Um Beija sem Flor, uma vida sem Amor

26 de julho de 2008

Para: Flor



Na vibração esvoaçante das folhas
Recaio meus olhos em sonhos.
E sonhos que não fogem de mim,
De momentos que desejo pra mim.

Não aperto mais meu coração.
A fragrância que sinto ao redor
é muito mais firme, embora doa sem dó.
Eu quero sentir a sua vibração.

Na noite alimento a chama tremulante
que baila por entre meus afetos,
e reside distante, como uma doce ilusão.
Sem o seu amor não é bastante.

Muitas belezas incorporam meu ser,
mas nenhuma me dá mais prazer.
Sinto-me incompleto, sem destino pra ir.
Poupe minha vida, sua luz não me faz cair.

O que busco está além do que posso ver.
Não está apenas nos versos de uma dor,
nem na pureza de um coração.
Meu vôo necessita de uma motivação.

O que quero é um lugar pra aterrissar,
onde meu afeto e meu amor possam repousar.
E que seja esse lugar o seu colo, o seu olhar.
Quero nos teus braços, todo dia acordar.

Sou um Beija solitário. Vivo em busca de ti, Flor.
Pra completar a minha vida e sentir o seu sabor.
Encontrei essa essência no teu resplandecer.
Por favor, não me deixe morrer.

A minha felicidade está atrelada à sua.
E só me motiva viver se tiver ao lado de mim, você.
Se não puder estar do seu lado, não há como viver.
Um Beija sem Flor, é como uma vida sem Amor.


Assinado: Beija.


*Poema extraído de uma das cartas do Beija para Flor.



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Aspas do Autor: Com esse poema fecho minhas considerações ao conto do Beija e Flor, que particularmente me tocou profundamente. Agradeço a todos pelos lindos e sensíveis comentários sobre o conto do Beija e da Flor. O que eu não imaginava é que ele fosse me afetar tão intensamente. Acreditem, mas fiz despretensiosamente, e agora observando, me surpreendo com o meu coração e com tudo que pude expressar. O conto em si meus amigos tem muito de mim e do que sinto. O comentário da Mary foi correto. O Beija tem muito de mim, do que sinto, e do que sonho e desejo, anseio pra mim. No fundo mesmo, eu me coloquei na pele do Beija, eu me transportei para a história. Sou sensível e ninguém vai me tirar o que mais admiro e cultivo em mim mesmo. Pra mim o amor está além do óbvio, está perceptível em tudo, até em pequenos detalhes, que a gente só consegue enxergar na alma. Fora que eu amo incondicionalmente contos de fadas. Da mesma maneira que o Beija, eu necessito também de uma flor. Hoje me sinto incompleto também. Acho até que já tenha encontrado essa flor, embora o destino tenha nos separado. Coisas da vida, coisas incompreensíveis. Hoje estamos cá e ela lá. A certeza que eu tenho é que ainda reside aqui dentro resquícios do seu sorriso, de seu olhar, seu jeito de rir e de me encantar. Ainda sinto sua fragrância. Mas caminho hoje sem saber pra onde vou, sem saber aonde chegar. Espero ansiosamente minha flor encontrar.
Quem não leu a história, é só conferir meus dois textos anteriores.
Meu carinho a todos. E me desculpem se me excedi nas minhas últimas considerações ao conto. Como repito, ele me tocou profundamente...
Felicidades a todas as Flores e Beijas por aí.

A menina que recebia cartas

19 de julho de 2008

Final



Beija. Esse era o nome do remetente. Escrito lindamente, como se tivesse sido desenhado. Ela inesperadamente abriu um largo sorriso, bastante impressionada e tocada. Era uma carta do Beija para a Flor. Ela se emocionou intensamente, e abriu a carta. Quando começou a ler, não conteve a emoção. Seus olhos marejaram ante tanta delicadeza e sensibilidade nas palavras escritas ali naquele papel um pouco amassado. Jamais vira coisa igual. Era diferentemente escrito. Não falava apenas de sua beleza, mas o Beija enaltecia a pureza que se envolvia em seu jeito de sorrir, na sublime magia que brilhava pelos seus olhos verde-cintilantes, na sua fragrância deliciosa, e em sua voz idílica e apaixonante. Não era superficial.

