O fim da noite

26 de dezembro de 2009





O silêncio era um fim. Um fim que passava lentamente.


E foi isso que ele pensou. Andando solto pela calçada, tremendo de frio e com fome, ele sentia a dor aumentar na medida em que a temperatura do corpo diminuía. Ele arquejava sôfrego, e sentia-se fraco demais pra dizer algumas palavras. Não tinha mais força pra pedir socorro. Seu rosto demonstrava um pouco de pânico, mas tinha uma principal expressão de carência. Caminhando sem rumo, com apenas uma bermuda rasgada, sem camisa, ele procurava algo em que pudesse se esquentar. Mas o vento aumentava seu ritmo a cada segundo. E isso o enfraquecia mais. O lugar tava ermo, um pouco vazio, mas considerando sua situação não era perigosa. Quem iria machucá-lo? Ele conhecia os poucos marginais que rondavam a região. Tornara-se amigos de todos da redondeza, porém ao escolher não seguir os modos de vida deles, não o ajudavam em nada. Também não o maltratavam, com a condição dele não atrapalhar a “área” deles. Ele estava sozinho.

O menino ao passar numa lata de lixo, instintivamente revirou as coisas, para ver se encontrava algo de comer. Mas não teve sorte. Não tinha nada que ele pudesse mastigar. Além da fome profunda, o frio estava penetrante demais. Nem os becos ajudavam. Nem um espaço sequer das avenidas tinha calor suficiente. Era inverno, a pior época pra quem morava na rua. Ele andava pelas ruas com alguma esperança. Sempre que se via nessas noites caudalosamente gélidas, ele corria contra o tempo. Ao passar na frente de uma casa, ele olhou uma família ao redor da mesa, todas juntas, antes do jantar. Talvez naquele momento eles estivessem orando. Ele viu duas crianças, uma menina, toda rosada, linda, aparentando 6 anos, e um garoto, todo sorridente, mais novo que a menina, talvez 4 anos. Eles estavam abraçando o pai. Logo abraçaram a mãe. Era uma cena linda, mas ao mesmo tempo doída para ele testemunhar. Lágrimas se projetaram pelos seus olhos cansados, cheios de olheiras. Ele mais que ninguém desejava tanto estar ali no lugar de um deles, abraçando seu pai, sua mãe. Chorou silenciosamente, desejando tanto estar num conforto de uma casa, no seio de uma família. Queria ser amado, querido. Mas não era.

Seus pés fraquejaram com a emoção, e ele sentou na beira da calçada, tentando lembrar algo em relação a seus pais. Mas nada. Ele nem sabe como foi parar na rua direito. Ele sobrevivia com muita perseverança, mas com pouca alegria. Talvez a esperança que lhe dava força seria o sonho de um dia poder morar em uma casa, e ter o conforto de uma família. Ele desejava, com muita força que a “noite” da sua vida acabasse de vez, e ele pudesse ver e sentir finalmente a luz e o calor do sol. Ao pensar nisso, ele esboçou um meio sorriso esperançoso. Passou suas mãozinhas pelo rosto, pra enxugar as lágrimas e levantou. No momento em que estava voltando a andar, ele foi percebendo a mudança na escuridão, e sentindo uma leve iluminação vinda do horizonte, pronta para clarear a cidade. Ele nem percebeu, mas tinha ficado horas ali na calçada, chorando e sonhando. Em cerca de poucos minutos, ele foi vendo magistralmente o sol surgir resplandecente no céu, tornando a noite, dia de novo, e enchendo de calor seu corpo. Ele abriu um largo sorriso, como se tivesse acabado de receber o maior presente de toda a sua vida. E era mesmo. Era sempre assim, todo dia, quando o sol nascia. É como se a tristeza e o frio da noite, não tivesse existido, e apenas a felicidade do dia, vinda da luz e calor do sol o contagiasse por completo.

