Do sofrimento à superação

31 de julho de 2010

Originalmente escrito em 16 de dezembro de 2007.

“Veja!
Não diga que a canção
Está perdida
Tenha em fé em Deus
Tenha fé na vida
Tente outra vez!...”

(Tente Outra Vez. Raul Seixas)











Um dia ele sempre chega; esse negror fulminante que invade cada centímetro de nossa pele, de nossas vibrações e palpitações. Essa fumaça encobre o nosso céu e nos deixa em torpor, embriaga nossos olhos e nosso caminhar fica pausado, fraco e cambaleante. Uma inebriante força enfraquece nossos olhos e então inexpressivos caímos em si e notamos o ritmo diminuir, o dia acabar e a noite gelar. Os momentos de flacidez nos ditam, e nos coloca em suspensão. Sentimos o frio penetrar intensamente em cada poro, fazendo com que essa tristeza mórbida invada com uma força incomensurável. O paladar endurece e resseca. A pele fica rígida e insensível. O cheiro fúnebre se perpetua por entre o ar. A passividade que nos envolve nos limita e nos cobre de incapacidade, de descrédito. Deixamos de acreditar em nós.

As angústias nos afligem e nos alimenta com dor, e com toda a potência enraizada em brisas lancinantes e fatais. Tudo se torna cinza. As nossas forças padecem, e então nos sentimos impossibilitados, e inertes em nosso sofrimento, necessitamos de ajuda, de compreensão, e muitas vezes de um colo amigo, uma palavra de conforto. Nesse tempo nada se encaixa, nem funciona ou faz sentido. A culpa nunca é nossa. Toda essa neblina nos deixa cego e então é mais fácil apontar um culpado a esmo, sem notarmos que o nosso amor próprio é que se distancia cada vez mais. E a cada segundo geramos pensamentos confusos, comportamentos conflitantes, e ocasionamos irritações, brigas e outras superficialidades causadas por esse abalo emocional. Chegamos à beira de um ataque ou de um precipício. O choro e o extravaso, essa dor psicológica que nos atinge vem junto com crises de depressões e estresse. Decapitados por esse pairar, nos rendemos muitas vezes a essas quedas. Então tombamos e sofremos.

Entretanto, o mundo lá fora continua no seu ritmo normal, pouco ligando para o nosso sentir, o nosso estar ou nossas preocupações. O tempo afundado nessa prisão, nesse breu, é incompreensível, pois vai depender da força de cada um. Pode ser de um dia, meses ou até anos. Embora ela seja necessária para abrirmos os olhos e juntarmos forças para nos reerguer e superarmos as dores. A partir daquele momento vamos enxergando mais racionalmente, e com a ajuda de pessoas queridas, e principalmente de nós mesmos, nossa neblina minimiza e nossa visão se torna mais clara. Um dia então ela sempre chega; essa luz e esse brilho penetrante e que tem capacidade de nos levantar e nos dar força e vigor para viver. Num longo despertar nos analisamos e nos deixamos levar por essa cálida sensação de ânimo. Num súbito aos poucos vamos descobrindo a beleza que nos rodeia, a sublime vida que nos suporta e a luz que nos abastece. Aos poucos vamos aprendendo a renascer. E com muita fé, lentamente, vamos saindo do casulo em que nos deixamos envolver.

E numa consciente percepção descobrimos que ainda há muito que se ver, o que se viver, conquistar, angariar e aprender. As energias vão se recompondo, nosso vigor aumentando e nosso vibrar, nossa alegria e contentamento se recriam e se tornam presentes. A brisa resvala e nos fortalece; o sangue circula e nos aquece, nos deixando aptos e crescer, a alcançar os degraus. Aprendemos ali que devemos angariar forças para seguir em frente, e com muita luta e persistência chegar até além do limite. A cada minuto nosso ânimo vai se inflando, nosso caminhar fica mais vibrante, mais firme e sólido. As dores vão sumindo, as angústias disseminando pelo ar, e o corpo vai se enrijecendo, tornando mais forte e mais resistente.

A luz vagarosamente vai iluminando nosso semblante, e os corredores escuros de nossa alma vão clareando e a pulsante vida renascendo. Então chega uma hora em que finalmente nos reerguemos e firmes caminhamos felizes, contentes e determinados. Como fênix, ressurgimos das nossas cinzas e então nos abrilhantamos e nos fortalecemos. Tudo se renova. Tudo que antes nos afligia se aniquila, e as coisas boas novamente aparecem, e nisso somos envolvidos com cálidos abraços. Conseguimos finalmente sair do sofrimento com muita superação.

