Lira do despertar

27 de fevereiro de 2010




Luz...

Vida ativa,
felicidade,
calmaria...

extrovertida.

Alma nascida
renascida,
morta e vivida.

Apareceu...
Desapareceu.

Caiu e
subiu...
no horizonte
fez,
se desfez.

Alma sem vez,
se iluminou e se refez.

Em seu cantar:
morte e
vida,
tudo a raiar.

Tudo começou
em seu despertar.

Sem escolha,
aprendeu a amar.






Aspas do Autor: Existem verdades espalhadas pelo mundo. A maioria são mistérios, ou não conseguimos compreender. E como seres humanos munidos dessa sábia perícia em aprender, caímos, levantamos, sofremos, sorrimos. A vida é uma gangorra. Uma hora estamos no alto, outra hora no baixo. O importante é frisar a importância de abrirmos os olhos para o que nos cerca e finalmente fazermos o que de fato importa: amar. Se morremos hoje, podemos ressuscitar amanhã, como num leve despertar. Amar é mais que uma escolha, é imprescindível. Meu carinho à todos.

O início de uma fábula

20 de fevereiro de 2010




A rua estava totalmente invadida pelos confetes, serpentinas e as mais reluzentes alegorias. Estavam em todos os cantos, em todos os detalhes dos prédios, das ruas e postes. Era a manifestação da alegria abandonada ao léu. A rua não estava deserta. Estava ali, a poucos metros da imensidão do mar, no breu de um abraço invisível, que se seguia como um trio elétrico sendo guiado pelo céu azul daquele novo dia que chegava. Era um dia colorido, mas real. Não estava mais a canção de um pula-pula, nem a emoção de uma multidão. O vazio era como o silêncio agudo do coração. Era um arco-íris sendo irradiado pela cor tão presente, em reflexo à luz tão bonita e calorosa do sol. E ele, à meia volta que dava, rodopiava e saltitava. Era o seu mundo, sua forma de saudar a majestade daquele estribilho de realidade e paixão. Eram os últimos minutos daquela fantasia tão solitária. O único momento em que ele podia aparecer.

Mesmo dançando em cima da dor, seu terno duas cores – uma metade preta, e outra metade branca – estava polido de muito brilho. Seu rosto repleto de pó era apenas branco. Branco de ilusão e um minúsculo preto de tristeza adornando o redor dos olhos e delineando os lábios. Nada infelizmente tirava aquele olhar triste e espontâneo, mas ele tinha uma expressão romântica que acentuava por todo o seu delicado rosto. Era um amante do bem querer, um entusiasta da alegria, um bon vivant ao melhor estilo. Ao caminhar pelas ladeiras solitárias daquele bairro histórico, com construções barrocas, ele transparecia em seu rosto o que de bom era refletido. Foi quando num rodopio despretensioso a rosa vermelha de sua lapela desbotou-se e voou. Voou como um encanto, levando consigo estrelas e espalhando a efervescência de um doce sopro de amor.

E no leve flutuar, foi suave, percorrendo segundos de agonia em pleno ar, até pairar diante de um belo par de pés brancos, adornados com preciosas pulseiras de diamante no tornozelo, fitas douradas e coloridas. Esse pequeno momento o tirou da concentração. Os olhos, aquiescidos pela emoção, foi percorrendo pela presença humana. Uma mulher, de estatura baixa, muito bem vestida, com uma saia rodada branca e sapatilhas. Sua face redonda e branca estava sorridente, com covinhas delicadas e blush intenso nas maçãs do rosto. Ruiva, com longos cacheados, emanava uma plenitude feminina encantadora. Quando os olhos dele se encontraram com os belos, brilhantes e azulados olhos da mulher, dois universos de emoção se chocaram e inúmeros estribilhos mudos se intercalaram na doce expressão mútua deles. O silêncio tornou possível ouvir o palpitar intenso dos dois corações. Era a magia entrelaçando o destino dessas duas pessoas. Ele enfim pôde sentir a delícia de sorrir. A tristeza sumira.

