A sombra que me persegue

18 de setembro de 2010




Eu vejo uma sombra me seguindo. E sempre que deixo brechas, o temor reaparece. Eu sei que não é preciso olhar pra trás, mas o receio me faz olhar e ter a certeza do quanto estou distante. O grande objetivo na minha vida tem sido afastar-me dessa escuridão. Tenho vivido essencialmente para estigmatizar os meus piores aspectos. Mas a vida meu ensinou que extrair os piores pesadelos da gente, as faces mais obscuras que nos mascaram, não é uma tarefa das mais fáceis.

Não quero virar refém da minha sombra, do pior que me persegue, mas preciso aceitar que não sou alguém inabalável, muito menos invencível. Sou apenas humano, buscando, dentro do possível, amadurecer e evoluir. O que acontece é que o caminho, por vezes, se estreita, e sinto a dificuldade cruzar a minha luta. Cuido para evitar, mas nem sempre é possível deixar a sombra distante. Como uma criança aprendendo a andar, tem horas que caio e a sombra que anda à espreita se aproxima.

São nas horas em que, por um descuido, a sombra me abraça que tenho mais medo de mim e do que posso me tornar. A sombra ao meu encalço guarda tudo de ruim que eu tenho, e tudo o que até hoje pude ser capaz de extrair de mim. Tenho medo sim, medo de que eu me machuque ou fira, que na recaída eu sofra ou faça sofrer. Embora eu tenha a relativa sensação de que tudo isso é natural, quando somos alunos da vida. Faz parte da necessidade em crescer. Apesar de evitar, tem horas que fica fácil perceber que sentir antigas dores facilita o discernimento de novos aprendizados e elementos tão intrínsecos no amadurecimento.

Às vezes é dolorido perceber as chagas presentes em mim, mas também tenho a consciência de que é necessário encarar meus piores lados para que eu possa encontrar meios de me recuperar. Mas sinceramente busco estar a cada dia mais longe dessa escuridão. A cada dia quero distanciar-me mais do negror que por vezes me aflige ou já me afligiu. Exijo muito da minha caminhada, da minha força de vontade em perseguir a luz. Mas sei que é preciso ter mais paciência com o crescimento, com o advento da minha melhora. Cada experiência, por mais dolorosa que seja é vital para minha melhor compreensão.

Consequentemente continuarei minha caminhada de fé, lutando para extrair mais e mais pesadelos de mim. Mesmo com a sombra ao meu encalço, jamais irei desistir de manter distância da escuridão que me segue e que mancha a minha alma. Lutarei bravamente para sempre trazer luz dentro de mim. Não serei perfeito (dificilmente serei), mas não serei tão imperfeito a ponto de não reconhecer os obstáculos preciosos que existem na vida, juntamente com todos os seus ensinamentos.

Sei o quanto é longa a caminhada, e, portanto, venho condicionando a serenidade, para que eu nunca enfraqueça perante as adversidades. Nesse processo de crescimento, vou estar sempre a mercê da sombra, isso é verdade, mas com o tempo pretendo transformar a minha luz muito maior que a escuridão, a ponto de um dia, a luz iluminar amplamente o meu caminho, sem que eu possa enxergar a sombra me perseguindo. Está longe pra isso. Está longe e difícil pra todo mundo alcançar algo assim. Eu sei. Mas quando vamos à luta de nosso bem estar e felicidade, não devemos nos contentar com pouco. Precisamos almejar o melhor objetivo.

É isso que quero pra mim. Quanto mais distante eu estiver da sombra, mais próximo estarei da luz. O caminho é longo, mas não fraquejarei.





Aspas do Autor: Nada é impossível para quem crê e busca estar sempre no caminho da progressão. E vou caminhando em busca da minha melhor sintonia com a vida e com a minha alma. Meu carinho à todos. Fiquem em paz!

Soneto do encanto

11 de setembro de 2010




A luz que faz cortejo no ar
O brilho presente no céu
A canção que toca sem parar
O bálsamo que encanta ao léu

O encanto cativo no jeito de ser
A paz infinda no modo de olhar
O poema mais simples de escrever
A confissão mais bela de entoar

A ternura no enlevo da flor
O afeto mais puro a se ofertar
A pintura mais simples da cor

O arroubo causado pelo mar
A força refletida no temor
A alma imersa no amar





Aspas do Autor: Um poema para não fugir da pauta. Com um encanto especial vindo do meu sentimento. Espero que gostem. Para quem não leu o conto anterior, recomendo MUITO ler. Não vai se arrepender. Meu afeto! Tudo de bom para todos!

