar. O desconhecido é amargo no início, contudo, seu sabor muda na medida em que eu o degusto.

O olho pisca pesado, mas sinto a latência confluir suavemente no coração. Sou ser em excesso, um ser embrionário de um mundo experimental. Às vezes me considero um louco ao captar detalhes assim tão imperceptíveis. Mas a loucura por vezes me deixa são. Porque consigo ficar paralelo aos circuitos que doam o locomover do meu suor, a energia que permite o coração bombear o sangue. Apenas não sei nada sobre o que me atinge e me encanta. Fico anestesiado e entorpecido por esta muda incompreensão, esta sensação impertinente que cutuca o revestimento do peito e afeta em plenitude os contornos do coração. Todavia, noto a cor colorir o que é cinza e o ferro se transmutar em diamante.

O sorriso acentua diante do que nem sei definir. A emoção apazigua meu ser, quando se menos espera. É difícil discernir um pouco o que me faz vibrar dessa forma, o que concede à alma um deslizamento em um intenso teor de paixão, de uma energia que não sou capaz de mensurar. Vivo a vida e a vida vive em mim. E no que concerne aos sentimentos, não consigo responder à altura. Ao menos não com um olhar totalmente ciente. Cumprimento os momentos na confiança, sob a mão doce e cúmplice do meu coração, que diz para sorrir, para transparecer nos olhos a verdade em mim. E mesmo sem entender, sem sequer mensurar, sorrio e emociono em resposta a todos os detalhes que me comovem.

O que nasce em mim é resultado do que vejo e sinto. Meu íntimo se preenche em comoção e sussurra em sons de pura ternura, enlaçando-me em um demasiado sentimento puro. Apenas acredito e sinto, tranquilizo o peito com esta canção de ninar que ecoa da formosura que flutua escondido pelos revestimentos invisíveis da vida ao redor. Sinto-me íntimo e parceiro do mundo, de tudo o que me cerca. Isto me traz eloquentes anseios e me enchem com desejos sinceros e autênticos. Embora deva confessar que é um processo árduo viver e ter que lidar com a magnitude de tudo, porque há um limite que me freia; há uma fronteira que impede meus passos de seguirem; os olhos de enxergarem; o coração de sentir; a mente de entender.

As sensações se misturam e se confundem. As lágrimas doces e salgadas se chocam em uma muda intervenção dos céus. É difícil suportar a dimensão do que nasce no mero movimento que faço e no ridículo e mínimo esforço que o peito faz para respirar o ar rarefeito desta magia. Mas é nesta mistura entre eu e a vida que a inspiração ressurge; que as flores do jardim brotam e os frutos do aprendizado nascem. É no impecável resvalo do vento em mim que o encanto se esparrama pelo meu ser e no ar se multiplica, em profunda simbiose. Meu olhar fica translúcido em emoção; meu sorriso se intensifica em sinceridade e uma sensação de conforto se apresenta no meu inocente semblante.

O meu limite humano se contrapõe à ilimitada essência que me abraça, mas ainda assim me maravilho com a possibilidade de avançar. Viver é um ato que faz meu finito ser, cruzar com a infinita grandeza do divino. Mas consigo enxergar por frestas a possibilidade de prosperar. Desta forma cresço ao capturar os detalhes pouco notados, e os utilizo para evoluir, para estender os limites da fronteira e para a alma progredir. É nesta bonita e incomensurável interação entre o que há ao redor e o que há em mim, que o encanto em viver faz sentido e a poesia surge, como uma verdadeira simbiose entre a vida e eu.





Aspas do Autor: É um texto bem diferente do que costumo escrever, mas meu íntimo anda assim meio embaralhado. Ultimamente ando sem entender o que se passa ao redor. Há um desconhecido me cercando. Algo que não consigo mensurar me entorpece. Mas por vezes sou atingido por emoções que se diluem na alma, confortando um pouco os recantos da alma. Estou um pouco anestesiado, indiferente e silencioso. Não sei bem o que fazer, mas algo me deixa distante... Muito embora a poesia esteja abundante e os motivos sobram pra sorrir... Não entendo bem esta transitoriedade, mas vou vivendo e respeitando.

Aquarela

3 de março de 2012




No ar se transfiguram soneto e alegria
Como arco-íris, na vida uma aquarela
Pólen teatral que esvoaça na calmaria
Cores que bailam à luz de vela

Sublime despertar, azul claro pra sonhar
Terno canto no ar, verde para acreditar
Ávido pulso do organismo, amarelo no olhar
Canto e sinfonia, vermelho sangue do amar

Aquarela de emoções, soltas no entardecer
Que se colorem pelos mistérios noturnos
E hipnotizam, no seu seio deixam padecer
Pálidos e taciturnos

Na policromia dos desejos
Um prisma pelo ar renascido
Como explosões em um cortejo
Luz branca, no vale amanhecido

Ainda há esperança pra sugar
Festival de cores a bailar
Doces e belas, perfis de aquarela
Emitem amor, no olhar da cinderela


  

Aspas do Autor: Este poema foi escrito em 2008, porém ele é inédito. Eu nunca o divulguei, e hoje revirando o baú, lá estava ele. Reli e me encantei. Talvez porque tenha cores (risos). É estranho, mas nunca quis postá-lo. Não sei bem o porquê. Talvez porque não o ache um dos melhores poemas que já tenha escrito. Enfim, hoje decidi publicá-lo. Espero que gostem. No mais, as cores aos poucos vão retornando... Mesmo que no momento eu esteja sofrendo de uma dor aguda na coluna e esteja quase adoecendo de tanto pegar chuva...(risos)