Ela delicadamente pegou a rosa vermelha, levantou com tamanha doçura, colocou à altura da sua boca e aproximou-se do garboso rapaz, com a flor separando os dois lábios. Ela pegou a mão dele. E assim, sem trocarem uma palavra sequer, saíram de mãos dadas. Foram em sua imensidão de alegria cantando e saltitando, naquelas últimas horas de fantasia. Emanando uma fidedigna essência do amor, a cada rodopio eles demonstravam mais simetria um com o outro. E saíram correndo em direção ao mar. E juntos, como crianças despretensiosas dançaram na areia da praia vazia, como amantes eternos. Serelepes, tropeçaram e ao rolarem pela fofa areia, deram gargalhadas e mais gargalhadas. Seus rostos, pegos desprevenidos pela brincadeira do acaso, se aproximaram tanto que eles suavam frio. Novamente seus olhos se encontraram e tempestades de cometas tremeluziram no espaço ante a ternura envolvente. Deram um longo beijo apaixonado e rolaram na areia como eternas crianças...

Enquanto voltavam para a cidade, ficaram se fitando por um bom tempo. Não trocavam palavras. Espetáculos de cores pareciam bailar pelo universo. A moça estava radiante. Ele ansioso. O sol estava se pondo. Seus olhos diziam a ela que precisava ir. Ela não entendeu. Ele passou sua mão no rosto dela delicadamente. Inesperadamente pôde se ouvir um barulho de alguém se aproximando. Ela instintivamente se virou. Numa rapidez, ele levantou e foi saltitando para trás de um poste. Com o rosto levemente inclinado, ficou timidamente olhando-a de leve. Ela não percebeu de imediato. Estava confusa. Ele triste.

Com os olhos o belo rapaz dizia que precisava ir. Estendeu sua mão. O pedido era claro. Mas ela negou. Deixou claro que não podia. O sorriso dele acabou. E foi-se. Sumiu por entre os becos. Logo depois um garboso homem, vestindo uma roupa com losangos coloridos, apareceu saltitante pela rua alegre, com um olhar esperto e sorridente. Sorriu quando viu a mulher. Ela o abraçou. Era quem amava. Mas ali em tão pouco tempo tinha esquecido tudo e amado o belo moço misterioso. Um alguém que ela não poderia acompanhar. Seu companheiro era aquele que chegara. Ela tinha medo. E juntos, abraçados foram subindo a ladeira e indo.

A alguns metros, escorando por trás de um prédio, o triste e apaixonado rapaz via o casal indo embora juntos. Como que sentindo, a moça virou seu rosto e encontrou o dele. Uma lágrima contida surgia no rosto dela. O universo tinha se fechado. O sol sumira ao horizonte. Não existia mais espetáculo, só treva. O carnaval tinha acabado. Mas existiriam outros. Em todos, ele teria novamente a chance de vê-la e lutar por seu amor. Mas isso não diminuiu sua dor naquele momento. Então, como que em resposta àquela dor, do seu olho esquerdo uma lágrima doce, revelando o amor que ele sentia, caiu e se cristalizou em seu belo rosto branco...

...para SEMPRE.

E essa história seria apenas o início de uma bela fábula de carnaval.




 
Aspas do Autor: Eu acho que está óbvio da onde partiu minha inspiração. De qualquer maneira quis fugir um pouco do tradicional, mesclando a história com elementos de fantasia e realidade, sem excluir esse teor romântico e triste que rodeia a fábula. Enfim, a festa acabou e o ano finalmente vai começar. Estou também estreando um novo visual para o blog. Senti essa necessidade de reciclar a decoração. Que venham bons tempos por aí. Meu carinho à todos. 

A ética nas ações

13 de fevereiro de 2010




A ética se constitui na teoria de determinar o que de fato seria mais justo ou menos justo a si quanto para uma sociedade, diante da escolha de ações que afetam terceiros. Essa reflexão tem se tornado uma essencial questão para o ser humano, que procura ter senso ético e discernimento necessário para estar avaliando e julgando suas ações como, certas ou erradas, boas ou más. O ponto central está em entender e compreender a importância de se ter no mundo uma convivência mais civilizada, com mútuo respeito. Esse comportamento ético é um elemento imprescindível para a construção de uma sociedade digna e respeitada.

O equilíbrio moral deve andar em companhia com o indivíduo, e nessa premissa a ética deve estar evidenciada em toda ação tomada. O ideal sempre é saber anteceder o que de fato vai ser prejudicial ou não. O ser humano não vive sozinho no mundo. Por essa e outras questões é que é deveras importante frisar que a ética precisa estar dentro de qualquer ação. Os comportamentos humanos são influenciadores no desenvolvimento intelectual e social, pois todas as atividades envolvem certa carga moral, o que diretamente afeta no progresso, tanto individual quanto em um coletivo.