Foi o fim de mais uma noite. Talvez não o fim da “noite” de sua vida, mas um pedaço dela. Por que enquanto houver um sol pra ele vislumbrar todo dia, ele jamais perderia a fé e esperança por uma vida feliz, sem dores, sem fome, sem frio, e com uma família, uma casa.



Aspas do autor: Talvez possamos fugir de muitas coisas, mas é impossível que uma dessas seja a realidade. É cruel. Mais ainda se houver indiferença. O quanto existem crianças de rua, desamparadas, precisando de algum carinho, de uma família? Penso em quantas noites de frio elas têm que suportar. É triste. Às vezes nos sentimos impotentes. E são realidades assim, tão globais que nos fazem sentir assim. Um pouco que a gente faz é suficiente. Vamos fazer. É nessa esperança que me despeço de um ano, que para mim foi imensamente maravilhoso. Um ano com poucas conquistas, mas equilibrado dentro dos desafios que precisei enfrentar. O término da faculdade foi o principal foco de 2009. E encarei isso com tanta seriedade, que o fiz pra coroar um ano bonito. Agora inicio 2010 com o título de bacharel em turismo. E isso é apenas o início de um longo “romance” com essa área tão fascinante: turismo. Bem, desejo a todos um feliz ano novo, com muitas realizações. Meu carinho.

O Despertar do recomeço

19 de dezembro de 2009





Não há nada tão bom quanto sentir a leveza de um recomeço. É como estar com os pés afundados numa correnteza, sentindo, a cada segundo, uma corrente diferente. É um misto de possibilidades e alternativas. É uma fortaleza protegendo sensações inebriantes provenientes de um novo amanhecer. O recomeço é como uma sensação de felicidade, afugentando as angústias, enaltecendo as esperanças e espalhando sorriso. É um despertar solene, que apazigua a alma, e a acolhe numa paz indistinta, única, de afeto aconchegante.

O recomeço surge quando uma grande jornada de mudanças termina. É um ciclo que sempre vai estar presente na evolução do ser humano. São diversos fins, e vários reinícios. É a luz no fim do túnel, aquela que ilumina a razão e o coração. É uma sensação que principia novas metas, novos objetivos e aspirações. A busca por anseios é renovada e alimentada pela vontade, força, determinação e perseverança. Ela permite uma nova alma surgir, uma nova vida clarear.

A sensação de recomeçar dá certo alívio, instiga leveza, propicia uma nova jornada. É a busca por novas mudanças e transformações. Antecipa acima de tudo a possibilidade de crescer, almejando amadurecimento. O despertar do recomeço enche as energias e infla a coragem, amacia os impulsos e orienta os caminhos. É uma coisa fascinante sentir a calmaria das sensações, a leveza das emoções e o equilíbrio das escolhas. Tudo parece ameno, alegre, excitante. Toda alternativa surge de maneira tentadora. Recomeçar é estar diante de uma enchente de alegria.

Acima de tudo, recomeçar é ter um novo brilho no olhar. Um olhar que traduz a grande beleza que é viver. Recomeçar é assim, reconfortante na paixão em viver. E viver é um enorme prazer, presente na possibilidade de sempre poder recomeçar.






Aspas do Autor: Acho que nem preciso dizer que sensação estou vivendo nesse momento. Estou bastante leve. Feliz natal a todos.

Suspiro...

12 de dezembro de 2009





Sinto que as sensações penetrantes, nos últimos tempos, têm sido fugazes. Fugazes demais. Quero finalmente sentir a brisa percorrendo pelos dias da minha vida. Quem sabe possa finalmente deixar escapar por entre meu sorriso o leve prazer de libertação. Não apenas momentânea, mas crescente. A intensa reflexão que faço agora dos meus últimos dias, me traz a nítida impressão de que fiquei enclausurado dentro – não sei se é o termo correto – de uma “bolha”.