Assim como esse escuro sempre vem, ele sempre vai; da mesma forma que caímos, sempre levantamos. A vida nos ensina a superar as frustrações e as decepções. E o importante é que seja sempre assim. Que nos levantemos das quedas com mais força para resistir às dificuldades e obstáculos futuros. Que tenhamos força necessária para superar todos os problemas e desafios. Logo as quedas se tornam raras e a felicidade constante.






Aspas do Autor: É um texto antigo, escrito em 2007 no meu primeiro blog. Republiquei aqui por achar um texto bom pra se ler. Por mais tempo que possamos ficar mal ou sofrendo, chega uma hora em que precisamos levantar, pra recomeçar a viver. Tudo ao redor nos ajuda a superar. A vida sempre faz a gente passar por essas situações, para renascermos sempre mais fortes. Meu carinho à todos. E desculpem, mas logo volto à fazer minhas visitas.

Não preciso provar

24 de julho de 2010




Eu não tenho que medir esforços em provar nada a ninguém. Não preciso provar a minha força, nem se sou capaz de suportar. Não preciso mostrar o quanto o meu amor é incomensurável, nem o quanto é infindável. Não! Absolutamente não preciso provar que não tenho medo, e que posso superar obstáculos e determinados caminhos. Não tenho que provar que só pareço bobo e inocente, mas que dentro de mim, sou alguém com a cabeça centrada, consciente de muita coisa da vida.

Não preciso mostrar que sei; que no fundo compreendo, e que na verdade sou alguém com um amadurecimento razoável o suficiente para demonstrar que sei buscar e reconhecer o que é necessário para o meu crescimento como ser humano. Não preciso provar que eu conheço o que é essencial, que viver pouco não significa necessariamente não saber fazer escolhas ou não gostar de coisas reais. Não preciso provar que sei o que quero ou o que sinto.

Não preciso provar a sinceridade do meu coração; e que ele apenas pulsa pelo o que realmente o atrai. Não preciso. Não preciso provar o quanto me subestimam, o quanto se enganam comigo, apesar de ainda, concordarem que eu sou alguém de boa índole, doce, sincero e admirável. Não preciso mostrar o verdadeiro tesouro oculto na minha alma. Ele está acessível apenas a quem não desiste de persistir no meu coração.

Não preciso usar de desculpas, nem medir palavras para dizer o que penso. Não preciso provar que posso ser franco, usar de clareza para compartilhar o que sinto de verdade. Sou transparente o suficiente para que isso fique evidente. A cada dia que passa, vou adquirindo a certeza de que provar o que sou para as pessoas não é importante. E que elas por si só precisam me descobrir.

Eu preciso provar é para mim mesmo, na força do meu sentimento e na capacidade do meu ser de entender, compreender e amar. Eu preciso provar apenas a mim mesmo, de que não posso desistir, de que tenho forças para aguentar a pressão que é viver, que é lutar e persistir. Preciso urgentemente e necessariamente provar para mim, que a minha alma tem grandeza, e que está prontificada a suportar as melhores e piores experiências da vida. Eu preciso provar que sou capaz de admitir meus erros, minhas falhas e minhas fraquezas.

Eu preciso provar pra mim mesmo, que as minhas virtudes realmente fazem diferença pra mim, e que a pessoa que eu sou é fruto de tudo o que de fato acredito e escolho pra mim, como elementos importantes na minha filosofia de vida. Eu preciso provar para mim mesmo que meu amor é sincero, que ele ultrapassa todas as barreiras, e que está acima de qualquer coisa que eu tenho e vivo na vida. Preciso provar para mim, que a minha alma tem a tenacidade indispensável para perscrutar as particularidades mais belas da vida, e de que consigo absorver os ensinamentos com tudo o que observo e experimento.

Eu não preciso provar nada a ninguém. Não preciso provar o quanto sou obstinado em buscar a minha felicidade, e o quanto vivo focado nos meus sonhos. Preciso apenas provar para mim mesmo, que sou um ser humano de valor, que faz a diferença para as pessoas; e com a perspicácia necessária para crescer com sabedoria e serenidade, elementos tão essenciais para a alma.

Não preciso provar pra ninguém a grandeza da minha alma. Preciso provar apenas pra mim, que a minha humildade, simplicidade, respeito e o meu amor para com a vida e as pessoas é que me tornam grande. Não é o que os outros avaliam ou acham, mas sim o que penso e acredito em mim que realmente conta e se torna importante.






Aspas do Autor: Escrevi isso porque preciso acreditar mais em mim. Acreditar que posso, que sou capaz, que tenho força suficiente para poder respeitar o que sou, o que necessito e o que tanto anseio. Isso tudo parte de mim. Só eu posso ter confiança plena em mim, e na minha capacidade de almejar e conquistar sonhos, crescer e me tornar um ser humano melhor. Não preciso provar nada a ninguém, se não a mim mesmo que eu tenho esse poder de encontrar a minha felicidade. Meu afeto à todos que docemente me visitam. Até mais.