Hoje podemos mensurar e considerar o fato de que se as pessoas agem sem os preceitos éticos, podem prejudicar de alguma forma, direta ou indiretamente a liberdade ou a vida de outra. Este fator nos assinala que atitudes não éticas afetam diretamente o progresso, haja vista que uma sociedade só se desenvolve dentro de parâmetros idôneos. Não há como haver crescimento da nação, se cada cidadão fere e não respeita o outro cidadão. Os conceitos éticos estão na base que auxiliam o que é bom para certo indivíduo ou sociedade em questão, sem que essa interfira na liberdade individual. Essa reflexão em como se deve moldar o caráter moral ante os outros, nos remete à premissa do direito à liberdade.

A liberdade mal assimilada leva a interpretações errôneas sobre específicas atitudes. Vive-se em comunhão com outras pessoas, e que apesar de cada ser humano poder agir como quiser, é preciso atenção para que as atitudes não firam a liberdade da outra pessoa, ou estejam fora de uma matriz cultural cultuada por uma sociedade. O conceito de livre arbítrio se sustenta no fato de podermos fazer o que quisermos, muito embora, o respeito ao próximo e o bom senso precisam prevalecer. A base de todas as ações éticas está no respeito mútuo, e isso não fere a liberdade de ninguém, apenas assegura o direito de cada um em poder viver em paz, da maneira como queira.

O ser humano precisa equilibrar os pensamentos e as atitudes, e dessa forma ele encontrará o caminho que o possa conduzir às ações mais adequadas. Com uma apuração melhor sobre o que lhe rodeia, ele terá a capacidade de notar o bem que estará fazendo a ele ou à sociedade. Com esta reflexão é possível saber escolher que ação tomar, sempre enraizada nos conceitos de valores éticos. As reações comportamentais, oriundas das relações interpessoais, ajudam-nos a entender com mais coerência a importância de viver em cima de bases sólidas, apregoando uma consciência moral dentro de uma sociedade que busca a sua própria liberdade sem estar sendo prejudicada. O progresso no mundo está nas raízes éticas presentes no senso de cada um. No exato momento em que se tem essa sensibilidade com a realidade, de forma absoluta, quem se beneficia é a própria humanidade. Não tem como uma planta crescer se ela ainda não foi plantada. Portanto, sem ética dificilmente há progresso.

 
 

 
Aspas do Autor: Apesar do caráter redacional, às vezes é bom discutir um assunto do nosso cotidiano. E a ética é um dos temas mais pertinentes na atualidade, com ao qual precisamos nos inteirar totalmente. Entra década, sai década, e ainda presenciamos muita falta de ética nos comportamentos das pessoas. Numa sociedade que devia primar pelo progresso, a cada ano, caminha para trás. Quem sabe esse quadro se altere. Não depende apenas de mim. Fica aí a reflexão. Bom Carnaval a todos. Fica aqui meu carinho à todos os visitantes. Até o próximo sábado com mais um conto.

Do que se foi...

6 de fevereiro de 2010





Nem tudo que se foi se perdeu dentro de mim. Não são cacos, nem migalhas, são pedaços inteiros de vivências. São rastros do que cada sensação significou para mim. São espelhos de momentos. São sementes de emoção. Não são apenas pedaços do que tive de bom, mas também fragmentos das dores que já vivi e tive que suportar. Mas não guardo as coisas ruins por prazer ou para sentir as lágrimas fluindo. As tenho para lembrar que eu as superei e para transformá-las em boas recordações. Porque quando me lembro das quedas que levantei e dos muros que precisei esmurrar para quebrar, dos socos que levei, das dores que sofri, recordo do aprendizado que angariei, da verdade que precisei descobrir, da luta e persistência que fui obrigado a ter, e do amadurecimento que foi necessário a mim. E chega o momento em que os ruins se tornam bons. Pelo que realmente pude nutrir.

O que se foi nunca foi totalmente. Ficam para saber que vivi e que fui humano, que compartilhei e espalhei emoções, que me desdobrei e recorri a alternativas, errei, me enganei, sofri, sorri, pulei de alegria, adoeci de emoção. Não se vão, porque vivem nas minhas recordações. E se recordo me emociono. E se me emociono é porque sinto que tornei minha vida vivida, intensa e repleta de anseios, sonhos e realizações; até mesmo decepções e frustrações. Nem tudo que se foi realmente foi. Porque eu também não quero que vá. Não as quero esquecer. Nem o mínimo sopro de vento que teimou passar no meu âmago. Nem mesmo o pequeno sorriso e piscar de olho presenteado a mim. Nem mesmo aquele amor que o destino separou de mim. Nem toda a dor presente nas minhas experiências.

