Palavras...

27 de novembro de 2010




As palavras podem ser bonitas.
Mas bonito é o sentimento por trás delas.
As palavras podem até encantar
Mas encantador é o que elogiamos com elas.

As palavras podem até chorar
Mas nunca na dimensão exata da dor
As palavras podem até amar
Mas nunca na imensidão do amor

As palavras podem até abraçar
Mas sem nunca ter o calor
As palavras podem até beijar
Mas sem nunca ter dos lábios, o sabor

As palavras não podem falar tudo
Mas tudo pode ser dito sem ser falado
As palavras não podem sentir
O que apenas é sentido ao ser amado.

 

 
 
 
Aspas do Autor: Porque apesar de todo seu apelo fascinante, as palavras não chegarão nunca na totalidade plena de uma sensação. Sentir é uma arte que apenas o coração o faz por completo. Escrevo isso para dizer que apesar de amar as palavras, e delas serem por demais importantes, sou consciente de suas limitações, e por isso sempre as uso com a mais profunda sinceridade, como uma aproximação modesta do que de fato eu sinto e quero passar. Porque mais importante do que o que escrevo é o que tenho por trás delas, o elemento que é impossível descrever: sentimento! Fica aqui meu afeto à todos.  

A travessia

20 de novembro de 2010




Os dois irmãos, discípulos do mestre, mal se falavam. Estavam brigados e ambos guardavam mágoas um do outro. O mestre para resolver isso, resolveu passar uma tarefa para cumprirem. Chegou até eles e pediu para cada um colocar uma mochila cheia de pedras na costa e atravessarem a nado o lago da colina, que ele estaria esperando do outro lado. Os dois então encheram suas mochilas com pedras e prepararam-se para atravessar o lago. O mestre estaria esperando na outra margem e com certeza daria um prêmio a quem chegasse primeiro. É o que achavam.

Demonstrando então sede de vitória, partiram. No início eles suportaram bem todo o peso, mas no decorrer da travessia era nítida a dificuldade que eles tinham em nadar carregando aquelas pesadas pedras. Foi então que em pouco mais da metade do lago, o mais velho começou a afogar. E quando via o mais jovem à frente, se desesperava. Mas o mais jovem não estava com vida fácil também. Mesmo à frente, ele acusava dores e fadiga intensa. Ele começou a afundar também, mas diante da possibilidade de perda da vida, ele abriu mão da competição e largou as pedras. O mais velho não teve a mesma atitude e afundou.

O mais jovem então, sem as pedras teve tranquilidade para continuar nadando. Mas ao virar seu rosto, ele não viu o seu irmão. Ele olhava para ambos os lados e nada. Esqueceu-se de ir para a margem e mergulhou em busca do irmão. Não demorou muito para encontrar o mais velho se debatendo no fundo, com a mochila nas costas ainda. Ele então jogou a mochila de pedras no fundo, e o resgatou. Chegou à margem do outro lado totalmente cansado, mas trazendo consigo seu irmão, que não estava desmaiado, mas bastante abatido.

Depois dos cuidados e de se recuperarem, os dois se abraçaram. O irmão mais velho agradeceu ao mais novo. E ambos pediram perdão um ao outro. E fizeram as pazes. Ali de perto o mestre presenciava tudo, com a seriedade de sempre. Aproximou-se deles e fez silêncio. Ao verem o mestre, os dois irmãos pediram perdão para ele por não terem conseguido cumprir a tarefa da travessia. O velho mestre sorriu, e disse solenemente que, ao deixaram as pedras no fundo do lago, eles cumpriram a mais importante de todas as tarefas. Os dois irmãos entenderam então o significado da travessia com as pedras e jamais brigaram um com outro. As mágoas ficaram no fundo do lago. Para sempre!

 

 


Aspas do Autor: Não dá para carregarmos um peso que aos pouco pode nos matar. Os irmãos desta história guardavam mágoas um do outro, mas a travessia no lago os ensinou a jamais guardar mágoas. O mais velho demorou a entender, tanto que quase foi morto por elas. Mas já na margem compreendeu que um dia elas podem te destruir. Na vida só alcançamos certos lugares quando largamos as pedras que pesam as nossas costas.  Um grande carinho à todos.