Doce

17 de julho de 2010




Você está vendo?
Há centenas de brilhos pulsando
Você consegue ouvir?
Há uma infinidade de sons ecoando

Não é impossível notar
Vê, e sinta o que estás a te cercar
Não é uma ilusão, tampouco utopia
É mais que essência, é harmonia

Olhe bem, o que te toca?
Creias que é uma infinda doçura
Daquelas que te dão uma imensidão
Do amor presente no coração

Perceba essa luz tocando na alma
Essa essência brindando por ti
Que repousa no seu colo com ternura
Como um afeto que nunca vai partir

É uma sensação que liberta
Transpõe dor para amor
É doce como mel
Cativo no ar e manso no céu






Aspas do Autor: É tão simples quando queremos de verdade sentir as coisas mais essencias. Elas estão mais pertos do que imaginamos. Mas muitos esquecem disso e não conseguem sentir essa doçura. Pare um minuto e perceba. É doce. Meu afeto à todos. E desculpe o sumiço. Minha rotina está louca (risos).

Cativeiro

10 de julho de 2010




Teve horas que eu me sentia frio. Mesmo no calor insuportável daquele quarto. Mas um frio medido pela minha aflição solitária. E no frio insuportável da noite, eu suava. Porque os meus medos permeavam a minha mente. Eu tremia da cabeça aos pés. Mas de angústia. Não encontrava conforto em nada naquele cubículo. De qualquer lado podia cair. Via imagens de terror e ouvia vozes de agonia. Tive medo; muito medo de abrir os olhos. Medo de dormir. Medo de não ter aquele chão.

Meu corpo sentia o peso dessa sensação. Mesmo estando fraco e desnutrido. Não comia há uma semana mais ou menos. Raramente bebia água. Sentia fraquejo ao arquear os membros. A respiração era frágil e a pela já estava seca. Estava numa ladeira. E dificilmente voltaria. Meu refúgio ali era a cama. Que ficava bem no meio. Lá eu me recolhia e fico debruçado no colchão duro, porém, mais confortável e menos frio que o chão. Não conseguia pensar em nada. Já nem sabia se eu estava consciente da minha razão.

Estava visivelmente desorientado. A esta altura pouco importava quanto tempo tinha passado mesmo. Se um dia ou um mês, eu continuava morrendo. A cama ali seria o leito da minha morte. Ali eu sabia que o tempo não importava. Nem me permitia tocar no chão. Na cama eu me sentia mais seguro. Aquele quarto era o meu mundo. E na cama eu tinha paz. Só assim eu me sentia vivo.

Eu estava morrendo. Eu sentia o mundo escurecer. Naquele momento eu torcia para que aquilo se acelerasse. Iria passar a dor. Eu enfim iria descansar. E fui assim, até onde não conseguia mais respirar. Nem mesmo tinha forças para me mexer ou pensar. O corpo sabia exatamente que minha vida estava na contagem regressiva. Ele se arqueou e se recolheu. Minha alma praticamente se extinguiu. A morte só esperava o momento certo para ceifar a minha vida. Era inevitável e eu não acreditava mais.

Mas foi quando menos acreditei, e quando menos tinha consciência que eu fui salvo. Minha sofreguidão estava latente. Não pude identificar nada. Minha visão estava turva, e eu tonto. Não soube dizer quem tinha acabado de entrar. Lembro-me de vultos. E de quando apaguei. Por um tempo imaginei que tinha morrido. E de certa forma foi sim. Após um bom tempo acordei num hospital, acompanhado da minha esposa e do meu filho. Aliás, não acordei não, eu renasci.

 
 
 
 
Aspas do Autor: É doloroso explorar um mundo em que você se imagine encarcerado, ou preso de alguma forma, sem poder viver. Preso não vivemos. Quando nos libertamos, principalmente do cativeiro que há dentro de nós, nós renascemos. E assim é. Bem, ando com pouco tempo e o trabalho intenso tem me impedido de escrever direito. E me desculpem se ando ausente. Meu afeto à todos.

O passado é uma relíquia

3 de julho de 2010




Viva o presente, sem esquecer que o passado te trouxe a ele.


O lema é: viver todo dia como se fosse o primeiro das nossas vidas. Mas não esqueçamos o passado. Esquecermos o que passou é esquecer o que vivemos. Contudo o segredo está na forma como lidamos com o passado. Porque qualquer experiência que vivenciamos algum dia tem valor. Por menor que seja, tudo tem um significado para a gente. Até a pior coisa que tenha acontecido tem importância. O que nos fez chorar ontem, nos faz crescer hoje. Não esqueçamos o passado, porque lembrando fatos assim, observamos que superamos, vencemos obstáculos e que nos tornamos alguém melhor; ou mesmo caminhamos em busca de tornar a nossa história daqui pra frente, melhor e com menos tristezas. Erros nos dão lições e se tornam fundamentos para melhoramos o dia de amanhã. As conquistas de ontem foram responsáveis pelo crescimento e fortalecimento da alma.