A dor já não aluga mais minhas lágrimas, mas apesar de tudo não significa que sou impassível a ela. Nada do que falo e vivo me faz ser de ferro. O caminho é árduo e longo. Tenho também os momentos sós, de pura reflexão. Horas de desapego, desassossego e choro espontâneo. O corpo necessita desabafar às vezes. Mas a emoção vivida também me emociona e me arranca muitas lágrimas de felicidade. A cada dia torno-me mais próximo do sorriso, mais companheiro da minha felicidade. Porque tudo que foi, deixou um pouco do que de verdade significou pra mim. E o que significa, é o que dá substância à minha alma e vivacidade ao ritmo do meu coração. Não tenho respostas. Crivo-me de perguntas. Porém, caminho liberto e vivo. A cada segundo posso estar próximo de viver a resposta e nem mesmo perceber. Quando menos espero estou diante de novos pontos cegos. É por isso que guardo. Como cartas não enviadas. Dá certo alívio, como também certo anseio.

Faço de tudo o que me caracterizou uma ponte para maiores descobertas. Porque aprendi que não devo esquecer-me de nada. Seja uma enorme cicatriz ou uma grande conquista. Não crio classificações. Nem faço separações. Não procuro ser preconceituoso com as experiências, nem plantar mágoas com o que fizeram comigo, ou que o destino aprontou comigo, nem lamento ou me frustro, ou me arrependo do que fiz. Todas as sensações e vivências fazem parte de mim, do meu ser, do que vi, vivi e senti. Por que esquecer o que me ajudou a tornar o que sou hoje? Não importa se melhor ou pior, mas a pessoa de agora é diferente, tem uma percepção maior, mais esclarecida.

Não teria sentido nem mesmo esquecer ou deixar de acreditar em algo simplesmente porque senti uma dor. Por mais estranho e confuso que seja, respeito o caminhar das coisas. Acredito numa razão por trás de tudo. A vida me ensina todo dia a crer nas coisas, mesmo que o amanhã pareça impossível. Não me endureço porque sofri ontem. Nem deixo de acreditar na felicidade porque uma pessoa me magoou ou porque a vida me estapeou. Nem deixo de crer nas pessoas, porque apenas uma em particular me feriu. Não generalizo o que vivo. Cada emoção é cada emoção. O que encontro de ruim hoje, posso encontrar de bom amanhã. Porque não faço estereótipos da vida, nem mesmo nomeio situações pelas que eu já vivi. Vivo na surpresa e continuo minha fé. Porque cada dia é um dia novo. Com experiências novas e emoções diferentes.

O que se foi vive dentro de mim, como um sábio conselheiro. Entre dar um passo pra trás e um pra frente, prefiro ir pra frente, mesmo que inesperadamente eu caia num abismo. Peco por fazer, mas não peco por não agir. E arrependo-me apenas do que não fiz. Faço de tudo que se foi uma escada para alcançar vitórias. Porque o que se foi nunca será um fardo, nem uma dor, mas uma porta. Uma porta que me leva a mil oportunidades. Oportunidades que geram aprendizados e esclarecem caminhos.

Guardo para sempre cada segundo e pedaço do que me foi proporcionado. Porque viver mesmo, a gente só vive uma vez.

 
 
 
   
Aspas do Autor: Antes até que sim, mas hoje não me prendo ao passado de forma negativa. Nem ele me traz dor agora. Ele pra mim é um álbum de fotos. Sempre que dá vontade lembro do que vivi e tudo que senti. E assim aprendo a fazer meu futuro com cautela, tendo perseverança e muita fé. Relembro o passado, mas vivo o hoje, construindo o amanhã. Há um tempo atrás, foi muito confuso soltar as palavras de dentro. Por ser imaturo, era dolorido e bom ao mesmo tempo. Porém, hoje aprendi muito e assimilo tudo com mais clareza, e então está mais fácil falar de mim. É uma coisa da qual necessito muito. Traduzir um pouco do que sinto, de transportar um pouco do meu “eu” para as palavras sempre me deu certo alívio. É algo que afaga e dá conforto à alma. Falar do que sinto particularmente sempre foi o meu forte. Escrever contos e poemas me proporciona uma coisa ótima e diferente, entretanto falar de mim e do que sinto sempre vai ser uma preciosidade. Porque é o elo que mais me ajuda a aprender. Meu intenso carinho a todos.