Ali estava escrito sobre sua doçura e candura encantadora, em seu jeito amoroso e afável nos gestos, na feminilidade e simplicidade que ela despertava. O Beija escrevia de uma forma totalmente diferente dos outros. Ele sim olhava com o coração, e percebia no âmago dos sentimentos dela, a verdadeira beleza, aquela que ficava além do fundo de seus olhos, pra além do pulsar do coração, e de toda alma. Ela tinha encontrado as palavras que tanto buscava. Por intuição, foi revirando as cartas que ela nunca leu e lá encontrou mais cartas do Beija. Em sua tristeza, deixou de encontrar a carta dele, que desde que ela parou de ler, começou a chegar. Ela lamentou.

Foi abrindo as cartas e lendo. Eram uma mais linda que a outra. Não conseguia conter as lágrimas, que caíam incessantemente. Achou encantador ler palavras sobre ele também. O Beija se declarava alguém que tinha descoberto tanta coisa bonita, tanta coisa maravilhosa, ter sentido coisas fabulosas, ter vivido sensações únicas, ter conhecido pessoas incríveis. Mas se achava incompleto, logo que não tinha de fato o que superava todas as coisas maravilhosas que já viveu ou sentiu, e que era o amor de uma menina doce, meiga, delicada e tão feminina chamada Flor. Ela corava de emoção ao ler tanta palavra doce. Então ficou a noite toda ali, abrindo uma por uma, centenas de cartas do Beija para ela, Flor. Numa das cartas ele dizia que se quisesse encontrar ele, era só ir ao Parque das Flores, no período da manhã. Ali residiam seus sonhos e seu sublime amor. Ao ler isso seu coração disparou.

Ela nem dormiu direito. No dia seguinte, mal o sol raiou ela partiu em direção ao parque, como que uma borboleta impulsionada pelas cores do céu. E parecia saltitar de alegria, ostentando uma beleza tão ímpar, simples e ingênua, mas muito cativante. Ao chegar ao parque, ainda praticamente vazio, por ser muito cedo, procurou por todos os lugares alguém que pudesse ser o seu apaixonado. Ficou andando por entre as árvores do bosque, olhando pra lá e pra cá, até que uma hora, um rapaz surgiu por trás de uma árvore. Estava segurando uma flor e sentindo sua fragrância. Era um pouco mais alto que ela, moreno, cabelos castanhos ondulados, olhos pretos, de porte atlético, trajando roupas simples e brancas, com uma aparência singela, sincera, que inspirava confiança.

Os dois se entreolharam espantados. Ele meio incrédulo pensou ser um sonho. Depois de alguns minutos ali, mudos, foi ela quem dissipou o silêncio:
­­– Beija? Seu coração palpitava forte. Ele encantado, sorriu docemente e também indagou incrédulo:
Flor? Ela sorriu neste momento, balançando a cabeça positivamente, deixando lágrimas discretas caírem pelo rosto.
Eu fiz bem em não deixar de acreditar que um dia você viria. E ele começou a chorar de emoção. Ela meio sem ação se emocionou também e com muita dificuldade falou:
Você é tão... – a emoção a fazia soluçar – és tão sensível e verdadeiro.
Eu amo flores. E tu és a mais perfumosa de todas as flores. A que eu mais quis amar e não tinha próxima de mim e do meu colo. Desejei este momento durante muito tempo. Agora fico até sem jeito.
Ela encantada com suas doces palavras, também confirmou:
Eu também. E disse ao olhar pra ele de uma forma tão acolhedora. Houve uma troca de olhares significativos entre os dois do tipo “quero teu beijo”. Algo mágico se instaurou ali no bosque do parque. Os dois se aproximaram, lentamente, como se tivessem hipnotizados. Os lábios queriam, e ficaram tão próximos que quase se beijaram. Ele então sussurrou algo pra ela:
Sentia-me incompleto. Nada era tão significante com a sua ausência. Era como ter sede e não ter água; ter fome e não ter o que comer; ter frio e não ter com o que se aquecer; vibrar e não poder sorrir. Flor, minha linda, sem você não sou nada. Para continuar a viver, preciso do seu amor. Porque não há Beija sem Flor.
E docemente se entregaram ao primeiro beijo de um amor puro, intenso e eterno.

A menina que recebia cartas parou de receber cartas. Beija continuou escrevendo pra Flor. Os dois viveram muito felizes, sustentados por um infinito e belo amor.

FIM



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Aspas do Autor:
Espero que tenham gostado desse conto singelo de amor. No fundo ele revela um pouco da minha mente sonhadora e apaixonada. Amo muito tudo isso. E podem esperar mais contos pela frente. Mal comecei a escrever nesse blog. E aguardem que próximo sábado é a vez dos poemas. E pra começar será baseado nessa história. Meus amigos, uma gloriosa semana a todos. Até logo. Ah, pra quem comenta no Haloscan, eu respondo os comentários. Respondi a todos os comentários dos textos anteriores. Se quiser é só conferir. Meus carinhos.