Porém, não escondo a importância desses dias em que fiquei concentrado e focado nos deveres. Também não quero mentir e dizer que isso foi bom. Foi de certa forma angustiante. Com certeza cansativa. A necessidade em terminar a faculdade me rendeu muitas horas de desassossego, diante das responsabilidades. Mas foi um árduo período em que obtive o resultado esperado. A sensação de alívio não tem preço.

Sinto-me leve, mais aberto e pronto para novos desafios. Dessa forma estou inteiramente livre para sentir por completo a vida ao meu redor. Antes tudo parecia desfocado, agora, porém, bem destacado. Não posso mais desviar de certas coisas. Não posso apenas virar os olhos para o canto e usar a velha desculpa das responsabilidades. Por enquanto estou só comigo mesmo, sem muitas opções e tarefas. Não conto o trabalho, afinal, continua fazendo parte da rotina do meu cotidiano.

O fato é que agora sinto na totalidade a leve brisa da tranquilidade, que perpassa todo dia por mim. Talvez as coisas, que antes eram mínimas, tenham nesse momento, a devida importância. Tenho certa ansiedade em saber o dia de amanhã. Apesar de não fazer planos, fico esgueirando um pouco o futuro para quem sabe conseguir visualizar quais serão meus novos objetivos. A certeza que tenho é que preciso me habituar novamente à minha vida. O período na faculdade não passa apenas de uma lembrança bonita. A partir de hoje, tenho uma nova frente a tomar. Novos caminhos. Novas possibilidades.

Não quero apenas que tudo isso seja apenas uma leve imaginação do que anseio. Não mesmo. Quero deixar-me suscetível a novas propostas da vida. O destino sempre foi um brincalhão comigo, porém sempre sábio, disso não hei de duvidar. Então, ando no momento visualizando o amanhã apenas como outro dia qualquer. Quando chegar o dia em que as nuvens sairão desse céu de incertezas e estranhezas, terei mais clareza para ver o que os caminhos me reservam. E será nesse dia então, que terei uma imensa e grata surpresa... [suspiro]






Aspas do autor: Esse texto é um pouco de desabafo. Os últimos meses foram sufocantes. Me foquei e dediquei tanto na elaboração do TCC que me vi absorto à quase tudo. Isso foi meio angustiante. Por isso que agora sinto um pouco mais de alívio. É claro que penso em continuar os estudos, com uma especialização, um mestrado, quiçá doutorado. Mas cada coisa a seu tempo. No momento estou livre de estudos e quero relaxar um pouco. Quem sabe teremos surpresas pela frente. Enfim. Estarei pelo blog aqui. Por enquanto, sempre. Meu carinho.

Palavras perdidas...

5 de dezembro de 2009






Palavras de paz
com frio e calor
palavras de afeto
brilho e fervor

Palavras tão doces
colhidas na flor
palavras não ditas
perdidas no ardor

Palavras poéticas
com muito clamor
palavras perdidas
de um sonhador

Palavras escritas
sonhadas com amor
palavras perdidas
esquecidas na dor...






Aspas do autor: Depois de quase oito meses, estou de volta ao meu recanto de palavras. Resumindo, essa longa parada aconteceu porque precisei. Envolvi-me no TCC da faculdade esse semestre e achei natural me dedicar ao meu trabalho. Eu concluí, fui aprovado e só resta-me formar. Para quem não sabe, concluo a graduação em Turismo (bacharelado). Estou muito feliz por essa conquista. Essa minha volta se deve também a outras duas comemorações, não menos importantes. Dia 02 de dezembro completei quatro anos escrevendo em blog. O que não é pouco. Desses quatro anos o que aprendi não é brincadeira. Chega a ser clichê ter que novamente citar o quanto esse período foi especial e determinante para me tornar um ser humano melhor. O outro fato é que dia 06 estou ficando mais velho. Ao todo são 24 anos de muito aprendizado, porém, ainda pouco pelo que o futuro me reserva. Por fim, fico feliz em retornar à escrever no blog. Nunca escondi meu desejo de voltar. Uma nova e longa temporada me aguarda por aqui. Espero que tudo dê certo. Carinho a todos.