A dor que nos atinge

13 de novembro de 2010





Não há lógica em decrescer, quando a dor deve é nos impulsionar a melhorar. Não devemos perder aspectos que nos tornam especiais e únicos só porque consideramos que assim evitaremos as dores necessárias. Não adianta nos prendermos numa bolha, porque logo ela estoura, e a sensação será intensamente pior e dolorosa. É difícil mensurar o que é ideal, e mesmo compreender o alcance de uma desilusão ou frustração, porque as dores nos aniquilam de forma distinta. E como reagir a uma grande lágrima ou uma grande faca enfiada no coração? Com certeza limpando a lágrima e não deixando cristalizá-la. Também não dá para empurrar mais a faca.

Mesmo que uma dor seja extrema, não podemos nos fechar, ou mesmo endurecer nossa casca. Precisamos, em cima do que sentimos fortalecer o nosso poder de absorção, e cristalizar a nossa fé. É inadmissível que as mudanças sejam retrógradas. É mais difícil ainda conceber a simples ideia de querermos mudar elementos intrínsecos na nossa alma. Se formos transparentes, não nos tornemos opaco; se choramos, demonstramos os sentimentos e somos espontâneos, não deixemos de ser. Não permitamos que a dor nos comande, e que a fraca luz do torpor nos iluda numa campanha tola de involução.

É preciso observar melhor o silêncio, ou a tristeza ao nosso redor. Elas são essenciais, porque mostram o caminho da frente. Não escolhamos voltar. Não cultivemos o medo. Jamais digamos que é impossível, ou que a dor é profunda demais para nos fazer levantar. Não deixemos de ser a pessoa encantadora que somos, porque uma frustração toma conta do nosso ser. Não diluamos essa essência bonita que delineia a alma, que cativa as pessoas e embeleza o coração. É um grande desafio, mas se pararmos para pensar direito, vamos notar a importância de certos detalhes.

Tudo pode estar contra nós, mas não podemos, por descuido, tomar atitudes inversas. Sempre existirão ventos que sopram contra. Sempre precisaremos remar contra a maré, ou nadar contra a correnteza. A vida muda sempre de direção. Mas não podemos mudar juntamente com ela. Precisamos seguir o nosso ritmo, a melodia particular que nos diferencia. Se cairmos nessa armadilha, perdemos o elemento mais precioso da gente: a nossa personalidade. E aos poucos vamos construindo um ser humano que não existe, um ser preso na obscura solidão e na dor amarga da desilusão.

É necessário que jamais percamos a esperança. E que nunca culpemos o amor. A dor não é uma causa dele. O amor é sentimento puro. A dor acontece porque algo nos impede de sentir o amor na plenitude. A dor pode vir da inexistência de um sentimento não correspondido, mas nunca do amor. E é isso que precisamos entender. A culpa na maioria das vezes é a nossa incapacidade e fraqueza, de outro elemento conflitante ou a falta de um elo que nos une ao nosso desejo. O amor é a cura, jamais o câncer. Por isso não dá para caminharmos para trás. Diante de um sofrimento, uma desilusão, angústia ou qualquer outra dor, é primordial que saibamos tirar dele o proveito suficiente para que a nossa alma cresça, e não tornar a aflição um obstáculo intransponível, capaz de nos jogar num breu infinito.

A verdade é que quem nos joga nesse abismo, não são as dores, mas nós mesmos, que na fraqueza de lutar aceitamos a própria derrota. Ficamos no chão porque achamos que somos mais fracos, quando na verdade, somos capazes de levantar quantas vezes for preciso. Culpamos as dores, quando os culpados somos nós. Não devemos nos acomodar na ilusão de uma dor infinita. Vamos nos dar oportunidades, deixar o amor mais liberto, acreditarmos mais em nós mesmos. Não vamos nos tornar reféns da dor, porque quando ela nos alimenta, nós perdemos a cada minuto um pedaço nosso. Façamos da dor, frustração ou desilusão, uma ponte para um melhor discernimento, capaz de nos mostrar o verdadeiro caminho para o crescimento, sem que isso elimine os traços da nossa personalidade.

 
 
 
 
Aspas do Autor: É bastante difícil ter esse equilíbrio, mas quando você consegue compreender a importância de buscar sempre superar a dor que te atinge, você sempre alcança um nível de discernimento maior a respeito do que é essencial. O crescimento e a força surgem naturalmente. Meu afeto sincero a todos que me dão a honra de suas visitas. Em breve faço visitas. Abraços! (Áinda sem internet. E está difícil viver sem)