A menina que recebia cartas

12 de julho de 2008

Parte 1



Chamava-se Flor. Era uma menina graciosa, não muito magra, estatura baixa de pele branca, cabelos loiros brilhantes e olhos verde-cintilantes, bastante expressivos. Tinha um carisma radiante, era imensamente linda e fragrante como uma rosa. Tinha um jeito terno, inocente, meio menina, um pouco mulher. Era educada, recatada e tímida, quase não saía de casa, conhecia bem pouco do ambiente que a cercava. Tinha poucos amigos e era um mimo para seus pais. Sua beleza fascinava todos que a vissem e desde muito cedo adquiriu muitos admiradores. Todos secretos.

Ela recebia cartas de todos os tipos e tamanhos, nas mais variadas cores, azul, branco, preto, vermelho, contendo todos os tipos de palavras de amor, e todas tão cheirosas e incrivelmente bem escritas, por variadas caligrafias. No início ela adorava e amava todas sem distinção, e corava de vergonha ao ler tanta coisa linda, sublime. Pra tristeza dela, nenhuma jamais teve o nome ou endereço do remetente. Ela jamais conseguiu descobrir nem indícios de quem seriam. Desconfiava de poucos amigos na escola, mas nunca teve certeza. Com o passar dos anos ela ficou conhecida como a menina que recebia cartas.

Seus pais falavam pra ela não alimentar ilusão. Diziam que só agiam assim por causa de sua beleza, e que as cartas em sua maioria eram superficiais e não atingiam o âmago do coração. Flor, apesar de ter sido embalsamada por um romantismo sem igual, aos poucos, e com o passar do tempo foi se resignando. E mais ainda ao compreender o que os pais diziam. Depois de muito tempo, entendeu até que ponto as cartas eram superficiais. As cartas não paravam de chegar, e todas apenas enalteciam o que era tão evidente nela: a beleza.

Flor, aos poucos foi procurando mais que isso. Queria algumas palavras que falassem dela verdadeiramente, com mais apelo sensível, profundo e romântico. Mas não encontrava sequer uma palavra que delineasse o que ela fosse por dentro, o que ela sentia, inspirava e o que sua presença proporcionava. Só tinha palavras falando do quão era linda. Cansou. Quanto mais entristecia, mais cartas chegavam, e aos poucos parou de abrir as cartas, profundamente frustrada com tudo aquilo. Passou muito tempo, ela amadureceu, cresceu, e as cartas continuavam a chegar. Ela não abria mais. A menina que recebia cartas, agora só as guardava, não lia. Tornou-se indiferente e decidiu continuar vivendo em paz, crescendo e estudando.

Certo dia, no recreio da escola, estava sentada distante de todos, quando sentiu alguém se aproximar. Era um menino, que vinha com as mãos pra trás, tremendo, quase cambaleando. Ele ficou na frente dela. Ela ficou sem ação, fitando o olhar dele, decidido. Ele depois de alguns minutos projetou a mão em sua direção para dar algo. Pra seu misto de espanto e curiosidade, era uma carta.
- Pra você menina. Mandaram te entregar.
- Quem, quem?
Intrigada, Flor perguntou ao garoto. Mas ele logo depois saiu correndo, como se não tivesse escutado.
Ela ficou ali espantada fitando uma carta branca, meio envelhecida. Ficou desconcertada, ao mesmo tempo curiosa.

Ela olhou e se lembrou das cartas, das palavras, e pensativa chorou uns minutos. Ela ao menos tinha ficado impressionada com a atitude desse novo admirador, que até hoje foi o único que teve coragem, se comparando aos outros, de entregar mais diretamente. Olhou atentamente à carta por cima. Era branca encardida, simples e humilde, bem diferente de todas. Mas não deu muita importância. Com certeza era tão superficial quanto às outras.

Mais tarde ao chegar em casa, jogou-a no monte de cartas acumulado. Mas foi pro banho pensando nela. E não conseguia parar de pensar. Ela não sabia como explicar, mas sentia que aquela carta era bastante especial. Depois do banho foi até o monte de cartas e a viu lá em cima das outras. Alguns minutos depois pegou a carta que o garoto lhe deu. Ficou tateando alguns minutos. Agora observando com mais cuidado, pra sua imensa surpresa, viu que tinha remetente. Seus olhos brilharam ao ler a linda caligrafia.
Como por impulso, decidiu abri-la.

continua...