Feliz ou não, o que decorreu na nossa vida também é importante. Desde que assimilado dessa forma, como que uma “bagagem” de experiências e vivências que nos transformaram na pessoa que somos hoje. Porque hoje somos resultados de ontem. Não haveria mudança se não houvesse a necessidade e o que mudar; mudar o que passou, transfigurando o panorama do nosso futuro. É claro que é preciso firmar o pé no presente, e viver tudo novo de novo. Mas porque isso? Porque justamente temos essa necessidade? Porque justamente temos um passado a recorrer. E essa análise do que nos passou leva-nos a aprender, todo dia, a como nos portar mais à frente.

A questão central não é vivermos no e do passado, porque isso é fora do propósito mesmo, mas sim, não nos esquecermos do passado, e o tê-lo como um livro de cabeceira, que uma vez ou outra a gente lê antes de dormir, fazendo-nos refletir para o dia de amanhã. Podemos tornar o passado uma mãe, que dá conselhos e orientações de como podemos ser melhor no agora e no futuro. É essencial que o passado continue do nosso lado. Não como algo que nos prenda, mas que nos liberte; que nos dê harmonia necessária para compreender as mudanças. Sempre estaremos fazendo levantamentos de nossa evolução espiritual e pessoal. Precisamos uma base. E a base é o que já experimentamos.

O passado é o nosso álbum de vivências. É o que rega nossa raiz e nos faz brotar. Porque um dia já fomos raízes, e a cada dia crescemos, até brotarmos e nascerem galhos, folhas e frutos. Não nascemos adultos e maduros. A maturidade de hoje, já foi a imaturidade de ontem. Crescemos porque um dia já fomos pequeninos e inocentes. É claro que é interessante viver o presente. O foco da vida é esse. Mas porque então esquecer o passado? É por causa dele que hoje colhemos frutos dos nossos aprendizados, e que tiramos lições dos nossos erros.

Não é pra ficarmos presos a ele, claro que não. Mas também não é para apagarmos. E realmente não dá. Vivemos como alunos da nossa própria vida. Não aprendemos todo o conhecimento num dia só. Precisamos de anos para formar conhecimentos. Não daria certo se entrássemos direto na quinta série sem termos passados pelos primeiros anos. Não íamos absorver direitos os ensinamentos. Cada elemento da vida provém para nós no momento certo. O que vivemos ontem é o que fortifica as nossas virtudes hoje

Na vida é assim. Não podemos nascer adultos logo de cara. Precisamos viver o primário da vida, os conceitos básicos do que nos cerca, para nos estimular. Depois, ao superarmos esse estágio, logo passamos a fazer descobertas, aprendemos mais conteúdo, diversão, amizade, amor, dores, lições, um pouco sobre o que é vida. No terceiro estágio da vida já temos certa independência e mais sabedoria para nutrir as impressões da vida. Já sabemos razoavelmente sobre a vida, o que vivemos e o que queremos, porém, ainda estamos na fase de descoberta sobre o mundo que nos cerca. E queremos aproveitar tudo. Não há uma maturidade definida, mas é a fase que nos encaminha, porque nos apresenta escolhas, caminhos, possibilidades e futuro. O conhecimento amplia. Na faculdade da vida já somos o adulto de hoje, resultados dos estímulos da criança de ontem, dos aprendizados e descobertas que tivemos na pré-adolescência, e das escolhas, dos caminhos que foram nos apresentado na fase jovem.

O passado passou, mas foi essencial para formar o ser humano que somos hoje. As dores vieram sim, mas hoje elas são apenas lições duras que usamos como exemplo para superarmos dia após dia nossos temores e nossos anseios. Ele passou, mas é dele que esprememos as melhores lições capazes de nos encaminhar para um rumo certo, em vista de construirmos um futuro melhor e mais feliz, onde seremos seres humanos mais fortes e amadurecidos.

Então, não esqueçamos. Mudemos a faixa, mas jamais esqueçamos a letra da música que um dia foi trilha sonora da nossa vida. Porque afinal, música não tem idade, e sempre tem muito a nos ensinar.

 
 
 
 
Aspas do Autor: Gosto de dar ênfase no fato de não utilizarmos o passado para vivermos nele. Mas crescemos porque um dia fomos pequenos. O passado é a nossa história. O importante é não torná-lo um fardo (seja pelas tristezas ou alegrias), mas uma parte essencial que irá sempre contribuir na construção da nossa história futura. Um imenso carinho à todos. E um agradecimento especial pelos comentários tão afetuosos no texto anterior, em que o blog completava dois anos.