Amor mudo

4 de setembro de 2010




Não existem obstáculos que impeçam o amor de surgir.


Eles se viam todo dia. Seus olhares eram a ponte que os unia. Seus sorrisos eram pinturas de um amor espontâneo. Seus olhos permitiam, a cada um, preencher-se no mais íntimo um do outro. Sempre nos mesmos horários. Após acordarem; antes do almoço; antes e após assistirem a série preferida deles; no fim do lanche da tarde; após a janta e antes de dormir, já com as estrelas no céu e a lua clareando a noite (por sinal, o horário preferido de ambos).

Nesses momentos sempre conseguiam ficar frente a frente. Mesmo a uma pouca distância, eles encontravam uma felicidade jamais sentida em toda a vida deles; uma sensação de alegria transcendental, nunca vivida na amplitude das sensações anteriores, aos quais eles, naturalmente, estavam à mercê. Encontram nessa nova maneira de viver, uma fonte prazerosa de amor. Amavam-se plenamente.

Viviam separados, mas na essência juntos. Fitavam-se e, apenas nesse ato simplório, sentiam-se capazes de compartilhar as mais tenras e doces declarações. Era fantástico o tamanho entendimento que tinham sobre cada um. Simplesmente encantador aquela ternura que se findava em seus encontros distantes. Os momentos em que uniam seus olhos eram os que mais davam razão à suas vidas.

Tudo que aparentemente os impedia de viver já não importava. Viver era uma realidade visível. Tudo parecia valer a pena. Essa paz grandiosa que se firmava entre suas almas bordava um amor imensurável, de rara beleza. Como se a doçura envolta compusesse melodias únicas, embalando as horas em que se amavam com o olhar. Tudo era minimamente encantador. O resvalo no ar só escondia um amor puro, difícil de ser visto hoje em dia.

Ele num prédio. Ela, noutro. Ambos tetraplégicos. Ambos mudos. Ambos se viam apenas pelas janelas, a uma distância de alguns metros. E nos raros momentos em que suas mães os colocavam de frente para a janela, para admirarem o mundo lá fora e respirar ar puro, eram os minutos mais felizes de suas vidas. E assim amavam-se, pela distância curta que suas residências tinham uma da outra; pela janela, que abria as portas de um amor que jamais alguém imaginou, mas surgiu.

Muito mais do que qualquer coisa, eram pelos olhos, as janelas das suas almas, que ambos verdadeiramente se presenteavam e adentravam no mais íntimo da cada um. E assim descobriram-se, numa das mais ternas e emocionantes intervenções do amor de Deus. E assim encontravam-se todo dia, com a intenção singela de se amarem e serem felizes. Para os dois, nem todos os obstáculos que a nova vida lhes oferecia era capaz de impedir essa magia que encontraram um no outro. Tudo parecia possível e pequeno quando seus olhos se encontravam.

Jamais deixaram de ser ver, desde que descobriram o amor um no outro. Porém, houve um dia em que, curiosamente, ele não a viu do outro lado da janela. Isso o atormentou muito. E para alguém que não podia esboçar ou fazer qualquer gesto, nem falar, era imensamente frustrante (e doloroso). Mas antes que seus olhos derramassem lágrimas, sua mãe entrou no quarto. “Filho, adivinha quem veio te visitar?” E com um leve aceno no rosto, sua mãe confirmou. “Ela!” Seus olhos brilharam e, com uma das poucas coisas que ele sabia fazer de melhor, ele sorriu o sorriso mais bonito da sua vida. E não era preciso traduzir mais nada do que ele sentia. Mais nada...





Aspas do Autor: Creio que seja uma das histórias mais bonitas e tocantes que eu eu já escrevi até hoje. Eu fui escrevendo e me emocionando. Pelo visto, ultimamente o amor tem sido a minha melhor pauta. Um grande afeto à todos (Obs: estarei, no período de 23 a 26 em SP capital. Não sei se postarei no blog, vou ver. Quem for de lá e quiser me conhecer me dá um aviso).