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Aspas do Autor:
Me recorreu de fazer há uns dias atrás esse conto, mais ou menos com esse roteiro, e saiu assim, em poucos minutos uma bonita história e um poema (que publicarei posteriormente). O curioso é que no momento em que escrevia o fim eu mesmo me surpreendi. Particularmente achei lindo. No próximo sábado vocês conferem o final, que é surpreendente. Meu carinho à todos.

Ainda dá

5 de julho de 2008


“Mesmo que digam o contrário, ainda é possível sentir o frescor da vida nos tocando”



A vida ao nosso redor está agonizando. Está refém do ser humano, de todos que ferem a essência e esse sentido de viver. Mesmo cientes dessa dor, dessa angústia calcada, que se dispersa sobre os nossos olhos tão intensamente a cada dia, ainda somos capazes de enxergar um brilho, mesmo que pequeno por detrás da dor. Mesmo com tudo que nos cerca, ainda podemos sentir. Mesmo com todos os problemas nos entorpecendo, o estresse do dia a dia tomando conta da gente, é possível sentir. Apesar dos tempos nebulosos, dos dias sem sol, ou das noites sem lua e sem sono, ainda dá de perceber, de apurar, de ver aquele fio de vida pulsando pelo ar.

É só pararmos por um instante, esquecer os problemas, sentar e respirar profundamente, se banhar de calmaria e então fechar os olhos, apurar os sentidos. Ainda dá, mesmo com essa torrente de escuridão assolando o mundo, mesmo com esse barulho incessante e ensurdecedor, e as dores nos aniquilando, ainda é possível ouvirmos o som da vida, aquela sinfonia pacificadora, amorosa e extremamente formosa, repleta com uma doçura sem limite. Se apurarmos bem ainda é possível, mesmo entre tanta imagem monocromática, encontrarmos uma policromia de sentimentos e emoções, e ilustrações de um amor puro, divino e extasiante. Ainda somos capazes de notar, mesmo tão escassos, uma quantia de esperança, uma ponta de alegria, de amor sincero, daquela pureza que reflete e liberta.

Se apurarmos bem, sentiremos ainda essa presença cálida, aconchegante e carinhosa e pulsante em nossa vida. Ainda dá, e basta querer, que então se tornará fácil notar naquele som do vento frio resvalando nas folhas das árvores, o espetáculo vivo por onde vivemos. Mesmo que não aparente, ainda dá de sentir a natureza viva nesse ciclo de dores, e ainda que o mundo esteja parecendo um circo de horrores, ainda dá de olhar para o céu e ver a profundidade no azul do céu, na energia das nuvens que voam sobre nossas cabeças, e em todo o verde do ambiente, das cores da flora e na diversidade da fauna. Escutando o sibilar dos pássaros, e toda aquela melodia envolvente no ar, na luminescência das águas cristalinas, no calor das chamas, ainda dá pra distinguir o sangue percorrendo pelas veias da vida.

Ainda dá, e basta olhar para o céu estrelado, praquela noite poética, e enxergar naquele cintilar das estrelas, naquele brilho do luar, toda a essência e magnitude existente ao nosso redor. Basta ter vontade, que ainda dá pra sentir, ver e ouvir. Ainda dá pra sorrir, se alegrar e amar. Ainda dá de correr, de vibrar, na essência compartilhar, abraçar e se confortar. Ainda dá pra ter essa presença da paz, do bem querer e da paixão, da simplicidade e cumplicidade, do amor no coração. Ainda que exista a dor, e toda angústia e agonia; ainda que estejamos à beira de precipícios, do incerto e da clausura; ainda que quase não existam mais sentimentos verdadeiros e sinceros. Ainda dá, mesmo com uma escuridão nos abraçando, de pressentir a boa nova, aquela certeza, e aquela luz. Mesmo sendo poucos, é possível encontrarmos pessoas que nutrem sentimentos bons, verdadeiros e intensos. Mesmo que a vida esteja morrendo, ainda dá pra ter esperança e fazê-la ressuscitar, transformando o mundo num lugar melhor pra se viver.

Ainda dá para acreditar.



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Aspas do autor:
Agradeço de coração a quem depositou seu carinho no texto anterior, que marcou a estréia desse novo blog. Vieram amigos de longa data e alguns que fiz recentemente. E pra mim foi muito bom sentir esse calor humano novamente, esse afeto sincero e terno de pessoas maravilhosas, que me acolhem carinhosamente. Sentia saudades disso. No mais, queria dizer que farei todo o possível para estar aqui todo sábado. Abraços à todos.